O concelho de Vila Real visto em 1943
O concelho de Vila Real em 1943
O
concelho de Vila Real é de primeira ordem, fiscal de primeira classe e comarca
de primeira classe.
Confina
com os de Vila Pouca de Aguiar, Mondim de Basto, Amarante, Santa Marta de
Penaguião, Régua e Sabrosa.
Com uma área de 371 quilómetros quadrados, possui 44.691 habitantes, dispersos pelas freguesias de: S. Pedro e São Diniz, pertencentes à cidade de Vila Real, Abaças, Adoufe, Andrães, Arroios, Borbela, Campeã, Constantim, Ermida, Folhadela, Guiães, Lamares, Lamas de Olo, Lordelo, Mateus, Mondrões, Mouçós, Nogueira, Parada de Cunhos, S. Miguel da Pena, Quintã, S. Tomé do Castelo, Torgueda, Vilamarim, Valnogueiras, Vila Cova e Vilarinho da Samardā.
[Atualmente, e depois de terminado o processo de fusão de algumas freguesias, de 30 existentes antes do processo, passaram a ser apenas 20 freguesias e uniões de freguesia].
Estas 28
freguesias abrangem cerca de 200 povoações e abrigam um povo, simples, pobre
mas laborioso, sendo a cidade de Vila Real que acolhe muitos dos habitantes do concelho
que vêm ocupar-se no comércio, na criadagem, no funcionalismo, nas indústrias,
etc.
Orografia e hidrografia
O terreno,
acentuadamente acidentado, principalmente granítico e xistoso, é dominado pelo
altivo Marão, com a altitude máxima de 1.415 metros, que ocupa o quinto lugar entre
as serras portuguesas. Forma com o Alvão uma barreira quási que intransitável
do lado poente, com aguçados píncaros e profundos córregos.
Toda a
hidrografia pertence ao Corgo, Pinhão e Douro, principalmente ao primeiro, que
percorre o concelho de Norte a Sul, entre altas e rochosas penedias.
O Corgo
possui junto a Vila Real os afluentes Tourinhas e Cabril, dando a paisagem uma
nota acolhedora e cheia de atractivos para o artista, não só pela sua beleza incomparável,
como pela série de moinhos que movimenta na sua descida vertiginosa, tornando-se
notável na sua confluência, a queda de água que fornece a energia eléctrica à cidade.
A
incomparável beleza das margens, desse rio coincide com o título com que se
honra Vila Real de Princesa do Corgo.
Produtos naturais e condições climatéricas
Encontra-se
grande quantidade de minérios, como volfrâmio, estanho e ferro.
Pode
dizer-se que é o granito que predomina em toda a região, sendo uma pequena
parte do solo constituída por xistos e calcários.
As águas
são geralmente de boa qualidade, entre elas as do Alvão (contraforte do Marão),
que abastecem a cidade.
O clima é seco, irregular, com temperaturas extremas de 42° à sombra no verão e 10" negativos na relva, no inverno.
Daqui se depreende ser a amplitude térmica
deveras notável devido principalmente ao Marão, que não permite que as brisas
marítimas possam vir beneficiar a região, com a sua acção regularizadora da
temperatura
Chove durante a maior parte do ano, aparecendo grandes nevões que cobrem e ficam a toucar os mais altos píncaros, durante alguns meses.
São vulgares no inverno as
geadas, ao passo que em Agosto e Setembro o calor se torna esbraseante, secando
as fontes e havendo demoradas calmarias.
O mais
importante produto da terra é o vinho, de excelente qualidade, principalmente o
da região demarcada do Douro.
Cultivam-se
numerosas frutas, cebolas, batatas e hortaliças, os cereais em menor escala.
Existe
também em abundância gado bovino, suíno e caprino.
As
indústrias caseiras, características de cada região, rudes e simples como a alma
do povo, não abundam já, embora ainda se trabalhe em alguns pontos em olaria, madeiras, telha, carvão vegetal
e pouco mais.
Acessibilidades e património construído
Encontram-se
boas estradas, que dão acesso a maravilhosos cenários, naquela serra admirável,
que bem merece a sua recente Pousada.
Panóias, o Palácio de Mateus, a torre de Quintela e monumentos vários espalhados por todo o concelho, são lugares
obrigatórios para o turista que se quiser deliciar com a paisagem grandiosa
desta região privilegiada, cujas freguesias remontam a recuadas eras, como
atesta a sua história e os seus antigos forais, como adiante se verá nas suas
respectivas descrições.
E se a
paisagem bárbara e estranha, seca e adusta no verão, toda branca de neve no
inverno, não fosse suficiente para prender e enlevar o visitante, bastaria para
isso a magia rara das suas canções, dos arraiais, festas e romarias, filhas da
crença pura, singela e galhofeira dos naturais do concelho de Vila Real.
Fonte: “Distrito
de Vila Real – Tomo I – Julho de 1943: O concelho de Vila Real”, Bandeira de
Tóro (texto editado e adaptado) | Imagem: Paços do Concelho de Vila Real em 1943 (imagem retirada da obra referida)