A Capela do Espírito Santo: onde esteve e onde está?

Capela do Espírito Santo

Quinta de Prados / UTAD

A Capela do Espírito Santo terá sido construída no século XIV, pelos morgados de São Brás, pelo que, frequentemente, também era conhecida por capela do Hospital de São Brás. Ainda no séc. XIV (1385) D. João I concede carta de privilégios ao Hospital e albergaria de São Brás.

Passados pouco mais de 250 anos, a partir de 1644, e na sequência de vários milagres atribuídos à imagem de Cristo crucificado existente nesta capela, a mesma passa a ser conhecida por Capela do Bom Jesus, tendo passado a realizar-se, no dia 10 de Maio de cada ano uma festa totalmente suportada pelo comendador de Tresminas, D. Gregório Castelo Branco.

Com o falecimento do comendador de Tresminas, em 1719, a festa dedicada ao Bom Jesus passou a realizar-se por devoção dos habitantes.

Capela do Espírito Santo

Capela de Cristóvão Gonçalo  no Largo do Pioledo (segundo uma fotografia do sr. Lopes Martins)
Fonte: "Branco e Negro", nº23-26, 1896 


Nas “Memórias de Vila Real”, datadas de 1721, é referida a existência, “no fim do Campo do Tabolado, da Capela do Espírito Santo ou do Hospital, uma vez que possuía adossado um hospício para viajantes pobres, que tivessem mais de três dias de jornada; a capela era então administrada pelo morgado de São Brás, Bernardo José Teixeira Coelho de Melo Pinto, fidalgo da Casa Real e morador na vila, e possuía quatro missas semanais, feitas por dois capelães.”

Também nas “Memórias Paroquiais da freguesia de São Dinis” (03.03.1758), é feita referência, pelo pároco José Francisco Esteves de Carvalho, à capela do Bom Jesus do Hospitalcomo tendo casa ou albergaria para acolher passageiros e pobres que adoeciam e que não tinha quem deles tratasse; tinha ainda outra casa pegada pelo interior para um ermitão ou assistente, o qual pedia esmola pela vila e seu termo para o sustento dos doentes; era então administrador da capela Gonçalo Cristóvão Teixeira Coelho de Mello de Mesquita Pinto.”

No séc. XIX a capela do Espírito Santo é transferida do Campo do Tabolado para o Pioledo.


A Capela do Espírito Santo no lado direito da fotografia.

A acta da sessão da Câmara de 26 de Agosto de 1865 faz referência a “um requerimento de José António Teixeira Coelho, em que, devido à expropriação dos seus terrenos e edifícios pela Direcção das Obras Públicas, necessários para a construção da nova estrada dentro da vila, cedia o valor ou preço da expropriação que lhe era devido pela demolição da albergaria e capela do Espírito Santo, pertencentes ao seu antigo vínculo de São Brás e de que era o administrador, virada ao Campo e Rua do Rego, com a condição de se reconstruir a capela no Campo do Pioledo, com o mesmo quadro e proporções que tinha.

José António Teixeira Coelho requeria assim que se lavrasse contrato onde se expressasse o direito do suplicante e de seus sucessores e herdeiros de propriedade da Capela, que então já se andava a reconstruir no Campo do Pioledo à custa da dita Direcção de Obras Públicas.

Por unanimidade, a Câmara decide que, devido à área do solo onde a capela estava a ser reconstruída ser municipal, a Câmara confirmava a cedência do solo ou área compreendido entre as paredes da nova capela ao suplicante, mas estipulava que fora das paredes nada lhe pertenceria.”

Passados 22 anos, 1887, a acta da sessão da Câmara de 9 de Julho de 1887 “refere que a capela servia de paiol de pólvora do Regimento de Infantaria nº 13; um vereador propôs que se mandasse pagar 9$000 (importância da renda da casa onde se achava o paiol), a D. Maria da Graça Teixeira Coelho, o que foi aprovado”. A partir de Julho de 1890, a capela deixa de servir de paiol.

A 13 de Maio de 1891, e “tendo em vista a abertura do 2º lanço do ramal da estrada municipal nº 15, compreendido entre os Paços do Concelho e a Carreira de Baixo, hoje Avenida Almeida Lucena, a Câmara decide propor ao proprietário da capela a sua demolição e expropriação por 100$000, de que se excluía o preço do material, pois esse ficava sendo do expropriado.

Dado que em 1896 a capela ainda se erguia no Campo do Pioledo, a acta da sessão da Câmara do dia 6 Maio desse ano “refere a urgência da expropriação da capela e respectiva demolição, devendo tratar-se disso com o seu proprietário José Xavier Teixeira de Barros.”

Passados 47 anos da deliberação da Câmara, a referida a capela do Espírito Santo ainda se encontrava no Pioledo, conforme mostra foto do Dispensário da Assistência Nacional aos Tuberculosos, publicada, em Julho de 1943, na obra “Concelho de Vila Real”, de Bandeira de Tóro.

Só posteriormente, foi desmontada e reconstruída na Quinta de Prados;

A Quinta de Prados foi adquirida, em 1975, pela Comissão Instaladora do Instituto Politécnico de Vila Real, que veio dar origem à UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro).

Com a adaptação da habitação e das instalações rurais dos proprietários da antiga quinta a auditórios, salas de aulas, gabinetes, laboratórios e serviços, em finais de 1980 a capela foi desmontada para ser trasladada e reconstruída numa propriedade, em Guimarães, dos morgados de Abaças, antigos donos da Quinta de Prados.

O interesse da Comissão Instaladora em mantê-la na UTAD, e o movimento da cidade para a sua preservação, resultou na sua classificação como Imóvel de Interesse Concelhio, seguido da sua reconstrução e restauro.”

O brasão

O brasão da fachada principal pertence aos morgados de Abaças e foi removido durante a 1ª metade do séc. 20 do presbitério da Igreja de São Domingos, do lado do Evangelho, do degrau que fazia cabeceira à sepultura privativa dos morgados, tendo depois sido depositado no átrio do Governo Civil. Representa no I quartel as armas dos Teixeiras, no II, as dos Coelhos, no III as dos Pintos e no IV as dos Melos, apelidos representando a união da Casa de São Brás dos Teixeiras Coelhos de Melo com a de Abaças dos Pintos da Mesquita.”


O brasão da fachada principal da Capela do Espírito Santo pertence aos morgados de Abaças

Fonte do texto e citações

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