PSD – Vila Real, quo vadis?




«Conta a tradição cristã que o Apóstolo S. Pedro, ao fugir de Roma (mais concretamente de uma das suas prisões), com medo da perseguição que o Imperador Nero estava a fazer aos cristãos (teriam sido os ainda sobreviventes a pedir a Pedro que salvasse a sua vida para poder continuar a proclamar a Boa Nova do Senhor Jesus), encontrou, em plena Via Ápia, o seu Senhor.
Segundo Sto Ambrósio (cf. Serm c. Auxentium, 13), Pedro terá perguntado: “Domine, quo vadis?” (“Senhor, aonde vais?”). Jesus ter-lhe-á respondido: “Venio iterum crucifigi.” (“Venho para ser novamente crucificado.”).
Este episódio inspirou Henryk Sienkiewicz (Polaco, 1842-1916) a escrever, há mais de um século, o romance “Quo vadis”, que em 1905 lhe valeu o Prémio Nobel, e do qual existem, pelo menos, duas versões cinematográficas. 
Numa delas, o forcado Nuno Salvação Barreto fez de duplo da personagem que, em pleno circo romano, faz, sozinho, uma «pega de caras» ao touro (acabando por dominá-lo) que devia matar uma cristã, Lígia.
Vem este introito a propósito daquilo que eu penso sobre qual pode ou deve ser a estratégia para o futuro próximo do PSD no concelho de Vila Real.
Quo vadis, PSD?
Para onde vais, PSD?”, ou, dito de outra forma, “Para onde queres ir, PSD?”. Também se poderá perguntar, “Para onde te levam ou te querem levar, PSD?
Passados seis meses das últimas Eleições Autárquicas, estou convicto de que só agora se pode começar, verdadeiramente, a fazer uma análise e uma avaliação adequadas (porque já temporalmente afastadas daquele momento, logo mais frias e desapaixonadas) dos resultados que levaram a que o PSD – Vila Real tivesse perdido um Vereador na Câmara Municipal e a presidência de algumas Juntas de Freguesia, apesar de ter (re)conquistado outras.
Ao mesmo tempo, penso que é já a partir de agora (e não daqui a um ou dois, e muito menos daqui a três anos) que se deve começar a definir qual deve ou pode ser o caminho a seguir para que em 2009 os eleitores, que não só os militantes e simpatizantes do PSD, possam continuar a ter confiança e a acreditar que as ideias e os projetos apresentados pelos candidatos que integrarão as listas do PSD são melhores, mais exequíveis, mais adequadas às necessidades reais dos vila-realenses, mais corretas do ponto de vista do desenvolvimento sustentável e da melhoria da qualidade de vida no nosso concelho, do que as propostas apresentadas pelos adversários.
No primeiro fim-de-semana de Maio, os militantes do PSD vão eleger, por sufrágio universal (apenas os militantes com as quotas em dia!) e direto, o seu líder para o próximo mandato. 
Embora não seja contra (como também não sou fanaticamente a favor) da eleição direta do Presidente do PSD, só me pergunto o que é que este tipo de eleição traz, neste momento, de mais-valias para o PSD e, isto é que me parece mais importante, de mais-valia para a discussão política e a resolução dos problemas que preocupam os portugueses de Norte a Sul, incluindo os que vivem na Madeira, nos Açores e nas diversas comunidades de portugueses espalhados pelos quatro cantos do mundo?
Enquanto o PS continua a (des)governar à sua maneira e bel-prazer um Portugal cada vez mais na cauda da Europa, o PSD parece estar mais preocupando com questiúnculas internas (cuja razão de ser até pode ser muito importante para alguns!), que apenas lhe gastam tempo e energias, e as quais, na minha modesta opinião, seriam melhor utilizadas na procura, na análise, na discussão e na apresentação das melhores propostas para solucionar os problemas que, diariamente, afetam os Portugueses.
Marques Mendes vai fazendo campanha eleitoral para ser reeleito líder do PSD, mas os Portugueses quase não o ouvem falar sobre quais as propostas que o maior partido da oposição tem para os problemas que afetam Portugal. 
E esta situação é extremamente agradável para o Eng. José Sócrates, pois, como diz o povo, “Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.”
E é com esta lógica de raciocínio (não pode haver tempos mortos nem pausa na “luta política”) que eu defendo e defenderei até que “a voz me doa” e enquanto não me faltar engenho ou arte, que a eleição da próxima Comissão Política de Secção (CPS) do PSD – Vila Real deve ser o momento da opção do PSD por um dos diversos caminhos que pode escolher para o futuro a curto/médio prazo, e que, inevitavelmente, condicionará o seu futuro a longo prazo.
Um, será o de pensar que os próximos dois anos serão anos calmos, sem eleições, que o próximo mandato será um mandato de transição, e que só as eleições para a CPS a realizar em 2008 é que vão valer a pena, na medida em que será a partir daí que se vão definir as propostas, as estratégias e escolher os candidatos que as vão protagonizar. 
O outro, pelo contrário, será o de assumir claramente que hoje já é tarde para se realizar o trabalho que diariamente deve ser feito enquanto suporte político-partidário necessário aos eleitos nas listas apresentadas pelo PSD para a Câmara e para a Assembleia Municipal, para as Assembleias de Freguesia e respectivas Juntas. Não há terceira via possível para esta questão.
Nos mentideros locais (em alguns restaurantes e nas mesas de alguns cafés) desta aldeia (enquanto espaço onde todos se conhecem e tudo se sabe, mais cedo ou mais tarde) que é Vila Real, fala-se em nomes e em projectos (mais ou menos pessoais) de “conquista de poder”, enquanto preparação para…
Todas as ambições políticas sérias são legítimas, mas não podemos esquecer que os homens e as mulheres passam (quão efémera é a vida humana, quanto mais o poder que alguns pensam ter ou vir a ter!), mas as ideias, os valores e os projectos que visam a melhoria das condições de vida dos cidadãos é que perduram, e é só por eles que vale a pena lutar, de uma forma clara e justa, ainda que muitas vezes de forma apaixonada e até mesmo voluntarista, mas sem usar demagogia, pressões ou truques baratos.
Saibamos não ceder à tentação fácil de perder dois anos de trabalho e de preparação para os combates que, mais cedo ou mais tarde, teremos de enfrentar.
Vila Real, em devido tempo, agradecerá! E também saberá castigar quem, olhando para o seu umbigo, pensa mais em si e no seu grupo de amigos do que nas soluções que, com mais hipótese de sucesso, poderão protagonizar a luta contra os problemas que afectam a maioria dos vilarealenses.
José Pinto (Militante do PSD com as quotas em dia)
Nota: Como facilmente se verifica, este texto foi escrito em 2006, e publicado no jornal “A Voz de Trás-os-Montes”. O que a publicação provocou no PSD – Vila Real… provavelmente alguns (poucos) ainda se lembrarão!
Passados dois/três anos, começou a crise que levou a que o governo de então se visse na necessidade de pedir ajuda internacional (a TROIKA, de má memória), depois do mesmo governo ter apresentado os famosos PEC I, II, III e IV (Planos de Estabilidade e Crescimento) à Comissão Europeia.
Nas eleições autárquicas realizadas em 2005, o PSD – Vila Real perdeu “um Vereador na Câmara Municipal e a presidência de algumas Juntas de Freguesia, apesar de ter (re)conquistado outras.” Hoje, tem apenas 2 de 9 vereadores (incluindo o presidente) no Executivo Municipal.
Mesmo que fosse apenas UM, seria suficiente para ser feita uma oposição atenta, séria, responsável e consequente, mas aguerrida. 
É certo que eram outros tempos e que os homens pareciam ser feitos de outra fibra, como verdadeiros transmontanos, de “Antes quebrar que torcer!”.
Repito: uma oposição “atenta, séria, responsável e consequente, mas aguerrida” torna um governo (qualquer que ele seja), melhor. 
Isto é, com mais cuidado nas decisões que diariamente toma (quer sejam de mera gestão corrente, conforme o PAM, quer impliquem maior planeamento e investimento, no âmbito do PPI), pois se algo correr mal, os eleitores sabem que a oposição tem homens e mulheres, cheios de boa vontade de servir a res publica e com provas dadas, que podem facilmente fazer um trabalho bem melhor.
Será isto apenas produto da minha imaginação “prodigiosa”?

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