O Chafariz Metálico | Chafarizes e fontes em Vila Real
O Chafariz Metálico na Praça Luiz de Camões |
O chafariz que
actualmente se encontra [encontrava] na Praça Luis de Camões
tornou-se quase um ex-libris da cidade. Mas a sua primeira instalação, em 1891,
ocorre em frente da Igreja de São Domingos, sensivelmente a meio da
artéria que hoje conhecemos por Avenida Carvalho Araújo.
Construído na
Fábrica do Bolhão, o Chafariz Metálico veio substituir o velho Chafariz
do Tabulado, que em 1532 mandara fazer D. Pedro de Castro.
A sua aquisição
deve ser entendida no contexto de uma série de melhoramentos importantes que
Vila Real fica a dever a gestão municipal de Avelino Patena, um jovem e
fulgurante político que, com apenas 23 anos de idade, se torna o candidato mais
votado nas eleições para a Câmara realizadas em Novembro de 1889.
Patena toma
posse do cargo de presidente da autarquia em 2 de Janeiro de 1890. Contudo,
vítima de forte perseguição política, vai aguentar-se à frente dos destinos do
concelho apenas 16 meses.
Ainda assim,
durante este curto período consegue uma prestação fora do comum, de tal forma
que duas décadas mais tarde ainda se considera não ter aparecido na Câmara de Vila
Real um substituto à sua altura, apontando-se a falta de obra das vereações
seguintes.
Durante a sua
presidência desencadeia-se o arranjo urbanístico do Campo do Tabulado,
cria-se o chamado Jardim das Camélias, dá-se início ao pioneiro processo
de introdução da luz eléctrica em Vila Real, avança-se na construção do Bairro
de Santo António e na melhoria do Jardim da Carreira, funda-se a Corporação de Bombeiros Voluntários (da qual Avelino Patena é primeiro comandante) e,
como disse, adquire-se o Chafariz Metálico.
Aliás, na mesma
semana em que a Corporação dos Bombeiros Voluntários inicia formalmente
a sua actividade chega a Vila Real o novo chafariz.
«É muito elegante e [...] há-de
produzir bom efeito» 180 - escrevia-se n'O Distrito de Vila Real.
Corriam os
primeiros dias de 1891.
A instalação do
novo fontanário vai-se processando nos meses imediatos, ao mesmo tempo que se
instala uma nova canalização em ferro fundido para substituir a antiga
canalização de pedra que desde a Idade Média (sofrendo embora sucessivas
reformas) servira primeiro o Chafariz do Rossio e, a partir do século
XVI, a fonte monumental que D. Pedro de Castro mandou construir.
Avelino
Patena fica, portanto, ligado ao terceiro chafariz que, ao longo dos
séculos, se instala no Campo do Tabulado.
Em 1905 aquele
que era o mais importante ponto de abastecimento de Vila Real totalizava na
estiagem uma produção diária de quase 20 metros cúbicos, isto é, mais de um
terço das águas públicas de que os vila-realenses dispunham.
Em 1919 a
principal artéria vila-realense recebe o nome de Carvalho Araújo. E sete
anos mais tarde a Câmara começa a pensar na hipótese de transferir o Chafariz
Metálico do centro da Avenida Carvalho Araújo para a Praça Luís de Camões.
Talvez venha a
propósito esclarecer que quando em 1880 Luís de Camões foi consagrado na
toponímia local, na altura em que se assinalava o tricentenário da sua morte, o
nome da respectiva praça abrangia uma parcela de terreno muito maior do que
actualmente, englobando também toda a parte do Campo do Tabulado que
ficava a norte do Largo do Pelourinho e da Travessa de São Domingos.
Retomando o fio
à meada: em 1926 começa a falar-se no interesse de transferir o Chafariz
Metálico da Avenida Carvalho Araújo para a Praça Luís de Camões, então já
limitada à superfície que hoje conhecemos por esse nome, não obstante as
grandes mudanças urbanísticas pelas quais, entretanto, foi passando.
Desde logo, a
ideia é «tirar do lugar em que ora se acham as aguadeiras, que dão uma nota
tristíssima ao local».
Nessa altura já
se anteviam os benefícios da rede de abastecimento de água que veio a ser inaugurada
três anos depois.
A partir daí, como
se compreende, o importante papel desempenhado pelas aguadeiras rapidamente se
dissipa. E, então sim, no princípio dos anos 30 ganha forma a transferência do Chafariz
Metálico para a Praça Luís de Camões.
Posteriormente,
e entrando pelos anos 50, a praça sujeita-se a terraplenagens e arranjos de
vulto, enquadrada por novos edifícios que vão sendo construídos, com destaque
para o Palácio da Justiça, inaugurado em 1956.
Neste contexto,
o chafariz desaparece da vista dos vila-realenses durante algum tempo.
Em 1957 é alvo
de uma ampla reparação, nas oficinas da Sociedade de Estruturas Metálicas do
Norte, que custou 70 contos aos cofres do município.
Dois anos mais
tarde entrega-se a uma outra firma o estudo e a montagem de um sistema
eléctrico de elevação de água, para, em seguida, se proceder à instalação do
chafariz no local onde hoje o encontramos [transferido já para o local
inicial].
Os três locais onde sucessivamente se instalou o Chafariz Metálico |
Obras de remodelação da Avenida Carvalho Araújo nos anos 30. |
Fonte: “Águas Públicas de Vila Real – do século XIII ao século XX”, Vítor Nogueira (com autorização do autor) (texto editado) | Imagem de destaque: Phototypia de A. Pinheiro – Guiães, c. 1910 – Reedição do Grémio Literário Vila-Realense, 2018 - Colecção de Elísio Neves