Roteiro arqueológico e artístico do concelho de Vila Real


“O Concelho de Vila Real situa-se, grosso modo, na concha geológica escavada pelo rio Corgo e seus afluentes.

O fulcro deve ter sido um lago formado pelo rio Cabril, cobrindo os terrenos baixos das actuais freguesias de Lordelo, Vila Marim e Parada de Cunhos.

Ter-se-ia escoado através da garganta aberta entre a Vila Velha e o Monte da Forca.

Esta larga concha geológica em que se confina o concelho é limitada, 

- a Sul, pelos topos das encostas da margem direita do rio Douro

- a Norte, pela Serra da Padrela

- a Nascente, pelos planaltos da Azinheira

- e, a Poente, pelas serras do Marão e do Alvão.

Terra de largas paisagens, mimosa em água, que brota de milhares de fontes, abundante em caça e pastagens, deve ter sido muito disputada através dos milénios. 

E todos os povos por aqui deixaram marcas indeléveis.

Talvez procurando a amenidade do hipotético lago, os homens do Paleolítico teriam um lugar de paragem temporária em Vila Marim. 

Dois machados de pedra lascada, sendo um de granito outro de silex, suportam esta hipótese.

- Os machados do castro de Agarez, de Justes, dos arredores de Constantim, de Panóias e Águas Santas;

- as mamoas ainda existentes em Quintã, Vilarinho da Samardã, Vale da Natoda, Rebordelongo, Justes e Ludares; 

- e as desaparecidas, mas que existiram nas Areias de Mondrões, no Barro Vermelho da Campeã, em Águas Santas e em Constantim, 

além de muitas outras de que não há memória, testemunham claramente a fixação neolítica.

A ldade do Bronze deixou-nos o altar rupestre da Mão do Homem e, pelo menos, três machados e uma ponta de lança no lugar da Richeira, termo de Águas Santas onde já nesse tempo parece ter havido exploração de minérios.

Castros pré-romanos e sem sinais de romanização, como 

- as Muralhas de Vilarinho da Samardã, 

- os castros das Palas da Torre e Murcegueira, em Águas Santas, e de Ludares, 

- bem como as hipotéticas pinturas do Penedo das Letras, no São Bento, 

sugerem habitações da época do Ferro.

Do tempo da romanização, temos os castros de Arnadelo, Agarez, Feiteira, São Bento e Lamares, além dos sulcos deixados por oito vias que se cruzavam onde hoje é Vila Real.

Possuímos a arqueologia romana de Vila Marim e de Sabroso.

Encontra-se tegula nos terrenos de Agarez, Arnadelo, Granja, Mondrões, Vila Marim, Vila Real, Vilarinho da Samardă, Águas Santas, Ponte, Panóias, Constantim e Vila Nova de Baixo.

Também as moedas têm aparecido com abundância: 

- os numerosos tesouros de denários de Vilarinho da Samardã e do Penedo Redondo, infelizmente desaparecidos, 

- o tesouro de cerca de trezentos denários de Augusto e Tibério, achado em Mosteirô, 

- o tesouro do século IV encontrado em Vila Marim, constituído por dezanove quilos de folles, e outro de Constantim

- além de várias moedas avulsas, 

dão-nos uma ideia da intensidade romanizadora exercida na região.

Porém o mais famoso monumento que os Romanos nos legaram é Panóias, único no mundo pelas suas epígrafes em Latim e em Grego.

O esplêndido vinho das próximas encostas do Douro, o ferro, o estanho, e especialmente o ouro da vizinha região de Jales, eram um apelo irresistível para o povo de Roma.

Também os Suevos se detiveram aqui, ao fundarem o seu reino com a capital em Braga.

E os Visigodos honraram as Terras de Panóias com cunhagem de moedas de ouro, como evidencia a moeda que figura na capa do Catálogo das Moedas do Museu de Vila Real.

Da Idade Média ainda permanecem: 

- a Torre de Quintela

- as pontes da Ribeira, da Foz, da Pedrinha, de Abaças e de Torneiros

- as igrejas de Vila Marim (com os seus belos frescos), São Dinis, Folhadela e a Sé Catedral; 

- as capelas de São Brás, Guadalupe, Mouçós e Constantim; 

- os portais das igrejas de Guiães e de Valnogueiras, neste caso com alguns pormenores no interior do templo; 

- a rua da Vila Velha que saía para o Poente e alguns lanços das muralhas dionísias; 

- as imagens da Senhora do Desterro, que esteve em nicho nas portas da Vila, Santa Marinha de Águas Santas e a Senhora da Póvoa de Andrães; 

- os cruzeiros de Guadalupe, Borralha e Fonte Nova; 

- e a casula e o pluvial de Mondrões.

Do Renascimento, ficaram-nos: 

- o solar dos Marqueses de Vila Real, em estilo manuelino, 

- a capela-mor da igreja de São Pedro, 

- a abóbada da nave da igreja matriz de Mondrões, 

- as capelas da Misericórdia e de Lordelo e a ponte de Piscais

- os mais recentes frescos de Vila Marim e os de São Brás, Folhadela e Guadalupe; 

- meia dúzia de casas de Vila Real, 

- as imagens de Santa Luzia de Vila Nova e de Santo António de Gravelos; 

- os cruzeiros de Constantim, da Rua da Guia e do Carmo; 

- e uma cruz processional de Vila Cova, do tipo usado por São Bartolomeu dos Mártires.

O Barroco manifesta-se no Palácio de Mateus e na maior parte das igrejas. 

Haja em vista as matrizes da Campeã, Vila Cova, Pena, Torgueda, Mondrões, Parada de Cunhos, São Pedro, Mateus, Constantim e São Tomé do Castelo.

Todos estes testemunhos do passado são as raízes dos actuais vila-realenses, e devem ser acarinhados como riqueza inestimável a conservar e a transmitir aos vindouros.

No intuito de prestar ajuda neste sentido, publicamos este pequeno Roteiro Arqueológico e Artístico.

Aqui deixamos a nossa homenagem ao historiador de arte Nogueira Gonçalves, que nos serviu de imprescindível guia na descrição dos monumentos românicos, e à Câmara Municipal de Vila Real, que fez a publicação.”

In “Roteiro Arqueológico e Artístico do Concelho de Vila Real”, Pe João Parente (texto editado)

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