E se Vila Real tivesse passado a chamar-se Cidade Real?

Vila Real vista da ponte do Corgo

Fac-simile de uma gravura segundo um esboço de António Lopes Mendes,
publicada no "Archivo Pittoresco", vol. VI, Lisboa, 1863
Museu de Vila Real, 2001

Texto da petição que um grupo de vila-realenses, encabeçados pelo Presidente da Câmara, enviou a D. João VI, na qual solicitavam a D. João VI a elevação de Vila Real a Cidade Real, com a criação de um Bispado.

“E porque, além de outras razões, foram os realistas vilarealenses os primeiros a revoltarem-se contra a Constituição de 1822, entendeu-se o momento oportuno para solicitar de El-Rei a elevação de Vila Real a Cidade Real.

«...... Nesta, pelos habitantes desta Vila Real foi apresentado um requerimento para esta Câmara o dirigir a Sua Majestade Fidelíssima, para o efeito de elevar esta Vila Real a Cidade Real em razão dos benefícios que os mesmos habitantes fizeram em serem os primeiros que aclamaram a El-Rei nosso Senhor, com restituição dos seus reais direitos, em dia vinte e três de Fevereiro, cujo requerimento é do teor seguinte

Senhor

A Câmara e os habitantes de Vila Real de Trás-os-Montes abaixo assinados, firmes nos seus mais sagrados deveres de fidelidade, amor, respeito a Vossa Majestade e a sua Augusta Real Família, têm manifestado sempre em todos os tempos a Vossa Majestade, à Nação e ao Mundo inteiro, que com firmeza de carácter sustentam suas virtudes cívicas, já herdadas dos seus maiores, a legitimidade e soberania do seu adorado Monarca e dignidade do Trono Português, que têm defendido até com entusiasmo. 

Sim, Senhor, os recorrentes nas épocas mais difíceis e de crise fatal à Monarquia, têm constantemente dado evidentes provas de adesão a Vossa Majestade e públicas demonstrações da sua fiel conduta, desaprovando os princípios subversivos, as máximas absurdas à experiência de tantos séculos, escandalosas e opostas aos sãos princípios da ordem social, moral e política.

Já eles, no memorando dia - dia da maior glória dos vilarealenses dezasseis de Junho de mil oitocentos e oito, foram os primeiros em aclamar a Vossa Majestade e que deram o primeiro grito para a restauração dos direitos de Vossa Majestade e do Trono, então usurpados pelo intruso Governo Francês; foram os primeiros que acudiram à Régua a atacar e combater o experimentado General Loison e afugentaram suas tropas aguerridas e conseguiram que, a seu exemplo, todo o Reino se revolucionasse, combatesse e expulsasse dele os Generais e soldados franceses.

Os Vilarealenses foram... Ah! Senhor! Todos sabem as fadigas, as despesas, os trabalhos, os cansaços, as perseguições, as mortes e o mais que sofremos... porém, conseguiu-se o fim.

Igual, se não maior, é o dia vinte e três de Fevereiro deste ano de mil oitocentos e vinte e três, dia este que será marcado na História Portuguesa como salutar, imortal de heroísmo para os Vilarealenses, porque nele, contra todo o poder da força e do sistema do Governo Constitucional, foram os primeiros em aclamar a Vossa Majestade livre, propugnando pela restituição de seus imprescritíveis direitos e do Trono que Vossa Majestade ocupa para honra e defensão dos bons portugueses.

Não é aqui lugar próprio, Senhor, de relacionar especificadamente o valor individual dos Transmontanos Vilarealenses; eles desempenharam este seu nome desenvolvendo seu natural entusiasmo, excedendo-se no amor a Vossa Majestade, comunicando aos povos este interesse geral, tão amalfamado em todos que formando um............ (?) inexpugnável nem uma força oposta, por maior e mais superior, os não pode nem poderá jamais convencer.

Desde que El-Rei o Senhor Dom Diniz criou e deu o nome a esta Real Vila e encerrou dentro dos seus muros os seus habitantes, de que descendem os recorrentes, sempre os Vilarealenses foram fiéis a seus Soberanos e desde tempos anteriores ao ano de mil trezentos e vinte e um, em que o mesmo Senhor Rei lhes deu o seu primeiro foral.

Esta constante fidelidade e amor tão radicados e inabaláveis nos corações dos recorrentes, os fazem estes patentes a Vossa Majestade, a par dos serviços acima expostos, para que Vossa Majestade benignamente os atenda dignando-se elevar esta Vila Real a ser Cidade Real, com a criação dum Bispo com rendas suficientes e com seu particular Cabido e Sé e Cónegos, separando-se do Distrito do Arcebispado de Braga quanto seja bastante, demarcando-se este novo Bispado pelo Rio Tâmega, para o que estiver em toda esta Província de Trás-os-Montes, pertencente ao dito Arcebispado, fique pertencendo ao da Cidade Real com as competentes rendas e dizimárias que até agora têm sido da Mitra Primaz nesta dita Província.

Pede a Vossa Majestade a mercê de atender os suplicantes e deferir-lhes como respeitosa e humildemente requerem

Espera receber a mercê

O Presidente da Câmara, Francisco Luís de Oliveira

O Vereador, Brás Gonçalves Pereira

O Vereador, Manuel Joaquim Botelho Teixeira e Melo

O Procurador, António Jacinto Alves Nunes

O Secretário da Câmara, Inácio Botelho Silva de Barbosa e Sousa

Martinho de Magalhães Peixoto, Tenente-Coronel Comandante do Terceiro Batalhão de Caçadores

António Botelho Correia Guedes do Amaral

Frei José do Rosário Correia de Carvalho, Presentado em Santa Teologia e Vigário in capite do Convento de S. Domingos

Frei Manuel Luís de Jesus Maria

Frei José Maria Ferros, Pregador Geral

Frei João dos Prazeres Lobo

Frei Manuel de Lemos, Pregador Geral

Frei Manuel Machado da Silva Frei Francisco Cabral.»

(Seguem-se cerca de 300 assinaturas - Vereação de 20-8-1823 - Pág. 45 v.).”

Fonte: “Do passado de Vila Real – Apontamentos (Maio de 1666 a Novembro de 1850)”, Luís Cyrne de Castro. Coimbra. 1959 (Texto editado e adaptado)

Nota: O documento original desta exposição foi encontrado num Livreiro Antiquário, em 1987, pelo então Presidente da Região de Turismo da Serra do Marão. Após comunicação à Câmara Municipal de Vila Real, esta, em Reunião do Executivo de 19.02.1987, deliberou adquiri-lo por 30.000$00 (Trinta mil escudos).

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