Juventudes partidárias em total descrédito

Henrique Raposo, na sua crónica intitulada «Wise Guy Tuga», publicada no Jornal “Expresso” de 27.02.2010, informa o Dr. Pinto Monteiro (Procurador-Geral da República) de que vai “entrar na vida do crime”:

«(…) O plano começa assim: amanhã, vou inscrever-me numa juventude partidária. Nessa excelsa organização juvenil, irei aprender a dobrar todas as regras. Caro dr. Pinto Monteiro, se não sabe, fique já a saber: a juventude partidária é a incubadora da amoralidade política reinante. A juventude partidária é uma espécie de recruta para os comportamentos amorais dos futuros governantes. E, meu caro, atente bem no termo ‘amoral’. Porque, ali, na juventude partidária, irei aprender a fazer coisas imorais sem sentir culpa ou remorso. Ou seja, irei aprender a ser amoral. Mais tarde, esta ferramenta mental ser-me-á preciosa quando for preciso mentir com ar de anjinho no Parlamento ou na televisão.

Depois desta recruta, passarei a fazer as campanhas dos meus generais (nesta fase, deixarei de ser um menino e passarei a ser um boy). Durante essas sinistras batalhas eleitorais, ganharei a confiança do marechal. Uma vez no poder, esse marechal colocar-me-á numa daquelas empresas que ficam naquele beco escuro onde podemos ver a prostituição da política e dos negócios. Qual empresa? Olhe, não sei. Não sou esquisito, nem careço de golden share. Contento-me com uma empresa municipal. Nesse barraco do poder local, poderei assumir, finalmente, a pele de traficante de influências. Com essas traficâncias, ganharei imenso dinheiro e os meus chefes receberão benesses sem fim.(…)»

No actual estado das coisas no nosso país, não posso estar mais de acordo e de subscrever cada palavra ou expressão de toda a crónica.

Longe vai o tempo em que as juventudes partidárias eram essencialmente um alfobre sério de futuros quadros políticos competentes e responsáveis, mais com preocupações de formação e de intervenção política e cívica (para além da intervenção partidária, claro está) do que com a procura de inclusão em “listas de candidatos” (em qualquer eleição), de lugares pagos a peso de ouro ou de quaisquer outras benesses…

Recordo-me que Sá Carneiro dizia que a JSD (a daquele tempo!) era a consciência crítica do PSD!

Eram tempos em que se faziam as campanhas eleitorais (subir a postes, colar cartazes, agitar bandeiras, animar festas, conduzir viaturas, etc.), sem qualquer tipo de remuneração. Umas sandes ou umas “pataniscas” com um sumo ou uma cerveja, ao fim do dia, e ficávamos com a sensação do dever cumprido. Deitávamo-nos às 2h e às 8h estávamos prontos para mais uma jornada.

Não era preciso fazermos parte das “listas” para termos tempo disponível para acompanharmos os candidatos. E hoje? A militância está esgotada… imperam os interesses meramente pessoais!

Quando iniciei a minha actividade partidária, com 23 anos, formação académica terminada e situação profissional definida, já tinha iniciado, há quase sete anos atrás e em diversas áreas, a minha actividade de intervenção cívica. Já sabia o que era a realidade da vida…

Agora, muitos há (que não todos, verdade seja dita!) que teimam em querer fazer carreira política sem antes nada terem provado nem verem a sua eventual actividade ser reconhecida por quem quer que seja. Muitas vezes nem nas próprias estruturas partidárias conseguem singrar por eles próprios, e se conseguem algo é apenas porque caiem em graça, ou armam-se em engraçados, junto de alguém influente ou com poder…

Estes, por si só não conseguem ser eleitos para administrador do respectivo condomínio. Precisam e sempre precisarão de “bengalas”…

É certo que não se pode confundir a árvore com a floresta. Mas pela montra se vê o que há em armazém. E não é nada confortante nem que nos dê alguma esperança para o futuro o que os partidos têm para nos dar em termos de alguns novos “quadros políticos”.

E o maior problema, é que, depois, não podemos responsabilizar os verdadeiros culpados desta situação. Mentira: poder, podemos, pois culpados somos todos nós os que, dentro das estruturas partidárias não conseguimos afastar o que não presta!

Muitos dos ‘jotas’ que hoje usam e abusam das respectivas posições nas estruturas partidárias, mais não fizeram do que desbaratar um capital de crédito político amealhado ao longo de alguns anos, logo após o 25 de Abril, por muitos e muitos outros ‘jotas’!

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