Quem foi Adelino Samardã?

Quem foi Adelino Samardã, cujos restos mortais aqui repousam, no mausoléu dos Bombeiros que ele tanto estremecia?

Aos que ainda não dobraram a casa dos 60, este nome pouco ou nada diz.

São para eles as breves palavras que vou proferir e a pobreza da minha linguagem, desde já, conta coma vossa benevolência.

Adelino Samardã, ou melhor Adelino Gonçalves da Silva Samardã, nasceu em Vila Real a 6 de Setembro de 1863.

Frequentou durante algum tempo o nosso Liceu.

Temperamento irrequieto, cedo o abandonou e passou a exercer o professorado primário do ensino livre.

Espírito culto, autodidata, muito novo abraçou o ideal republicano, arrastado por esse apóstolo da Democracia - Augusto César - que nesta cidade fundou o primeiro periódico, «O Trasmontano».

Nele colaborou, bem como em diversos jornais de Lisboa e Porto.

Mas... Adelino Samardã sonhava com algo de maior.

Em 1891, com Guilhermino Vieira da Silva, funda, nesta localidade, «O Povo do Norte», semanário republicano, que, em breve, se converteu num dos mais fortes baluartes daqueles ideais, em todo o norte do Pais.


Arqueólogo, jornalista consciencioso e honesto, nas suas páginas deixou Samardã derramada toda a sua vasta cultura e profundos conhecimentos da história política e social da nossa Região, tornando-se amigo de grandes vultos republicanos, como Magalhães de Lima, João Chagas, Sampaio Bruno, António José de Almeida, Bernardino Machado, Brito Camacho e tantos outros, que tinham por ele grande admiração.

Foi dos maiores colaboradores de Avelino Patena, na criação dos Bombeiros Voluntários de Vila Real, e um dos seus mais prestigiosos Comandantes.

A construção da nossa linha do caminho-de-ferro e a primitiva instalação elétrica tiveram, em Samardã, um acérrimo defensor, pois não podia ficar indiferente a tudo aquilo que dissesse respeito ao cantinho que lhe foi berço.

A ele se deve, também o Arquivo Distrital e Museu Regional que, naquela época, infelizmente, não passaram além das páginas do Diário do Governo.

Após a proclamação da República, a 5 de Outubro de 1910, e como prémio pela sua dedicação à causa da Democracia, foi chamado a exercer as funções de Governador Civil do Distrito, transitando de modesto professor primário para o mais elevado cargo hierárquico da sua Terra.

Não se envaideceu com isso.

Nessa situação dá Samardã largas provas do seu carácter, bondade e tolerância.

Pediam-lhe saneamentos, perseguições, lugares que pertenciam a outros, mas Samardã sorria e não dava ouvidos.

Os monárquicos de então tiveram nele um vencedor generoso e a República mais se dignificou.

Durante o tempo que permaneceu à frente dos destinos do nosso Distrito fez obra que lhe granjeou por toda a Região Trasmontana grande número de amigos e sinceras dedicações.

Não sendo católico, tinha, todavia, a maior devoção por sua Madrinha, Nossa Senhora da Conceição.

Todas as vezes que a doença o atormentava, mandava acender o lampião de azeite junto daquela imagem, no seu nicho em frente ao antigo quartel do R. I. 13, onde atualmente funciona o Instituto Politécnico.

Toda a sua vida foi um longo combate em prol da República, dos humildes e da sua Terra.

Na madrugada de 5 de Fevereiro de 1929 - há precisamente 50 anos - expirava, vitimado por uma broncopneumonia, aquele que, no dizer de um seu contemporâneo, «foi o amigo mais dedicado, o maior e mais inteligente bairrista que Vila Real se pode orgulhar de ter possuído». (*)

Agostinho Celestino, estudioso da história local e membro do NCMVR (texto editado e adaptado)

(*) Alocução proferida junto à campa de Adelino Samardã, aquando da homenagem que lhe foi prestada em 5 de Fevereiro de 1979



"Um aspecto do cortejo fúnebre do nosso saudoso director, Adelino Samardan, na sua passagem pela Rua Central" (in "O Povo do Norte", 24 de fevereiro de 1929)

Homenagem a Adelino Samardã (1979)

Passou no dia 5 de Fevereiro de 1979 o 50º aniversário da morte de Adelino Samardã, que foi o primeiro governador civil da república em Vila Real.

A Câmara Municipal, por proposta do Núcleo Cultural Municipal, prestou homenagem a este relativamente mal conhecido vulto da história local.

Do programa constava:

- 10 horas: romagem ao túmulo de Adelino Samardã, no cemitério de S. Dinis, com deposição de ramo de flores pelo Governador Civil e alocução pelo sr. Agostinho Celestino, membro do NCMVR e estudioso da história de Vila Real.

-11 horas: descerramento de uma lápide no Quartel dos Bombeiros Voluntários (Cruz Verde) e algumas palavras pelo Presidente da Câmara.

-11.30 horas: inauguração de uma rua com o nome de Adelino Samardã, no Bairro de S. Vicente de Paulo.

Associaram-se ao ato, além das entidades oficiais e das corporações de bombeiros da cidade, numerosos munícipes, entre os quais um antigo tipógrafo que ainda conheceu Adelino Samardã.

Fonte: Revista “Tellus”, nº 3-4 (Janeiro – Junho de 1979)

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