A cultura do tabaco no concelho de Vila Real - Achegas para a sua história
Quando em 1907 a Imprensa Moderna, numa das suas edições de postais ilustrados, publica duas imagens relativas à cultura do tabaco no concelho de Vila Real, mais não está do que a divulgar a importância que a mesma representa no contexto da produção nos 12 concelhos da Região Vinhateira do Douro devastados pela filoxera e autorizados por disposições legislativas de 1884 a receber esta cultura.
Esses
concelhos eram Santa Marta de Penaguião, Peso da Régua, Sabrosa, Alijó, Vila Real (ausente no diploma de 13 de
Março de 1884, mas contemplada posteriormente na adenda proposta pela Comissão
Geral da Cultura do Tabaco), Carrazeda de Ansiães, Figueira de Castelo Rodrigo,
Vila Nova de Foz Côa, São João da Pesqueira, Armamar, Tabuaço e Lamego.
A cultura
do tabaco era, até essa data, absolutamente proibida, embora praticada
clandestinamente já no séc. XVII, sobretudo por parte de eclesiásticos e
nobres, devido à jurisdição própria dos primeiros e à imunidade de que gozavam
os segundos.
O uso do
tabaco, inicialmente sob a forma de rapé,
conquistou, para além dos homens, muitas mulheres, nomeadamente as religiosas,
que o cultivavam à revelia dos governantes nos seus recolhimentos.
Assim, e independentemente das sistemáticas queixas apresentadas pelos contratadores, o tabaco era pisado e vendido fora dos estancos e, no caso particular da nossa região,
- no Convento das Freiras de Bragança,
- no Convento das Freiras de Vinhais,
- no Convento das Freiras de Murça
- e no Convento das Freiras de Santa Clara de Vila Real, ocupando a sua
produção muitas terras de pão.
Vila Real está pois e desde logo
por esta razão estreitamente ligada à cultura do tabaco, e conquista a condição
de principal produtor da região, quando a cultura é feita de forma legal entre
1884 e 1927.
Naturalmente
que para além da produção, (…) os arquivos de Vila Real estão repletos de
documentos sobre o Contrato do Tabaco e os seus protagonistas regionais e
locais.
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Timbre de papel de ofício da "Comissão Geral da Cultura do Tabaco no Douro - Porto", em 1888 |
Isto para
além de existirem publicações sobre o assunto escritas por figuras vila-realenses, como é o caso do comerciante, publicista e
inventor António Narciso Alves Correia, autor de «O Oidium e os philloxeras.
Sua origem e modo de os combater. Nova educação da videira e cultivo por meio
da replantação. Cultura do tabaco», Porto, 1882.
Finalmente,
lembramos grandes capitalistas locais, Miguel Augusto Carvalho, fundador da
Empresa das Águas de Vidago, que foi proprietário da fábrica de tabacos Flor de
Belém, ou outros diretamente relacionados com Vila Real, como o segundo marido de Dona Antónia Ferreirinha,
Francisco José da Silva Torres, que em Vila Real tinha muitos procuradores, que
o representavam nas dezenas de escrituras de compra de propriedades feitas
nessa ocasião e era possuidor de importante património na sede do concelho, de
que se destaca o Palácio de São Pedro, onde receberá os reis D. Luís e D.
Fernando e o ministro Fontes Pereira de Melo.
Silva
Torres esteve ligado aos negócios do tabaco pelo menos desde 1844, como
guarda-livros, fundador, diretor e acionista de diversas companhias, tendo
igualmente sido caixa-geral do Contrato do Tabaco na qualidade de arrematante,
com quatro outros grandes capitalistas, dos contratos nos triénios de 1858-61 e
1861-64.
Texto de Elísio Neves, no âmbito da Exposição; “A cultura do tabaco no concelho de Vila Real – Achegas para a sua história” – Museu de Vila Real – 18 de Novembro a 31 de Dezembro de 2003 (texto editado) |
Postais: Edição da Imprensa Moderna, Vila Real, 1907 – Fototipia | Reedição dos Serviços Municipais de Cultura - Vila Real – 2003 | Coleção: Vítor Nogueira