O Seminário de Santa Clara – Vila Real


Está a decorrer, de 5 a 12 de novembro, a Semana de Oração pelos Seminários 2023, com o tema bíblico “Não tenhas medo. Serás pescador de homens”, do Evangelho de São Lucas  (Lc 5,10b).

A propósito, vamos divulgar algumas informações sobre o Seminário de Santa Clara – Vila Real.

O Seminário de Santa Clara / Seminário de Vila Real

D. João Evangelista de Lima Vidal foi 1.° Bispo de Vila Real, tomando posse a 24 de Outubro de 1923. Preocupado com a escassez de sacerdotes na recém-criada Diocese, escreveu a 3 de Novembro:

"Não há nada que possa afligir tanto o coração de um Pastor como a falta de cooperadores suficientes para a acção que se torne precisa na sua igreja.

É como estar a ver e a tocar com os dedos uma chaga mortífera no próprio corpo, e saber que existe remédio capaz de a curar, ou pelo menos de a aliviar, e todavia não ter meios de o poder conseguir (...)

Vamos todos fazer um esforço enorme, e não podemos descansar enquanto não tivermos em Vila Real um seminário. Ora, sem seminários, não há sacerdotes!"

D. João Evangelista de Lima Vidal

(Venerando Bispo de Angola e Congo)

Ilustração Católica, nº60 - 23 de Agosto de 1914

Obs: Nasceu em Aveiro no dia 2 de abrl de 1874 e foi eleito daquela diocese [Ango e Congo] em 29 de abril de 1909 e outubro de 1915.

Foi o primeiro Bispo de Vila Real e também foi Bispo de Aveiro, depois de restaurada aquela diocese.

O Seminário de Gralhas e o Seminário Salesiano

Entretanto, no ano de 1921, tinha sido fundado um pequeno seminário, na povoação de Gralhas, concelho de Montalegre, dependente do Seminário diocesano Bracarense. Sob a direcção do Pe. Dr. Serafim de Oliveira, no ano lectivo de 1923/24 tinha vinte alunos.

A 6 de Novembro de 1923, foi publicado o decreto que instituía a "Obra das Vocações e do Seminário", com a finalidade de auxiliar as vocações sacerdotais e angariar recursos financeiros para “os encargos e melhoramentos do seminário”.

A 8 de Janeiro de 1924, D. Manuel Vieira de Matos, herdeiro da Casa de Poiares, da Régua, fez doação dela e dos terrenos adjacentes. A intenção da doação foi instalar um pequeno Seminário Salesiano que, até ao ano lectivo de 1930/31, receberia os alunos dos arciprestados de Mondim de Basto, Mesão Frio, Murça, Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião e Vila Real.

O Seminário após a criação da Diocese de Vila Real

O Bispo de Vila Real não descansava enquanto não criasse o Seminário Diocesano, levando-o a afirmar, a 14 de Janeiro de 1924: 

Seminário! É este o meu pensamento fixo, que me não deixa nem de dia nem de noite, e que eu queria que interessasse do mesmo modo todo o Clero e todos os fiéis desta querida Diocese de Vila Real”.

Sem recursos financeiros para ombrear com tão dispendioso empreendimento, o Prelado recorreu à generosidade dos fiéis que não regatearam esforços para comparticipar. 

"Assim eu continuarei a pedir, e a pedir sempre como um cego, como um mendigo, até que veja realizado o meu sonho, que é o sonho desta nova diocese e de todos os seus fiéis”.

O pequeno Seminário de Gralhas, situado numa zona agreste do concelho de Montalegre, não tinha instalações adequadas para o fim a que se destinava. Para além disso, as dificuldades financeiras da Diocese não lhe permitiam efectuar obras de adaptação.

Com a instituição do pequeno Seminário de Poiares, a conservação do de Gralhas não se justificava. Por essas razões, o Bispo de Vila Real, por decreto de 27 de Janeiro de 1925, terminou a sua acção.

D. João Evangelista construiu a Diocese desde o zero, sendo a primeira obra o Seminário.

Do Convento de Santa Clara ao Seminário de Vila Real

Escolhendo o Convento de Santa Clara que, em 1911, fora espoliado pelo Estado, propôs ao Governo que trocasse o imóvel pelo edifício pertencente a Mons. Jerónimo Amaral, onde, actualmente, está o Liceu Camilo Castelo Branco.

Pela lei 1693, de 11 de Dezembro de 1924, foi deferido o pedido, efectuando-se a troca em 25 de Abril de 1925.

(Na reunião da Comissão Municipal Administrativa, realizada no dia 14 de maio de 1927, foi presente um requerimento de "Monsenhor Jeronymo Teixeira de Figueiredo Amaral, d'esta cidade, pedindo a troca de terrenos na Rua do Carvalho para ali construir o Seminário Diocesano. Ficou incumbido o vogal senhor Paulino Celestino de estudar o assumpto a quem foi entregue a respectiva planta.")

Na Carta Pastoral que dirigiu ao Vigário Geral, ao Clero e aos fiéis, em 28 de Fevereiro de 1926, no início das obras do seminário, o Bispo de Vila Real apresentou a intenção de se deslocar ao Brasil a fim de angariar fundos para custear as despesas da sua construção.

Justificou a decisão, dizendo: "Quando o engenheiro, que traçou a planta, nos mostrou ao mesmo tempo o cálculo aproximado das despesas inevitáveis, nós fechamos os olhos, quase que preso de uma vertigem, e a primeira palavra que nos saiu da alma foi uma palavra de desalento, como se nos encontrássemos diante de um sonho encantado, sem realização possível nas pobres montanhas que habitamos”.

A viagem ao Brasil e a inauguração do Seminário

A viagem foi um êxito e o Bispo de Vila Real trouxe 600 contos, uma fortuna para a época.

Como a diocese ainda não tinha personalidade jurídica civil, a 19 de Fevereiro de 1930 foi criada a sociedade anónima, “Auxiliadora Transmontana”, a quem foi entregue a posse do ex-convento.

O Seminário foi inaugurado a 24 de Outubro de 1930 e, em 1941, com a Concordata assinada entre o Vaticano e o Governo Português, passou, definitivamente, para a posse da Diocese Vila-Realense. (1)


Conforme noticiou "O Povo do Norte" no seu nº 24, publicado a 9 de Novembro de 1930, "O corpo docente do Seminário da Diocese ficou constituído pelos reverendos dr. José Libânio Borges, Ângelo Minhava e Adolfo Guimarães.

Exerce as funções se secretário e ecónomo o reverendo sr. José Teixeira de Faria e de perfeitos os reverendos srs. Agostinho Silva e Arlindo Silva."

Seminário Maior e Seminário Menor

Em 1943, Bandeira de Tóro escreveu: “O Seminário, um dos maiores e melhores da Península, está instalado num sumptuoso edifício, construído para o fim a que se destina (ministrar educação e ensino aos que mais tarde devem ser «o sal da terra e a luz do mundo) – os candidatos ao Sacerdócio Católico.

O Seminário Menor, para preparatórios, e o Seminário Maior, para ciências teológicas, coexistem neste edifício.

No ano escolar findo (1941-1942) cursaram preparatórios 135 alunos, e ciências teológicas 32.” (2)

O Seminário Maior apenas funcionou aqui até 1968, ano em que os alunos foram transferidos para o Seminário do Porto. 

Atualmente, o Seminário Menor ainda é frequentado por alguns alunos, que estudam na Escola Secundária Camilo Castelo Branco, até ao 12º ano. Os alunos do Seminário Maior frequentam a Faculdade de Teologia da Universidade Católica - Porto.

Fontes

(1) “Monografia do Concelho de Vila Real”, Júlio António Borges (texto editado. Os títulos são da nossa responsabilidade)

(2) “O Concelho de Vila Real”, Bandeira de Tóro

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