A intervenção arqueológica na Vila Velha

 

Vila Real em 1909, vista do Cemitério de São Dinis.
Em primeiro plano a Vila Velha

A Intervenção Arqueológica na Vila Velha

Idade do Ferro

Em relação às estruturas detectadas com cronologia da Idade do Ferro, podem-se referir: uma casa redonda na sondagem 4 (Fig. 2), lareiras na sondagem 1, 4 e 6 (Fig. 3), grelhas de forno na sondagem 4 e 6 e vestígios de muralha na sondagem 25 (Fig. 4).



Em relação ao espólio foram exumadas sementes junto a algumas lareiras, até ao momento não analisadas, e cerâmicas feitas à mão apresentando muita mica como desengordurante.

As cerâmicas são atribuíveis à Segunda Fase B, isto é, têm uma amplitude cronológica do séc. VII a.C. ao séc. V a.C., mas que podem chegar até ao séc. II a.C.

Algumas apresentam como acabamento, um alisamento feito com um pano.

Em termos de decoração aparecem os brunidos, os estampilhados de círculos concêntricos, e puncionamentos, mamilos, incisões, etc. (Fig. 5).

As formas mais comuns são as panelas de cozinha, apresentando algumas ainda restos de terem ido ao fogo. 

Na sua maioria são cerâmicas cozidas em forno oxidante, no entanto, existem alguns fragmentos que apresentam características de uma cozedura em forno redutor.

Surgem também peças atribuídas a uma fase final da Idade do Ferro com cerâmicas revelando indícios de uso do torno baixo.

Foram também detectados fragmentos de grelha de forno, na sondagem 4 na primeira fase dos trabalhos, e na sondagem 6 da terceira fase.

Ainda da Idade do Ferro foram exumados cossoiros e contas de colar.

Época Romana

A sondagem 6 mostrou um alicerce de um muro com apenas uma fiada de pedras e com um comprimento muito reduzido de características construtivas romanas (Fig. 6).

Pela sua reduzida dimensão e por ter sido o único vestígio de estrutura desta época não podemos afirmar que a Vila Velha teve uma ocupação importante nesta época.

Os materiais exumados embora abundantes, não surgiram em níveis de ocupação mas em camadas estratégicas de nivelamento para a construção das estruturas de Época Medieval.

Foram exumadas cerâmicas comuns (Fig. 7), sigillatae, cerâmicas de construção, vidros, numismas e contas de colar.

Tudo isto permite colocar a hipótese da existência de algum tipo de povoamento neste local, provavelmente arrasado aquando da ocupação medieval.

Época Medieval

Do período medieval foram detectados vários troços da cerca, estruturas habitacionais, arruamentos e materiais arqueológicos.

Em relação à muralha foi possível ter uma melhor compreensão logo na primeira fase dos trabalhos.

A sondagem 8 foi implantada junto à face interior da cerca na vertente Oeste e os resultados permitiram pôr a descoberto as suas fundações assentes na rocha-base (granito) com duas fiadas de embasamento mais salientes.

No entanto, não foi possível detectar a sua vala de fundação, visto as camadas estratigráficas encostarem à muralha e terem sofrido ao longo dos anos grandes revolvimentos devido à actividade agrícola.

Os trabalhos realizados permitiram conhecer o aparelho da muralha, constituído por silhares graníticos, bem aparelhados, refeito ao longo dos anos, não tendo sido detectadas siglas.

Novas informações sobre a muralha medieval foram registadas na sondagem 15, localizada junto à Porta Franca, na mesma vertente Oeste.

Verificou-se mais uma vez que foi assente em rocha granítica, embora esta zona tenha sofrido grandes alterações ao nível do seu aparelho. Foram também encontrados vestígios de uma torre adossada à muralha.

Na sondagem 25, localizada também na vertente Oeste mas a Norte da Porta Franca e no alinhamento da cerca medieval, foi detectada uma muralha da Idade do Ferro como já foi referido.

A sondagem 1 foi uma revelação, visto na primeira fase se ter aberto uma área de 20 m2 onde se puderam observar umas pedras de grandes dimensões cuja funcionalidade não foi possível apurar.

Na 3.ª fase verificou-se que as mesmas pertenciam aos alicerces da muralha medieval, e para além do troço de muralha, foi ainda descoberta uma torre adossada à cerca e suas valas de fundação.

Estes achados vieram revelar as Portas da Vila tão faladas entre os vila-realenses e foi por isso, pela sua importância, que foi realizada uma quarta fase de trabalhos para confirmar estes dados e serem uma mais valia para o projecto de recuperação urbanística, nesta zona da Vila Velha.

A quarta fase dos trabalhos veio reforçar os dados da terceira. 

Estamos perante um troço de muralha com uma torre rectangular adossada a Este (Fig. 8), e para Oeste foi detectada a planta de outra torre, da qual não foi possível detectar qualquer silhar, pois a rocha encontra-se completamente “rapada”.

Como já foi referido, as portas principais de acesso à Vila Velha eram conhecidas como as Portas da Vila, demolidas em 1873; sabia-se que eram as portas viradas a Norte mas não se conhecia a sua localização exacta, tendo sido detectadas na sondagem 1.

Na vertente Oeste ficava a Porta Franca, onde foram realizadas duas sondagens: uma a Sul da Porta a sondagem 15, e outra a Norte a sondagem 23.

Na sondagem 15 viam-se algumas interfaces escavadas na rocha antes dos trabalhos arqueológicos, o que levou à sua abertura para confirmar a existência desta torre.

Para além destas, foram ainda detectadas outras interfaces e alguns silhares do embasamento da torre com uma planta quadrangular.

Na sondagem 23 não foi encontrada nenhuma torre, embora se tenha deparado com um piso rochoso com vestígios de ter sido usado como calçada da Ruela, bem como o negativo do silhar e encaixe do tronco que fazia rodar a porta desta importante entrada na Vila Velha.

Há algumas referências a uma Porta virada a Sul, o que não se verificou, embora se tenham realizado duas sondagens nesta vertente.

Da Rua Direita foram encontrados vestígios na sondagem 6, sondagem 17 e na sondagem 1. Esta rua vinha das Portas da Vila em direcção à igreja que se encontra dentro do cemitério.

Na sondagem 1 apareceram vestígios da Rua de Trás-dos-Muros. Esta rua saía da Rua Direita junto às portas da Vila e contornava a muralha na sua vertente Este.

A Viela da Porta Franca saía da Rua Direita em direcção à Porta Franca aberta na vertente Oeste da Muralha.

Foram exumados materiais cerâmicos (Fig. 9), vidros, numismas e peças metálicas.

Fonte: "Mineração e povoamento na Antiguidade no Alto Trás-os-Montes Ocidental - Cap.9 - Formas de povoamento, continuidades e rupturas da Idade do Ferro à Época Medieval na região de Vila Real”, Susana Rodrigues Cosme (Arqueóloga, CITCEM) (texto editado)

Nota: foram realizadas intervenções arqueológicas na Vila Velha, pelo IPPAR, em 1996, e, posteriormente, no âmbito do Programa POLIS (2000/2005).

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