A Marcha da Cidade de Vila Real: "Vila Real, Vila Real, Vila Real!"

 


Marcha de Vila Real

Letra e música de Pe Ângelo Minhava


Vila Real, Vila Real, Vila Real!...

I

Ornada de tantas galas

Oh! abram alas:

Uma princesa.

É filha de um rei troveiro

Sonho primeiro

D’áurea beleza.

O nome cheio de encanto

Que eu amo tanto

Também o diz:

Real d’aspecto e de graça

A sorrir para quem passa

A filha de D. Dinis

II

Teus filhos, linda princesa

Tua nobreza

Sempre te herdaram

E nos campos de batalha

Nunca à metralha

Costas voltaram

É ver o bravo Araújo

E aquele marujo

Diogo Cão…

Pelotas e Alves Roçadas

Brandiram suas espadas

A lutar por teu brasão

III

À tua sombra descansa

Deposta a lança

Bravo Espadeiro

Ai! guardas em um jazigo

O grande amigo

Do rei primeiro

A tua santa madrinha

Foi a rainha

Santa imortal

Que, num sorriso de amor

Te converteu numa flor

Do jardim de Portugal

Coro

Vila Real, oh que linda és

Tens o Corgo aos pés, em adoração

Vila Real, como és gentil

Canta-te Cabril, beija-te o Marão.


Vila Real, Vila Real, Vila Real!...



A Marcha de Vila Real

"Pelos finais dos anos 40 — era então presidente da Câmara Municipal o Dr. Aníbal Catarino Nunes e dos Serviços Municipalizados o Prof. Manuel José Gonçalves Grilo —, as festas da cidade tinham perdido muito do brilho que haviam conhecido no passado recente.

Havia que encontrar maneira de readquirir esse brilho, numa época em que as marchas da cidade de Lisboa constituíam um paradigma de animação, música e cor.

Projecta-se então um grande cortejo histórico, para relançar as festas, e convida-se o Padre Ângelo do Carmo Minhava a compor a música e escrever a letra de uma marcha que devia abrir o cortejo.

A encomenda foi satisfeita, resultando a que hoje é geralmente assumida como “Marcha de Vila Real”.

Os primeiros versos (Ornada de tantas galas, / Oh! Abram alas: / Uma princesa) são testemunha da finalidade original da marcha.

De facto, o cortejo devia abrir com uma réplica da figura dita “Vila Real” (escultura que se encontra sobre o frontão dos Paços do Concelho), para cuja passagem se convidava o povo a abrir alas...

Não foi esta, note-se, a primeira marcha de algum modo dedicada ou assumida como de Vila Real.

A mais conhecida tinha sido uma adaptação feita provavelmente por um militar do RI 13 do trecho “Rosa Enjeitada”, de Raul Ferrão, adaptação que aqui correu com o título de o “Trasmontano”.

Por outro lado, deve-se ao padre espanhol José Angerri (capelão da Casa de Mateus, aquando das visitas que fazia regularmente aos Condes de Vila Real, que o bispo D. António Valente da Fonseca convidara, no final da década de 1930 para o que hoje chamaríamos animação cultural com os alunos do Seminário durante as férias escolares), a tentativa de dar a o “Trasmontano” características que o aproximassem do género “marcha”.

(Tenha-se igualmente em consideração que, entre as diferentes músicas — marchas, hinos, etc. —, anteriores à “Marcha de Vila Real”, foi composto em 1927 um “Hino de Vila Real”, com música do Tenente Manuel Canhão e letra de Alberto Machado.)

Foi, contudo, a primeira marcha do Padre Ângelo Minhava. E que estreia!

É uma composição vibrante, extremamente cantabile, que toca profundamente todos os vila-realenses.

Parece que, de algum modo, terá também influenciado as marchas lisboetas da época, que passaram, depois dela, a ter um certo tónus heróico que lhes faltava. Resta dizer que o projectado (1948) cortejo histórico não se realizou.

Mas a marcha cativou imediatamente os vila-realenses e, nas Festas da Cidade de 1949, todas as bandas a executaram na alvorada dos dias festivos e animou a marcha luminosa e o cortejo regional então realizados.

Existe uma edição de 1948 da “Marcha da Cidade de Vila Real”, designação original, feita pela tipografia “Missões Franciscanas”, de Braga.

Em 1950, ano do Cortejo Histórico, saiu outra edição. Mais tarde, a autarquia assumiu esta bela composição como o hino-marcha da cidade."

Fonte: “Marcha de Vila Real” – Mons. Ângelo Minhava, em “Vila Real – História ao Café” (texto editado) 

Nota:

Na reunião da Câmara Municipal de Vila Real, realizada a 27 de maio de 1948, o Presidente da Câmara, Dr. Aníbal Catarino Nunes, informou os presentes que já estava "feita a gravação da Marcha de Vila Real."

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