Da Alameda do Caminho-de-Ferro ao Jardim da Estação

Avenida da Estação e ponte sobre o Corgo - Vila Real

“Pelo menos desde o terceiro quartel do séc. XIX que se começaram a equacionar novas áreas de expansão urbana para Vila Real. Não era alheio a isso o crescimento demográfico; mas as razões principais seriam as deficientes condições de higiene e a insalubridade que se viviam na sede do concelho.

A opinião pública e os órgãos autárquicos dividem-se entre diversas soluções, orientadas quer para a margem direita, quer para a margem esquerda do Corgo.

Demos alguns exemplos.

Na década de 1870, e tendo como pretexto uma nova ponte sobre o Corgo, a localizar em Codessais, pensa-se em demolir uma parte significativa do Bairro dos Ferreiros e criar uma área de construção na margem direita do rio, que se estenderia até Codessais. A ideia não foi avante, sobretudo porque a população não via com bons olhos a demolição do Bairro dos Ferreiros.

Entre 1903 e 1904 surgem três novas ideias para a expansão urbana, duas delas também na margem direita do rio.

A primeira, de que foi responsável a Câmara Municipal de Vila Real, preconizava um bairro novo para São Dinis, orientado por uma rua que, partindo do edifício do Liceu, iria terminar defronte do cemitério público.

A ideia também não vingou, não só porque se tratava de uma localização que não permitia ultrapassar os problemas de insalubridade (a simples presença do cemitério o limitava), mas também porque a Câmara não dispunha das avultadas verbas que se tornavam necessárias, para a expropriação dos terrenos e para a construção, e ainda porque era uma área já um tanto periférica em relação ao centro da vila.

A segunda foi avançada por um empreiteiro local, António Rodrigues Romualdo, que propunha uma expansão orientada por uma avenida que partia do Pioledo e se estendia até Montezelos. Ele próprio se propunha oferecer terrenos e negociar preços razoáveis com os outros proprietários.

Não tendo prevalecido na altura, a ideia viria a concretizar-se em parte, mais de trinta anos depois, no âmbito da evolução do projecto do Bairro Novo da Cidade, à Boavista.

Finalmente, surgiu outra ideia, agora para a margem esquerda do Corgo e aproveitando as novas acessibilidades, como sejam a ligação ferroviária à Linha do Douro e a nova ponte que ligaria as duas margens do Corgo e facilitaria também a deslocação à futura estação do caminho-de-ferro da Linha do Vale do Corgo, inaugurada em 1906.

Nesta solução - que na altura vai prevalecer, embora sem resultados significativos, já que só na década de 1980 (com a conclusão do Bairro Dr. Francisco Sá Carneiro) se tornará realidade - foi investido muito dinheiro.

Aliás, os empreendedores muito rapidamente geraram uma especulação sobre os terrenos, obrigando a Câmara, alertada pela opinião pública e pela imprensa, a antecipar as negociações com os proprietários dos terrenos, de forma a garantir um espaço atrativo para os futuros empreendedores.

Também no início de 1903, o comerciante e vereador Custódio Correia Pereira, propôs em reunião de Câmara que se procedesse ao levantamento de uma planta topográfica dos terrenos imediatamente a seguir à nova ponte, na altura praticamente construída (foi inaugurada em Maio de 1904, embora só em Maio do ano seguinte aberta ao trânsito de veículos).

Em Março de 1903 terminaram os trabalhos de reconhecimento e replantação do traçado da linha-férrea entre a Régua e Vila Real, conservando-se a estação praticamente no mesmo local do projeto de 1897, de António Luís Gomes Branco de Morais Sarmento.

Dizemos praticamente, porque, em relação ao projeto inicial, foi ligeiramente deslocada para poente, evitando dessa forma a expropriação de um prédio, construído por essa altura, pertencente ao comerciante José Augusto Pinto da Nóbrega, que no ano anterior havia sofrido um incêndio nas casas que possuía na Rua Direita, onde tinha comércio de mercearia e vinhos.

O Estado adquiriu ao Padre Dr. Jerónimo Amaral o terreno pertencente à Quinta de Prados, para a construção da estação e parte da via. A Câmara negociou, igualmente com o Dr. Jerónimo Amaral, terrenos para uma alameda que se propõe terraplenar e arborizar.

Encravada nestes terrenos, existia uma parcela pertencente ao grande benemérito Joaquim Vitorino de Oliveira, que a oferece gratuitamente, assim como uma quantia em dinheiro para as obras de arborização - iniciativa de embelezamento do local com que a Câmara visava atrair novos empreendedores.

Em 1905 está praticamente concluída a avenida de acesso à estação - hoje Avenida 5 de Outubro - que foi ladeada por renques de tílias, árvores que dominavam e continuam a dominar aquela área.

Avenida e alameda do caminho-de-ferro - Vila Real

Em 1906 a Câmara volta a abrir o processo de negociações, que se concretizam com a aquisição dos terrenos, sucedendo-se a construção da alameda, entre Janeiro e Agosto de 1907.

Tudo isto exigiu um enorme esforço financeiro à autarquia, que investiu igualmente na iluminação da área e na aquisição de água para conservação da área intervencionada (oito bocas de rega: quatro para a alameda e outras quatro para a avenida) e para um depósito-fontenário colocado posteriormente, embora ainda na década de 1900.

Esta alameda transformar-se-á, com a passagem do tempo, num jardim. Mas a sua vocação ultrapassa a de mero jardim, e ali se desenvolvem diversas atividades que foram transformando aquele espaço, de forma que se pode dizer que hoje, do desenho inicial, só os limites e as tílias se conservam.

Ao condicionar a construção à volta da alameda e da avenida de acesso à estação do caminho-de-ferro [a que foi dado o nome de Avenida de D. Carlos, na reunião da Câmara Municipal de 11/08/1906], a Câmara teve de criar condições para novos empreendedores, em arruamentos já existentes nas proximidades ou rasgados para esse fim.

Assim, em 1907, promoveu a reparação da Estrada Municipal nº 1, entre o Cruzeiro dos Três Lagares e a povoação de Folhadela

Aproximadamente três anos depois, mandou alargar, com as retificações e alinhamentos necessários, o troço desta mesma estrada entre a passagem de nível e o lugar de Tourinhas, já que no mesmo iam ser construídos os quatro belos edifícios de Madame Brouillard, que por essa época construiu também, na Rua Dr. Augusto Rua (então Alameda Roçadas), o seu Palacete das Virtudes.

Ainda em 1907, a Câmara iniciou a terraplenagem, motivada pelo aparecimento de novos empreendedores, da atual Rua Jerónimo Amaral, no troço entre a estação do caminho-de-ferro e a Meia Laranja.”

Fonte: “Da Alameda do Caminho-de-Ferro ao Jardim da Estação”, por Elísio Amaral Neves, em “Vila Real – História ao Café" (texto editado, adaptado e aumentando)

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