"Coincidindo com
a viagem d'El-Rei às Pedras Salgadas,
para a sua cura de águas deste ano, o governo autorizou a abertura à exploração
provisória do novo troço da linha férrea
do Douro, que fica ligando Vila Real
com aquela afamada estância minero-medicinal.
A respectiva
inauguração realizou-se, pois, no domingo 14 do corrente [Julho de 1907].
O novo caminho-de-ferro,
cujo percurso é de 37 quilómetros, segue de Vila Real, em rampa, até Vila
Pouca de Aguiar, começando desde este ponto a descer até às Pedras Salgadas.
Parte do
trajecto faz-se entre elevadíssimas e alcantiladas montanhas, e em quási todo
ele o rio Corgo acompanha o comboio,
correndo ao seu lado em ziguezagues caprichosos.
A vegetação é
por toda a parte exuberante e viçosa, e a paisagem apresenta uma grande
diversidade de aspectos graciosos.
É por isso que,
apesar de lhe faltarem obras de arte importantes, o ramal de Vila Real às Pedras Salgadas fica sendo uma das linhas
mais pitorescas do país, da mesma forma que, sob o ponto de vista económico,
assume uma indiscutível utilidade para a região que serve, tendo, além disso, o
mérito de facilitar o acesso à magnífica estação de águas transmontana.
Antigamente, de
Vila Real às Pedras Salgadas, o
trajecto com quanto relativamente fácil, e embora feito por estradas
pitorescos, era em todo o caso, alguma coisa aborrecido para os viajantes desta
época, a quem os requintes de comodidade e as conveniências de rapidez, que
oferece o caminho-de-ferro, fazem desdenhar a poesia e o imprevisto das velhas
jornadas com os meios clássicos de transporte.
Agora nem resta
já esse pretexto fútil para alegar.
A formosa
estância de Verão, com a sua admirável paisagem de montes e vales, com todos os
seus celebrados encantos, tornou-se acessível aos mais exigentes de todas as
facilidades da vagabundagem luxuosa e de prazer.
E como as Pedras Salgadas ficam no coração de Trás-os-Montes, devemos esperar que
essa linda e forte província, que tão lindos espectáculos da natureza oferece
aos olhos do forasteiro, e é, contudo, ainda tão pouco conhecida, será daqui
por diante mais visitada e mais merecidamente apreciada.
É o que tem
sucedido a todos os pontos onde a linha férrea tem ido penetrar; é o que
sucederá decerto a Trás-os-Montes
daqui por diante.
E bom é que nos
resolvamos a visitar também esta linda terra de Portugal, que tão abandonada
anda da nossa curiosidade, injustamente absorvida de preferência pelas coisas
de lá de fora, que só, em segundo lugar, deveríamos sentir o desejo de ver."
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Na Régua: aguardando a chegada do comboio real |
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Entrada do comboio na gare da Régua |
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Em Vila Real: à espera do comboio régio. |
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O 13 de Infantaria formado na cais da estação de Vila Real |
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Em Vila Real: em continência |
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El-Rei e a comitiva recebendo cumprimentos |
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O pessoal da nova estação |
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À saída da gare |
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Nas Pedras Salgadas: A carruagem régia |
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Os carros da comitiva real |
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Uma manifestação na gare |
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À saída da estação |
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El-Rei apeando-se à porta do hotel Avellames |
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Os velhos transportes... resistindo ao progresso |
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Manifestações monárquicas |

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Tipos populares de Trás-os-Montes |
(Clichés de Benoliel, enviado especial da
«Ilustração Portuguesa»)
Fonte:
"Ilustração Portuguesa", nº 74 - 22 de Julho de 1907 (texto editado e
adaptado) | Imagem de destaque: Postal Ilustrado - Fototipia - c. 1912 - Edição da Casa M. J. David Guerra - Vila Real. Reedição dos Serviços Municipais de Cultura - Vila Real, 1999
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