O Padrão Centenário dos Transmontanos
Transmontanos:
Falo-vos do alto do Marão!
«O Padrão
Comemorativo dos Centenários da Pátria, que hoje, nós, representantes
vossos, aqui viemos cimentar sobre esta Primeira Pedra Fundamento, erguer-se-á
nas cumeadas do Marão, para dominar montes e vales e aqui ficar, como um sinal
do nosso tempo, a recordar às gerações vindouras a inquebrantável «Fé»
e o comprovado «Patriotismo» das gentes desta Província de
Trás-os-Montes e Alto Douro.
Neste Monumento
Histórico, que prevemos singular, se simbolizará, com exuberância e perfeição,
pelo plano elegante do projecto e traça artística que comporta, um Passado de
Oito
Séculos, cuja grandeza e vigor os tempos se habituaram a respeitar.
Este Padrão
reunirá, com harmonia, sobriedade, firmeza e equilíbrio, o medieval com o
moderno, o religioso com o profano, o histórico com o artístico... uma
concepção felicíssima, uma inspiração poema, que vai alinhar-se, em versos de
pedra cantante, arrancada da grenha hirsuta do Marão, para aqui ficar, de pé,
no mais alto da montanha, assente sobre rochedos ciclópicos e sobre neves
invernais, majestaticamente vestido com o manto dos nevoeiros, para, através
dos séculos, convidar as almas das futuras gerações transmontanas a recordar a
História, a Fé e o Valor da Gente Lusa.
Padrão de
transmontanos, monumento votivo do Passado glorioso da Pátria, pensado por
transmontanos, saído de mãos transmontanas e construído com materiais de Trás-os-Montes,
é obra de arquitectura que o consagrado talento de Baltazar de Castro
animou e Rogério de Azevedo soube traduzir em salientes traços de
mestria, arrancados à sua inspiração de português, ao seu amor pela História,
ao comprovado valor da sua arte.
Sonhado pelo Governador
Civil de Vila Real, em breve o sonho se fez realidade, se tornou pensamento
colectivo, vontade unânime e deliberado aplauso de todas as Câmaras do Distrito
e da Junta desta Província Transmontana que, se não é a mais linda do
País, é sem dúvida, das mais caracteristicamente portuguesas de Portugal.
Este Padrão
Centenário, pois, ficará bem aqui, erguido sobre o peito gigantesco desta
colossal montanha, para ver passar os séculos e as gerações da Pátria, a
ajoelhar a seus pés, em embevecido enternecimento, na contemplação da maior beleza
panorâmica da nossa Terra e a rememorar as grandezas da nossa História, em
arroubos de fé e de esperança num Porvir de certezas cheio, para maior glória
de Portugal.
No Pico da
Freita, agulha mais saliente e altaneira da recortada crista do Marão,
dominando cerros e vales, este Padrão se erguerá, gravando, no céu dos
transmontanos, os braços de uma
Cruz, como larga bênção de Deus Omnipotente aos que de futuro nos visitarem
para admirar a feracidade primorosa e ao mesmo tempo dura e forte destes rincões
montanhosos... e também para, dia a dia, dar coragem e fé, nas labutas e
sacrifícios da vida, aos habitantes desses Casais que hão-de fumegar, séculos fora,
pelas quebradas dos montes e encostas rochosas destas Terras que a Criação, em
formidáveis convulsões cósmicas, amontoou e ergueu para o Céu, para nelas
melhor se poder orar, trabalhar e amar, mais alto, mais no seio do Infinito e
muito mais perto de Deus.
Altar e Padrão dos Transmontanos, votivo sinal de uma promessa feita à Pátria e ao Todo Poderoso, nele se conjugarão em íntimo enleio e fraternal abraço, o «medieval» da Fundação com o «moderno da Renovação, estreitamente ligados pelo “religioso” - corpo e alma de uma Nação que, do seu pequeno solar na Europa, dominou mundos desconhecidos e civilizou gentes ignoradas, levando por toda a parte, com o sangue dos seus mártires e a vida dos seus heróis, a Lei de Cristo, e dos nossos Reis, que foram nos séculos XV e XVI os mais poderosos do seu tempo e os mais fecundos na sementeira da Fé, da Humanidade e do Progresso.»
Do Relatório de 1940 «Sem Parar» [Atividade do Governador Civil de Vila Real, Tenente Horácio de Assis Gonçalves]
Fonte: “O Concelho
de Vila Real”, Julho de 1943 – Bandeira de Tóro (texto editado e adaptado)