"Memória da capela de Santo António" – Vila Real


O santo mais português" assim chamou o padre António Vieira a Santo António, que se tornou através dos séculos o mais querido do povo, que lhe tributa uma devoção tão especial que a sua presença se confunde com a vida das pessoas.

Em Vila Real, a sua presença nos altares das igrejas e capelas é uma constante, muito antes de o povo, "por devoção e esmola", ter construído, defronte da capela de São Sebastião (templo que primeiro terá dado o nome ao monte onde mais tarde terminaria a via-sacra que se iniciava na igreja de São Pedro), feita à sua semelhança, muito provavelmente em 1535, a capela de Santo António.

A devoção a Santo António levou igualmente os clérigos do convento de São Francisco a construir no limite da sua cerca, em 1732, uma capela de invocação do mesmo santo, que ficou igualmente conhecida por Santo António da Carreira.

No séc. XIX, mais propriamente em 1875, na Vila Velha e por iniciativa popular, construiu-se a capela de Santo António Esquecido (curiosamente, os vila-realenses ainda hoje recorrem ao santo para que lhes depare qualquer objeto ou animal perdido).

E já no final do séc. XX, em 1995, a Diocese de Vila Real, constatando a dispersão dos fiéis da paróquia de São Pedro e a necessidade, por essa razão, de a reestruturar geograficamente, criou uma nova paróquia sob a designação de Santo António da Araucária, sendo então construída uma nova igreja.

Naturalmente, esta devoção estendeu-se a outras povoações do concelho e a obras sociais, como a Juventude Antoniana e a Obra do Pão dos Pobres de Santo António, criadas em 1917.

Mas aquilo que mais marcou a devoção (a ponto de hoje se celebrarem as festas da Cidade no dia do santo) foi a instituição junto à capela de uma feira anual de três dias (alvará de D. Pedro II, de 23 de Março de 1688), por ocasião das festas do santo.

Esta feira chegou a ser a maior e a mais importante da província de Trás-os-Montes e refletiu a prosperidade e as misérias do Douro, tendo a sua longa vida de mais de 400 anos deixado marcas no estado de conservação do imóvel.

E é no momento de maior prosperidade da região, no final do séc. XVIII, que a aristocracia rural se vai igualmente interessar pelo templo, ganhando particularmente relevo o ano de 1791, em que o pároco de S. Pedro, Padre António José Pereira de Brito, vê assegurada autorização para implantar barracas junto da capela (provisão de 16 de Dezembro de 1790), revertendo para o santo, que o mesmo é dizer para os obras da capela, o respetivo rendimento.

No mesmo ano, por outro lado, o Morgado de Mateus e mordomo da irmandade de Santo António, D. Luís António de Sousa Botelho Mourão (1722-1798), a residir em Mateus desde 1777, no regresso do exercício de funções de governador e capitão-general da Capitania de São Paulo, no Brasil, vai ser responsável por diversas obras de reabilitação da capela e em particular do seu tecto, onde substituirá as pinturas então existentes nos caixotões, possivelmente já muito degradadas, por 28 telas com imagens da vida e dos milagres de Santo António, que encomendara em Roma.

Estas telas permaneceram na capela até à sua demolição em 1953, tendo sido recolhidas pela Diocese de Vila Real no seu Seminário, onde se encontram. (…) (*)

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Doze imagens de telas sobre a vida e milagres de Santo António, das 28 encomendadas, em Roma, por D. Luís António de Sousa Botelho de Mourão (1722-1798), e que estavam no teto da capela de Santo António, em Vila Real:













(*) Catálogo da Exposição “Memória da Capela de Santo António” – 11 a 30 de Junho de 2002

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