“Camilo Sapateiro” ou “Digníssimo” (Figuras da Bila)

 

O “Camilo Sapateiro”, também conhecido por “Digníssimo”, meu tio materno, de seu nome António Paulo Ferreira, era uma figura muito querida na cidade, que na gíria podemos mesmo afirmar que era um “Castiço”.

Filho de Camilo Paulo Ferreira que já deixou aqui alguns registos de “aventuras” e de quem lhe vinha o nome Camilo, não sendo o seu nome verdadeiro.

Na época de carnaval, o Digníssimo gostava de lançar algumas bombas de carnaval, que além do incómodo barulho, eram bastante perigosas, e até podiam gerar danos físicos e materiais.

A certa altura, na Avenida Carvalho Araújo, vinha a passar o automóvel do então Presidente da Câmara, Eng. Humberto Cardoso Carvalho, com ele no seu interior e conduzido pelo motorista, o Digníssimo lançou somente um rastilho de bomba para debaixo do automóvel.

Está claro que os seus ocupantes, Eng. Humberto Cardoso Carvalho e o Motorista saíram apressados do automóvel, para que quando a “bomba de carnaval” rebentasse, não lhe provocasse danos físicos, pois os materiais iriam ser provocados de certeza absoluta.

Só que, o rastilho acabou e não aconteceu nada, pois contrariamente ao que os ocupantes pensaram, era somente um rastilho que arde e chega ao fim não acontece nada.

O Polícia de giro que estava a passar por ali perto, apercebendo-se da situação, interpelou o Digníssimo para o levar detido.

O Eng. Humberto Cardoso Carvalho, um homem espetacular e humano, disse ao Polícia que bastava um pedido de desculpas e que por ele podia deixar ir o “Homem” embora.

Só que o Camilo Sapateiro, conhecido como “Digníssimo”, que além de gozão, brincalhão e que gostava também muito da “pinga” como o seu pai, também era teimoso que nem uma “mula”, não quis pedir desculpa.

Sendo assim, foi dormir aos calabouços da Polícia, a fim de no dia seguinte ser presente ao Juiz de Turno.

No dia seguinte foi na presença do Juiz de Turno em audiência, e este como é costume perguntou:

- Bom dia, o seu nome todo.

- António Paulo Ferreira. – respondeu o Digníssimo.

- Qual é a sua profissão? – perguntou o Juiz.

- Eu sou, “Manufatur da sola e ourives do calçado” … - respondeu o Digníssimo.

Lourenço Camilo Costa

(Histórias sobre figuras de Vila Real – época de 1923 a 1975)

Texto publicado com autorização da família

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