A Ponte Metálica e o Caminho de Ferro em Vila Real
Ponte Metálica sobre o Rio Corgo - 1903/1904 (postal) |
A Ponte Metálica e o Caminho de Ferro em Vila Real
A inauguração da
Ponte Metálica e a chegada do primeiro comboio são, para a população do
concelho de Vila Real, os momentos em que vê finalmente concretizadas as suas
mais importantes aspirações do séc. XIX.
Aspirações que,
enquanto projectos, concorreram para a decadência económica do Concelho a par
das devastações causadas pelo oidium
e pela filoxera, das frequentes
quebras dos negociantes de vinhos, do grande fluxo emigratório e da liberdade
de comércio.
Este último
factor foi, em contrapartida, o impulsionador dos dois grandes empreendimentos
já citados. Isto porque, o Governo ao decretar a liberdade de comércio viu-se
obrigado a compensar as suas desvantagens, consequência da repentina
transformação do sistema, dotando o Concelho de: uma rede de estradas servindo
a região do Douro, uma via férrea que permitisse um transporte rápido e seguro,
facilidades de vendas para os negociantes e estabelecimento de novos mercados
internacionais para a exportação do vinho.
Antes de
referirmos o papel preponderante que desempenham o Caminho de Ferro e a Ponte Metálica, nos primeiros anos do século [XX], analisemos alguns dos seus
antecedentes históricos.
Em 1872, como
tentativa de resposta do Governo a alguns dos problemas da Província, o
Ministro das Obras Públicas prometia ao deputado pela Régua, Agostinho Rocha,
que o Caminho de Ferro de Trás-os-Montes seria construído em simultâneo
com o do Minho.
No entanto, as
opiniões dos técnicos dividiam-se, já nesta altura, quanto ao percurso a seguir
a partir da Régua: uns sugeriam que acompanhasse o Douro até ao Pinhão,
terminando em Barca d'Alva; outros, e nestes incluíam-se as populações a norte
do Douro por razões óbvias, entendiam que na Régua deveria desviar-se do Douro
e seguir por uma das margens do Corgo, atravessando Vila Real, Chaves,
Bragança, entrando em Espanha.
Os anos
sucediam-se e as entidades locais (independentemente da facção política no
poder) faziam da concretização desta aspiração, ponto de honra dos seus
programas. Convém também realçar a contribuição dada neste sentido, pela
Imprensa, durante este período.
Festejos do caminho de ferro - Chegada do primeiro comboio à estação de Vila Real 1 de abril de 1906 |
Em 1903, face à
incapacidade demonstrada pelos primeiros concessionários relativamente as obras
do caminho de ferro, é decretado em Conselho de Ministros, a sua construção por
administração directa.
Paralelamente a
este empreendimento, foram feitas diligências, entre 1873 e 1877, no sentido de
se construir um Caminho de Ferro Americano, de Vila Real para a Régua, a
tracção animal (projecto inicial) ou a vapor (posteriormente).
«Trasmontana»,
assim se denominava a empresa exploradora (capital 200 contos) que, após a tentativa
infrutífera de instalação desta linha férrea, pretendia investir o seu capital
na empresa que mais tarde obtivesse a concessão do Caminho de Ferro.
O monumento à chegada do comboio a Vila Real e inauguração da Linha do Corgo
75ºaniversário - 1 de abril de 1906 - 1 de abril de 1981
Deste empreendimento
não resultou senão, uma maior degradação do estado de conservação da estrada, consequência
da colocação dos «rails».
Enquanto o
caminho de ferro não se tornou uma realidade, a atenção das autoridades locais
desviou-se, como alternativa, para a preservação e construção de uma rede de
estradas entre as principais localidades.
A ligação
diária, entre Porto-Vila Real- Chaves (pelo Marão) inicia-se em 1871, com o
estabelecimento da empresa da Mala-Posta.
Em 1893, a empresa
«Nova Viação do Minho e Douro», com Estação Geral em Vila Real, cria um serviço
de Diligências e Mala-Posta entre Régua-Vila Real-Pedras Salgadas-Vidago-Chaves
e outro, entre Chaves-Vila Pouca de Aguiar-Guimarães-Braga.
Possuía ainda
esta empresa Landaus, Coupés, Caléches, Victorias e Char-à-Bancs especialmente
para o transporte de passageiros para as estâncias termais (Pedras Salgadas e
Vidago).
Em 1901, a
Câmara Municipal, ainda dentro deste âmbito, envia ao Governo um pedido urgente
de reparação da estrada de Vila Real à Régua.
Uma vez
assegurados os trabalhos de construção do Caminho de Ferro e
incrementadas as reparações das estradas, torna-se possível a realização de um
velho sonho - a ligação das duas margens da Vila.
Projecto de
1889, incluído no estudo da estrada entre Mondim de Basto e Covelinhas, será
inaugurada a Ponte Metálica, em Maio de 1904.
24 de Agosto de
1903 [assinatura do "Auto da inauguração dos trabalhos do Caminho de ferro do Corgo"] , Maio de 1904 [inauguração da Ponte Metálica] e 1 de Abril de 1906 [chegada do primeiro comboio a Vila Real], datas das mais significativas para a
população do Concelho, pelo progresso económico que daí adviria e seus reflexos
sobre os aspectos sócio-culturais, são festejadas com cortejos cívicos, discursos,
bandas de música e festivais nocturnos no Passeio da Carreira, vivendo-se
momentos de grande exaltação regional.
Progresso
evidente dado que, a existência da Ponte ao permitir a ligação entre as duas
margens proporcionou, não só um local de passeio aprazível mas sobretudo,
tornou possível a expansão da Vila para uma zona onde, por razões de difícil
acesso, a população insistia em não se instalar.
Não é por acaso
que, a partir dessa altura, a margem conheceu um significativo crescimento
habitacional, que aí se construiu o Santuário a N. S. de Lourdes, se
projectou um Jardim, se instalou uma Fábrica de Cerâmica e que, posteriormente,
se abriu um Colégio. Isto para além, dos benefícios que trouxe às
importantes Quintas aí localizadas.
Por outro lado,
dada a melhoria das condições de acesso e o serviço prestado pelo Caminho de
Ferro, Vila Real passou a poder competir com outros centros de produção
agrícola, que tinham a possibilidade de colocar os seus produtos nos grandes
centros de consumo.
Se no essencial,
a instalação do Caminho de Ferro e a construção da Ponte visavam
unicamente equipar a Vila com novos meios de transporte e comunicação, certo é,
que irão não só valorizá-la como ainda será através delas que a Vila se
apresentará com uma nova imagem.
Imagem que
também podia ser dada por outros valores, tais como: a beleza paisagística, o
panorama agrícola, o comércio em desenvolvimento, a feira de St.º António,
as instituições de ensino e assistência, a vida cultural e o património
arquitectónico.
Valores estes
que, associados aos da importância administrativa, militar e religiosa, serão
utilizados como motivo de propaganda, pelos principais comerciantes locais, em
edições de Postais Ilustrados.
Propaganda que
ninguém melhor que a própria exposição presente documenta.
Março 1979
Elísio Amaral Neves
Fonte: Catálogo
da Exposição “O Postal Ilustrado veículo de propaganda do concelho de Vila
Real no início do século”, 9 a 13 de Junho de 1979, por ocasião da celebração
do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Vila Real (texto
editado e ampliado)