A Feira de Santo António em Vila Real (1919)
A Feira de Santo António
A origem
das feiras portuguesas perde-se nos tempos remotos do período de formação histórica
da nossa nacionalidade.
Foram
sempre uma necessidade nas relações comerciais e agrícolas do nosso povo, para
a troca, a compra, a venda e, a princípio, as oscilações do câmbio.
No reinado de D. Fernando, as feiras tiveram uma grande importância.
E ainda hoje,
por todo o Portugal, se realizam, sendo, porém, as mais pitorescas, as que têm
a caracterizá-las um cunho verdadeiramente tradicional, as do Minho e de
Trás-os-Montes.
Uma barraca de tenda no Carmo.
O
Alentejo tem as suas grandes feiras de gado, o Algarve tem também as suas
feiras, mais ou menos características, mais ou menos pitorescas.
As
feiras... quanta recordação e quanta saudade neste simples nome!
Quanta
confidência que os namorados guardam para esse dia solene, em que as moças se
vestem de gala para receber os seus noivos!
Porque as
feiras andam ligadas às romarias e quando se festeja um santo em qualquer
ermidinha branca dos nossos montes, realiza-se uma feira no eirado
circunjacente à capela.
Em Vila Real de Trás-os-Montes, a linda terra que o Corgo banha e todos os «touristes»
visitam, a capelinha do Calvário domina um extenso panorama, de alguns
quilómetros em redor.
É ali que
se realiza a feira de Santo António, tão conhecida em toda a província.
Em Vila Real: um aspeto da rua D. Margarida Chaves (1) num dos últimos dias de feira.
As
barracas de tenda dão à rua Margarida Chaves (1) e às ruas adjacentes, o aspecto
policromo das feiras da Idade Média.
E a
«élite» da terra passeia ali, ao cair da tarde, quando o sol se esconde no
poente, doirando as águas revoltas do Corgo.
Romeiros conduzindo a imagem de Santo António percorrem as ruas da vila, angariando óbulos para custeio dos tradicionais festejos
Pela noite dentro, as barracas de «comes e bebes» atulham-se de forasteiros, que saboreiam gulosamente os loiros covilhetes.
E os apreciados pastéis de Vila
Real que as freiras de Santa Clara nos legaram, falam-nos ainda da intriga
velada dos conventos e da guloseima tradicional das recolhidas.
A linha férrea da Régua ao Vidago, que se estende já quási até Chaves, passando pela linda estância das Pedras, é uma das mais belas do país pela variedade do panorama, que ora se desenrola em veigas fecundantes que marginam o Corgo, ora em altas penedias que se erguem para o céu como guerreiros estáticos aguardando a hora do combate.
Na gare do caminho de ferro: o movimento de forasteiros em dias de feira.
O Marão é
como que a sentinela avançada da província, estendendo o seu dorso nevado pelo
distrito de Vila Real e deu origem àquele prolóquio, conhecido de todos: para
cá do Marão mandam os que cá estão.
(Clichés do distinto colaborador artístico da Ilustração Portugueza, sr. Miguel Monteiro, de Vila Real)
Fonte: Ilustração Portugueza, 21 de Julho de 1919 (texto editado e adaptado à atual ortografia)
(1) eventual confusão com a atual Rua Ten. Manuel Bessa Monteiro.