Diogo Cão - genealogia do intrépido e arrojado navegador português
Genealogia de Diogo Cão
Esta família de apelido Cão ou Caão é mui
antiga, porque já no reinado de el rei dom Afonso IV, Lourenço Caão era
padroeiro do velho mosteiro de Sam Simão da Junqueira, ao sul de Vila do Conde.
Deste Lourenço Caão descendeu GONÇALO CÃO, que viveu em tempo de el-rei dom João I, e foi um dos cavaleiros que o condestável dom Nuno Álvares Pereira mandou ao Alandroal socorrer Álvaro Contado ou Questado que Vasco Porcalho, comendador de Avis, entregara aos espanhóis.
A estes tomou, também, BADALHOUCE (Badajoz), segundo recorda
o diploma régio de 14 de Abril de 1484, e prestou grandes serviços na guerra
com Castela.
Deste Gonçalo Cão foi neto DIOGO CÃO, que por mandado de el-rei dom João II, veio por duas vezes ao descobrimento da costa de África, sendo a primeira vez em 1482 e a segunda em 1485. (1)
Diogo Cão é trasmontano, pois nasceu em Vila-Real
É em Trás-os-Montes e com a fundação de Vila-Real
que os CÃOS começam a aparecer na história, presidindo até um deles - Pedro
Afonso Cão casado com dona Briolanja da Nóbrega - aquele facto,
extremamente interessante, do nascimento genuinamente português de uma das
nossas povoações mais importantes, no reinado de el-rei dom Dinis.
«Foi em Vila-Real, segundo a tradição constante, que nasceu DIOGO
CÃO; e uma notícia sugere até, inesperadamente, a ideia de que os padrões,
que ele foi o primeiro a colocar em África, poderiam reflectir uma recordação
regional, tendo sido ele, talvez, não apenas o primeiro executor, mas o
delineador da substituição das cruzes de madeira, como sinais da descoberta
cristã, pelas balizas em pedra de posso e senhorio português.
Fundada e demarcada pelo poder real e reservada à sua
jurisdição inclusiva, a grande póvoa transmontana de VILA-REAL tinha em torno,
balizando-lhe os terrenos, que eram privativos e, por vezes, lhe foram
disputados, tinha em torno, repetimos, forte padrões de pedra simbolicamente
afirmativos, na sua singela escultura, do domínio e da defesa realenga: - eram
os marcos da redonda ou redondeza."
Um destes padrões ou marcos distintamente característico -
diz Luciano Cordeiro, que estamos seguindo de perto - erguia-se no adro da
mesma igreja velha de Vila-Real.
O «Livro de Memórias de Vila-Real» descreve-o
dest'arte: - «... e dentro do adro da mesma igreja, para a parte do norte,
se pôs um PADRÃO levantado, com tradição de que é do mesmo tempo, que tem no
cimo uma cabeça quadrada; em o lado que fica para o norte, tem um escudo com as
armas reais douradas e pintadas das cores necessárias e em dois lados mais tem
um letreiro de ouro, que diz: REAL VILA..." -
Pode ser, é até natural que seja uma simples coincidência
casual: são vulgares e de longe se usam estas balizas de pedra; mas - além de
que a sua aplicação às descobertas marítimas, iniciada por DIOGO CÃO não deixa
de ser um facto interessante sob mais de um aspecto - aquela coincidência não
deixa de ser também curiosa e ter aplicação concreta ao nosso caso. (2)
Ainda hoje, não faltam em Trás-os-Montes monumentos do tempo
dos Romanos, como são as colunas ou padrões que marcavam as distâncias nas vias
ou estradas.
Sobre os padrões ou colunas militares romanas em Portugal,
veja-se a «História do Exército Português», de Cristóvão Aires,
volume II, às páginas 147-238, e a «História das Matemáticas na Antiguidade»
de Fernando de Almeida e Vasconcelos, à página 423.
Das colunas da ponte romana de Chaves e suas inscrições
tratam J. Leite de Vasconcelos, no volume III das «Religiões da
Lusitânia», à p. 182, e Adriano Antero, no volume III, às ps. 341 e
537 de «A História-Económica».
A Casa de Diogo Cão
Existe, na cidade de Vila-Real de Trás-os-Montes,
a chamada Casa-do-Arco, onde, dizem, nasceu e viveu e morreu o grande
navegador DIOGO CÃO, (..).
«Há diferentes casas apalaçadas, mas quási todas são do
século XVII e XVIII, à excepção da que a tradição aponta ser de DIOGO CÃO,
a qual é muito característica.» (3)
Escudo de Diogo Cão
Escudo de Diogo Cão |
«Em campo verde dous penhascos, e em cada um sua coluna ou padrão de prata levantados ao alto, sôbre cada um dêstes uma cruz azul. Timbre: duas colunas em aspa atadas com um torçal verde.» "Ilustração", nº4 - 1932 |
Notas
(1) António de Vilas Boas e Sampaio - na «Nobiliarquia
Portuguesa», edição de 1727, à página 257.
- Visconde de Sanches Baena - no «Arquivo heráldico
genealógico», à p.138, número 543; «Índice heráldico», XXXV; e no «Boletim
da Sociedade de Geografia» de Lisboa, série VI, número I, à p. 55.
- Quirino da Fonseca - no I volume de «Os
Portugueses no Mar», às ps 119 e 125.
- Aires de Sá - no primeiro volume dos «Estudos de
Cartografia Antiga» às ps CXV, CXXI e CXXXII da Introdução, e no texto,
entre ps. 166/167 vem o brasão do navegador trasmontano.
- Sobre a grafia CÃO ou CAÃO (e não Cam) veja-se o que diz o
sr. dr. J. Leite de Vasconcelos às ps. 191, 201 e 219 do seu livro «Antroponímia
Portuguesa», e à p. 182 das «Lições de Filologia Portuguesa», 2ª
edição e nota 3.
Também o sr. dr. Manuel Múrias começou a estudar o
apelido CÃO nos números do jornal «A Voz» de Lisboa de 3 de Dez. de 1930 e de
12, mas...não acabou.
(2) Luciano Cordeiro - «Os Padrões de Diogo Cão»,
no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, nº 2 da série XI, n. II da
série XIV e nº 10 da série XX.
(3) Domingos Ramos - na revista «A Ilustração
Trasmontana», número 35, de Novembro de 1910.
Padre Manuel Ruela Pombo, in “Diogo Cão” – Revista ilustrada
de assuntos históricos (texto editado e adaptado)
("Ocidente", nº944 - 1905) |