Ponte de Torneiros (Arroios) – é medieval ou não?

Ponte de Torneiros ou Ponte de Sobreiro (Arroios - Vila Real)
sobre a Ribeira de Toirinhas (Tourinhas)

No sítio do SIPA (Sistema de Informação para o Património Arquitectónico) a ponte conhecida entre os vila-realenses como “Ponte de Torneiros”, sobre a Ribeira de Toirinhas ou Tourinhas, está identificada como “Ponte do Sobreiro”, tendo como acesso: EM 1238 entre Vila Real e Constantim, na povoação de Torneiros, R. Engº Joaquim Botelho de Lucena.

Apresenta a seguinte descrição:

“Ponte de tabuleiro em cavalete assente num arco de volta perfeita. As guardas laterais são formadas por duas fiadas que acompanham o movimento do tabuleiro apresentando a inferior alguns olhais. O pavimento visível é de terra batida.”

O autor do registo no SIPA (Ricardo Teixeira, 1996), com base na Carta Arqueológica do Concelho de Vila Real, Ervedosa, Carlos Manuel Nascimento Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 1991, p. 68., refere que a época de construção é medieval (conjectural), sendo desconhecido o arquitecto, construtor ou autor.

No entanto, Joaquim J. B. Ferreira Alves, em “Matias Lourenço de Matos, mestre pedreiro de Vila Real no século XVIII (aportações documentais para o estudo da sua actividade)”, faz referência a um documento datado de 3 de Fevereiro de 1772 (dia de S. Brás), que diz o seguinte:

“«Escritura de suciadade que fazem Mathias Lourenço de Mattos mestre pedreiro desta Villa com Jozé Ribeiro e Francisco Rodrigues ambos desta mesma Villa»

«escritura de suciadade da obra da ponte dos Torneiros seburbio desta Villa [...] Mathias Lourenço de Mattos Jozé Ribeiro e Francisco Rodrigues todos mestres pedreiros desta mesma Villa Real [...] e pello dito Mathias Lourenço de Mattos foi ditto (...) que elle havia rematado na prasa publica desta mesma villa a obra da ponte que se manda fazer no sitio da ribeira de Vila Nova e Torneiros seburbio desta mesma Villa perante os senhores ouvidores do Senado da Camera que atualmente servem nesta mesma Villa comforme os apontamentos e planta da mesma obra que tudo elle dito Mathias Lourenço de Matos asinou que se acham em poder do escrivam da mesma Camera Joaquim Jozé da Silva Braboza e Souza de que tambem assinou termo de arematação que foi lavrado no livro das remataçons da mesma Camera com os ditos veriadores em preso e quamthia de sento e sesenta mil reis [...) os senhores do Senado tem de mandar conduzir por sua conta toda a pedra que for nesesaria para a mesma obra». Testemunhas: José Alves Teixeira e Antonio Botelho Correia.

(A.D.V.R., Livros de notas, m. 43, n.º 90, fls. 172 v.-174)

De acordo com este documento, Matias Lourenço de Matos, mestre pedreiro de Vila Real, arrematou em leilão público à Câmara de Vila Real a construção da Ponte de Torneiros, “no sitio da ribeira de Vila Nova e Torneiros”, o que fez em sociedade com os mestres pedreiros José Ribeiro e Francisco Rodrigues, também de Vila Real, pelo preço de cento e sessenta mil réis.

Facto curioso, “os senhores do Senado” ficaram com o encargo de mandar transportar para o sítio de construção da ponte toda a pedra necessária para o efeito.

Assim, a Ponte de Torneiros ou Ponte de Sobreiro, sobre a Ribeira de Toirinhas, terá sido mandada construir em 1772, pela Câmara de Vila Real, tendo o serviço sido executado pelos mestres pedreiros de Vila Real, Matias Lourenço de Matos, José Ribeiro e Francisco Rodrigues.

Ou será que não é a mesma ponte?

Efetivamente, e segundo a opinião do Dr. Vítor Nogueira, a ponte mandada construir, em 1772, pela Câmara de Vila Real “deve tratar-se daquela a que veio a chamar-se Ponte de Tourinhas (hoje funcionalmente muito alargada e escondida pela Praça da Galiza), porque a Ponte de Torneiros foi construída em 1758, como dá conta o testemunho do Pároco de Folhadela no âmbito das chamadas Memórias paroquiais.

Antes de 1758, havia uma ponte de madeira no mesmo sítio. Era a estrada medieval para Constantim, seguindo depois pela Ponte Pedrinha para Sabrosa.

Grato pela opinião, fundamentada, que foi transmitida, e que aqui transcrevemos, com a devida autorização.

JP

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