A Freguesia de Andrães vista cerca de 1943

Andrães - Cruzeiro


Freguesia de Andrães

“A freguesia de Andrães, que ocupa, uma área grande, pertenceu em tempos ao Infantado com a comenda na casa dos Marqueses de Valença.

D. Sancho I mandou a povoar em 1200, cedendo-lhe foral em 1208 e dando-lhe por nome Andranes.

Pertencem a esta freguesia as povoações de: Fonteita, Jorjais, Magalhã, Mosteirô, Póvoa, Regada, S. Cibrão, Telheira e Vessadios.

É atravessada pelo rio Tanha, que a divide em duas partes, o que já deu ensejo a querelas, pretendendo os povos da margem esquerda formar uma freguesia independente.

Nesta região abunda o xisto havendo também algum granito.

O terreno e, em geral, de uma grande fertilidade e, na sua grande extensão, possui abundantes culturas.

Produz vinho que, na encosta de Mosteirô, é excessivamente alcoólico, e de baixa graduação em outras terras.

Apesar de possuir excelentes terrenos para essa cultura, os seus habitantes não se dedicam deveras a ela.

Produz também e com uma certa abundância, azeite de excelente qualidade, milho e, em menor escala, centeio e batata.

Muitos agricultores - especialmente em Fonteita e Magalhã - dedicam-se à criação de gado.

A freguesia de Andrães é a maior fornecedora de Vila Real em madeiras que são vendidas,
para combustível no seu mercado.

Os terrenos incultos de Andrães e Fonteita, quase cobertos por extensos pinhais, são para os seus proprietários fonte de receita um pouco rendosa.

A sua população, de 1965 habitantes, é modesta e sem grandes ambições.

Com um nível de vida baixo, como é o do nosso país, não é possível haver aquele desafogo próprio das nações ricas e é essa a razão porque os seus habitantes lutam com bastantes dificuldades.

Está em vias de realização uma estrada municipal, em comparticipação com o Estado, que partindo de S. Cibrão passará por Regada, Vessadios e Fonteita ligando com Abaças e Jorjais, e está-se procedendo à construção de uma grande estrada que, partindo de Vila Real, atravessará a freguesia de Andrães terminando no lugar de Estrada depois de passar em Abaças.

Assim, o tráfego, que era, de Abaças a Guiães, dirigido de preferência para a Régua, passará de futuro a ser derivado para a sede do concelho.

Acerca de monumentos, não há coisa alguma desta freguesia a mencionar. A própria igreja matriz é modesta e pobre.

Como existem poucas igrejas, os habitantes das povoações mais afastadas, tais como: Fonteita, Magalhã, Vessadios e Jorjais têm de percorrer grandes distâncias para poderem cumprir os seus deveres religiosos.

O mesmo acontece com as escolas. Numa freguesia grande como esta e onde vive um número bastante elevado de crianças em idade escolar, apenas existem quatro escolas mistas o que obriga essas crianças a percorrerem distancias enormes se quiserem receber o ensino elementar.

Existiu, em tempos, a indústria de cal num lugar chamado Fornos, situado perto do rio Tanha,
indústria que hoje se encontra abandonada.

É nesta região, muito acidentada por sinal, que se produz um vinho famoso e onde crescem muitos sobreiros cuja cortiça e vendida para os centros comerciais e exportadores

Nesta freguesia, alem de extensos pinhais, existiam também grandes soutos, mas um grande número de castanheiros foi atacado por doença desconhecida e foram secando sem terem sido substituídos.

Este facto é para lastimar, tanto mais que a castanha, sendo, como é, um bom alimento, serve em grande número de casos, como substituto da batata.

Em toda esta região a caça e abundante, especialmente em perdizes e coelhos.

No rio Tanha, as águas são aproveitadas para porem moinhos em movimento e, nas suas «levadas» de captação, cria-se grande quantidade de saboroso peixe, a qual tem ultimamente diminuído muito por falta de policiamento dos rios que impeça a sua destruição.

Como sucede, em geral, no nosso país, a agricultura nesta freguesia, ressente-se da pobreza dos terrenos, da falta de boas sementes e de uma propaganda bem orientada e prática, que levasse o nosso lavrador a abandonar preceitos de lavoura que hoje se não admitem.

É pela acção bem dirigida dos Grémios da Lavoura, pelos seus serviços técnicos, que este mal se debelara, dando à Lavoura não só os conhecimentos que a prática indica, como também fornecendo-lhe sementes e adubos garantidos e nas melhores condições de custo possíveis.

Assim, o tratamento das fruteiras e a colocação de frutas no mercado do Porto, são serviços já criados e que podem ser de grande préstimo para a Lavoura, se esta se convencer da sua eficácia pondo de parte a rotina e confiando em serviços montados com toda a garantia.

***

Os povos da freguesia de Andrães são simples mas honestos.

Todavia, tempos houve em que no lugar da Ponte Pedrinha, perto de S. Cibrão, nuns terrenos cavados de profundos barrancos, se acoitavam quadrilhas de salteadores que eram o terror
daqueles sítios

Hoje, há quem, ao passar perto daqueles lugares, se descubra com respeito em sentida homenagem e pelo eterno descanso dos que ali perderam a vida.”

In “Concelho de Vila Real”, Julho de 1943 – Bandeira de Tóro (texto editado e adaptado)

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