A Ponte Metálica e o Caminho de Ferro em Vila Real

Chegada do primeiro comboio a Vila Real | A Ponte Metálica e o Caminho de Ferro em Vila Real

A Ponte Metálica e o Caminho de Ferro em Vila Real

A inauguração da Ponte Metálica e a chegada do primeiro comboio são, para a população do concelho de Vila Real, os momentos em que vê finalmente concretizadas as suas mais importantes aspirações do séc. XIX.

Aspirações que, enquanto projectos, concorreram para a decadência económica do Concelho a par das devastações causadas pelo oidium e pela filoxera, das frequentes quebras dos negociantes de vinhos, do grande fluxo emigratório e da liberdade de comércio.

Este último factor foi, em contrapartida, o impulsionador dos dois grandes empreendimentos já citados. Isto porque, o Governo ao decretar a liberdade de comércio viu-se obrigado a compensar as suas desvantagens, consequência da repentina transformação do sistema, dotando o Concelho de: uma rede de estradas servindo a região do Douro, uma via férrea que permitisse um transporte rápido e seguro, facilidades de vendas para os negociantes e estabelecimento de novos mercados internacionais para a exportação do vinho.

Antes de referirmos o papel preponderante que desempenham o Caminho de Ferro e a Ponte Metálica, nos primeiros anos do século [XX], analisemos alguns dos seus antecedentes históricos.

Em 1872, como tentativa de resposta do Governo a alguns dos problemas da Província, o Ministro das Obras Públicas prometia ao deputado pela Régua, Agostinho Rocha, que o Caminho de Ferro de Trás-os-Montes seria construído em simultâneo com o do Minho.

No entanto, as opiniões dos técnicos dividiam-se, já nesta altura, quanto ao percurso a seguir a partir da Régua: uns sugeriam que acompanhasse o Douro até ao Pinhão, terminando em Barca d'Alva; outros, e nestes incluíam-se as populações a norte do Douro por razões óbvias, entendiam que na Régua deveria desviar-se do Douro e seguir por uma das margens do Corgo, atravessando Vila Real, Chaves, Bragança, entrando em Espanha.

Os anos sucediam-se e as entidades locais (independentemente da facção política no poder) faziam da concretização desta aspiração, ponto de honra dos seus programas. Convém também realçar a contribuição dada neste sentido, pela Imprensa, durante este período.

Em 1903, face à incapacidade demonstrada pelos primeiros concessionários relativamente as obras do caminho de ferro, é decretado em Conselho de Ministros, a sua construção por administração directa.

Paralelamente a este empreendimento, foram feitas diligências, entre 1873 e 1877, no sentido de se construir um Caminho de Ferro Americano, de Vila Real para a Régua, a tracção animal (projecto inicial) ou a vapor (posteriormente).

«Trasmontana», assim se denominava a empresa exploradora (capital 200 contos) que, após a tentativa infrutífera de instalação desta linha férrea, pretendia investir o seu capital na empresa que mais tarde obtivesse a concessão do Caminho de Ferro.

Deste empreendimento não resultou senão, uma maior degradação do estado de conservação da estrada, consequência da colocação dos «rails».

Enquanto o caminho de ferro não se tornou uma realidade, a atenção das autoridades locais desviou-se, como alternativa, para a preservação e construção de uma rede de estradas entre as principais localidades.

A ligação diária, entre Porto-Vila Real- Chaves (pelo Marão) inicia-se em 1871, com o estabelecimento da empresa da Mala-Posta.

Em 1893, a empresa «Nova Viação do Minho e Douro», com Estação Geral em Vila Real, cria um serviço de Diligências e Mala-Posta entre Régua-Vila Real-Pedras Salgadas-Vidago-Chaves e outro, entre Chaves-Vila Pouca de Aguiar-Guimarães-Braga.

Possuía ainda esta empresa Landaus, Coupés, Caléches, Victorias e Char-à-Bancs especialmente para o transporte de passageiros para as estâncias termais (Pedras Salgadas e Vidago).

Em 1901, a Câmara Municipal, ainda dentro deste âmbito, envia ao Governo um pedido urgente de reparação da estrada de Vila Real à Régua.

Uma vez assegurados os trabalhos de construção do Caminho de Ferro e incrementadas as reparações das estradas, torna-se possível a realização de um velho sonho - a ligação das duas margens da Vila.

Projecto de 1889, incluído no estudo da estrada entre Mondim de Basto e Covelinhas, será inaugurada a Ponte Metálica, em Maio de 1904.

Ponte Metálica sobre o Rio Corgo

24 de Agosto de 1903 [assinatura do "Auto da inauguração dos trabalhos do Caminho de ferro do Corgo"] , Maio de 1904 [inauguração da Ponte Metálicae 1 de Abril de 1906 [chegada do primeiro comboio a Vila Real], datas das mais significativas para a população do Concelho, pelo progresso económico que dal adviria e seus reflexos sobre os aspectos sócio-culturais, são festejadas com cortejos cívicos, discursos, bandas de música e festivais nocturnos no Passeio da Carreira, vivendo-se momentos de grande exaltação regional.

Progresso evidente dado que, a existência da Ponte ao permitir a ligação entre as duas margens proporcionou, não só um local de passeio aprazível mas sobretudo, tornou possível a expansão da Vila para uma zona onde, por razões de difícil acesso, a população insistia em não se instalar.

Não é por acaso que, a partir dessa altura, a margem conheceu um significativo crescimento habitacional, que aí se construiu o Santuário a N. S. Lurdes, se projectou um Jardim, se instalou uma Fábrica de Cerâmica e que, posteriormente, se abriu um Colégio. Isto para além, dos benefícios que trouxe às importantes Quintas aí localizadas.

Inauguração do Monumento a Nossa Senhora de Lourdes - Vila Real

Por outro lado, dada a melhoria das condições de acesso e o serviço prestado pelo Caminho de Ferro, Vila Real passou a poder competir com outros centros de produção agrícola, que tinham a possibilidade de colocar os seus produtos nos grandes centros de consumo.

Se no essencial, a instalação do Caminho de Ferro e a construção da Ponte visavam unicamente equipar a Vila com novos meios de transporte e comunicação, certo é, que irão não só valorizá-la como ainda será através delas que a Vila se apresentará com uma nova imagem.

Imagem que também podia ser dada por outros valores, tais como: a beleza paisagística, o panorama agrícola, o comércio em desenvolvimento, a feira de St.º António, as instituições de ensino e assistência, a vida cultural e o património arquitectónico.

Valores estes que, associados aos da importância administrativa, militar e religiosa, serão utilizados como motivo de propaganda, pelos principais comerciantes locais, em edições de Postais Ilustrados.

Propaganda que ninguém melhor que a própria exposição presente documenta.

Março 1979
Elísio Amaral Neves

Fonte: Catálogo da Exposição “O Postal Ilustrado veículo de propaganda do concelho de Vila Real no início do século”, 9 a 13 de Junho de 1979, por ocasião da celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Vila Real (texto editado e ampliado)

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