Os "Cabos" e os Ascensoristas!
Conta-se, como anedota, que um certo Presidente de um
país subdesenvolvido (dito do Terceiro
Mundo), tendo visto, num hotel de Lisboa, um senhor entrar numa “porta”
(cuja finalidade o Presidente desconhecia) com uma senhora “pouco dotada de
beleza” já com bastante idade, e sair, pouco depois, com uma bela
jovem pelo braço, lamentou não ter trazido a esposa.
Quando lhe explicaram que aquela porta dava acesso ao
elevador do hotel, que o senhor tinha ido acompanhar a esposa ao quarto, e que
agora acompanhava a filha, o dito Presidente ficou intrigado, e quis saber como
é que o elevador funcionava.
Disseram-lhe, então, que o elevador era uma espécie de
caixa, que transportava os clientes de um andar para outro.
“E quem é que puxa o elevador?” – perguntou o
Presidente.
“São uns cabos.” – respondeu um dos
acompanhantes.
“Quero que me digam já os nomes desse Cabos para eu
pedir ao vosso Presidente que os promova a Capitães!” – decidiu o
Presidente.
É uma anedota.
Mas, na vida quotidiana, há muitos
“cabos” que mais não fazem que ajudar este ou aquele a “subir” e a vencer, muitas
vezes sem um simples “obrigado”.
No entanto, mesmo sem o reconhecimento de quem quer
que seja, nem dos próprios beneficiados, esses “cabos” continuam a
trabalhar, de consciência tranquila e com a vontade de SERVIR o BEM COMUM, sem
serem subservientes, e com a vontade de COLABORAR com TODOS, sem deixarem de
ter opinião própria.
Mas não é por causa destes “cabos” que seu hoje
escrevo esta crónica.
É por causa de outros que, apenas carregando num
botão, recebem os agradecimentos de toda a gente – são os ASCENSORISTAS!
O verdadeiro trabalho de “puxar” e de “descer” o
ascensor (que raio de nome! Muito me custa pronunciá-lo…) é feito pelos “cabos”
no anonimato próprio de quem apenas se preocupa com a tranquilidade de
consciência pelo dever cumprido.
Mas os ASCENSORISTAS não.
Sem fazerem quase nada, insinuam-se aos clientes e
“passageiros” dos Elevadores, estendendo as mãos às gorjetas, e recebendo, com
indisfarçável mas merecido “orgulho”, os agradecimentos desses mesmos
“passageiros”.
É contra estes ASCENSORISTAS que eu luto, e sempre lutarei.
Causa-me náuseas quando vejo alguns indivíduos a “usarem e abusarem” do trabalho dos outros, como vezes apresentando-o como seu.
Hipócritas! Assim
não pode ser.
É preciso reconhecer as pessoas que, com a sua
competência e capacidade de trabalho, aliadas a uma enorme vontade de SERVIR,
têm mostrado trabalho em benefício de TODOS, e não dar crédito às vãs
promessas de “melhores espelhos nos elevadores” ou de “aquisição
de novos aparelhos virados para o futuro”, que mais não são do que insinuações
dos ASCENSORISTAS.
O verdadeiro trabalho em benefício das PESSOAS tem sido executado pelos “cabos”, pelo que, penso que é justo, estes merecem ser promovidos.
O modo de promoção ficará ao critério da consciência de cada um, quando chegar o momento.
JP
Nota: Texto publicado no jornal LAMEGO HOJE – 30.01.1997