Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, 1º conde de Amarante
Francisco da Silveira Pinto da Fonseca1º conde de Amarante("Serões", nº42 - 1908) |
Dia 2 de Setembro de 1808
"Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, que veio
a ser agraciado com o título de conde Amarante, pela maneira brilhante
como defendeu esta vila contra os franceses, durante a segunda invasão, estando
com as nossas tropas no campo da Encarnação pede por escrito a Bernardim
Freire que pergunte ao general Dalrymple se consente que o exército
português rompa as hostilidades contra os franceses.
Se a resposta for afirmativa, pode desde já proceder-se; se
for negativa, deve lavrar-se protesto.
«É necessário, diz Silveira, obstar ao saque já
iniciado em Lisboa, no dia anterior.»
General Silveira |
TENENTE GENERAL
SILVEIRA
1º Conde de
Amarante – Herói da Guerra Peninsular
Um dos Generais
de maior prestígio na Guerra Peninsular foi, incontestavelmente, Francisco da
Silveira Pinto da Fonseca, 1º Conde de Amarante, título que lhe foi atribuído
pelos seus brilhantes feitos militares nas operações contra os exércitos de
Napoleão Bonaparte.
Nasceu em
Canelas, concelho da Régua e distrito de Vila Real, em 1 de Setembro de 1763, e
era filho de Manoel da Silveira Pinto da Fonseca e de D. Antónia da Silveira.
Iniciou a sua
carreira militar, assentando praça como cadete no Regimento de Cavalaria de
Almeida, a 25 de Abril de 1780, isto é, apenas com 16 anos de idade.
Em 1801,
participou na campanha de Monterey já no posto de capitão, comandando um corpo
de voluntários formado por alguns fidalgos de Trás-os-Montes, o que lhe valeu
ser promovido a sargento-mor efectivo para Cavalaria nº 6, e depois a
Tenente-coronel, em 1803, pelos excelentes serviços prestados nessa campanha.
O seu elevado
grau de patriotismo ficou logo bem demonstrado quando, em Dezembro de 1807, não
quis fazer parte da Legião Portuguesa ao serviço de França, depois de
testemunhar em Coimbra a dissolução dos Regimentos de Cavalaria 6, 9, 11 e 12,
solicitando ao governo francês a sua demissão e regressando a Trás-os-Montes.
Tenente-coronel
Silveira era um homem simples e forte, enérgico e saudável. De estatura
mediana, mas com uma aparência nobre e viril, era bem o exemplo do homem
transmontano.
Carácter dotado
de um grande espírito combativo e animado pelo patriotismo e o amor à
independência, vira a ser o mais activo, resoluto e intrépido dos generais
portugueses contra os exércitos invasores.
Durante a 1ª
invasão francesa a Portugal, ao ter conhecimento do levantamento popular no
Porto, não quis perder a oportunidade de se vingar da afronta pelo desarmamento
dos Regimentos da Cavalaria em Coimbra. No dia 6 de Junho de 1808, em Vila
Real, decide fazer uma proclamação aos seus conterrâneos, incitando-os a pegar
em armas contra os invasores.
A partir desse
dia, são numerosos os feitos militares de Francisco da Silveira. Ainda na 1ª
invasão francesa, comandando um grupo de populares transmontanos, numa
emboscada preparada nos Padrões da Teixeira (Serra do Marão), desbaratou a
divisão do general Loison – o Maneta -, que se dirigia para o Porto, por ordem
de Junot, a fim de depor a Junta Suprema do Governo, e restabelecer a dominação
francesa. Este êxito militar levou a Junta Suprema do Governo do Porto a
promovê-lo a Coronel para o então reorganizado Regimento de Cavalaria 6 e,
posteriormente, ser nomeado Governador Militar de Trás-os-Montes, por carta
régia de 15 de Fevereiro de 1809.
Na 2ª invasão
francesa (1809) concebeu um êxito a retomada da praça de Chaves, ocupada pelas
tropas de Lault, e que constituiu a primeira retumbante vitória alcançada por
um oficial português sobre o exército invasor.
Mas foi a
brilhante defesa da ponte de Amarante, onde os portugueses resistiram durante
duas semanas, contra as forças muito superiores em número e disciplina, que
constituiu num dos mais brilhantes feitos do exército luso na Guerra
Peninsular. E Francisco da Silveira ver-se-ia Promovido a Marchal-de-campo, por
distinção, na ordem publicada por Beresford, em Chaves, a 21 de Maio de 1809,
“em contemplação do zelo e patriotismo com que se havida conduzido” e, mais
tarde, agraciado com o título de 1º Conde de Amarante.
Em 1810, na 3ª
invasão francesa, o Marechal Silveira alcançaria retumbantes vitórias sobre os
franceses em Puebla de Sanabria e Valverde, e defenderia tenazmente a linha o
Douro em sucessivos e renhidos combates, obstando à passagem do exército de
Clapareda para a margem direita desse rio. O Marechal Silveira e a sua divisão,
com coragem e redobrada energia, apesar dos rigores do Inverno que tiveram de
suportar, evitaram assim que Clapareda se dirigisse para o Porto e o tomasse de
surpresa.
Em atenção aos
seus relevantes serviços em todas as campanhas anteriores, o Marechal Francisco
da Silveira, foi agraciado pelo Príncipe Regente, depois El-Rei D. João VI, com
o Título de 1º Conde de Amarante, em 13-5-1811, e promovido a Tenente-general,
em 5-2-1812.
O
Tenente-general Silveira teria ainda uma acção de grande vulto na memorável Batalha
de Victoria (Espanha), em 21-6-1813, que o exército aliado venceu
estrondosamente, assegurando o domínio definitivo da Península. E antes de
regressar a Portugal, participaria ainda nas Batalhas dos Pirenéus, travadas a
28 e 30 de Julho, onde a sua acção foi de tal relevância, ao ponto de Beresford
escrever na “ordem do dia” de 11 de Agosto, no quartel-general de Zaráus: “O Sr. Marechal felicita S. Ex.cia o
Tenente-general Conde de Amarante pela brilhante conduta da sua divisão, porque
as suas duas brigadas, ainda que separadas, se comportaram de modo que pareciam
rivalizar entre si sobre qual havia de mostrar melhor conduta e ganhar mais
honra”.
Pouco tempo
depois das Batalhas dos Pirenéus, regressou a Portugal com a saúde bastante
abalada pelos esforços dispendidos nas sucessivas campanhas da Guerra
Peninsular.
Faleceu a 28 de
Maio de 1821, vitimado por uma “doença do peito”, na sua casa de Vila Real,
onde hoje se encontra instalado o Governo Civil do Distrito, sendo sepultado em
Canelas, sua terra natal.
O
Tenente-general Silveira, 1º Conde de Amarante e Senhor da Honras de S.
Cipriano de Nogueira do Douro, além de ter recebido a Grã Cruz da Ordem da
Torre e Espada, a Grã Cruz da Ordem de Cristo, e a Grã Cruz da Ordem de S.
Fernando de Espanha, por mercê de El-Rei Católico, foi também Condecorado com a
Medalha de Ouro pelo Governo Inglês e recebeu uma Espada de Honra oferecida
pelos portugueses residentes em Londres.
É de referir
que o Governo Inglês apenas atribuiu Três Medalhas de Ouro, sendo as outras
duas para Wellington, comandante em chefe do exército aliado, e para Castañas,
o general dos espanhóis em Victória.
Entre vários
melhoramentos, Vila Real deve-lhe a construção do edifício onde se encontra
instalado o Governo Civil do Distrito e a fundação do Hospital da Divina
Providência.
Vila Real,
Junho de 1982
Por Lourenço Camilo Costa
Publicado in’ Revista “VILA REAL 82 –
Desporto Motorizado; Julho 82