António Augusto Teixeira de Vasconcelos, governador civil do distrito de Vila Real.

António Augusto Teixeira de Vasconcelos

(Segundo fotografia de M. Touranchet)


António Augusto Teixeira de Vasconcelos nasceu no Porto, a 1 de Novembro de 1816, e faleceu em Paris, a 29 de Junho de 1878.

Foi Governador Civil do distrito de Vila Real desde o dia 30 de Outubro de 1846 até 12 de Março de 1847, "ainda que descontinuadamente, uma vez que Vila Real foi, por diversas vezes, ocupada pelas forças adversárias da Junta e fiéis ao Governo de Lisboa, assim como pelas forças miguelistas de Macdonell (21.01.1947)." (1)

Sobre ele, Camilo Castelo Branco disse que foi «o mais rijo pulso de atleta que teve a arena dos gladiadores políticos em Portugal».

"Teixeira de Vasconcelos pode ser considerado como um homem do mundo, como político, como literato, como jornalista.

Em todas estas diversas manifestações encontra-se uma linha de grandeza que, se bem não seja suficientemente firme para lhe assegurar a perpetuidade do nome, concorre todavia para o afirmar dintintamente. (...)

Entrara moço nas agitações da vida política.

Aos dezassete anos deviam ficar-lhe bem nos ombros as filigranas das dragonas de capitão de milícias.

Gentil, arrojado, a sua fantasia inspirada simplesmente em prejuízos, inculta a sua bela e juvenil inteligência, o oficial do exército real estava no seu lugar.

Estudante de Direito, fora, em Coimbra, rapaz estroina, premiado, falador, cursando a sua faculdade no meio de controvérsias políticas e académicas, numa anarquia completa de estudo e leitura. (...)

Na Junta do Porto foi ainda um militar entusiasta, cheio de vida: era a sua casa o centro da mocidade mais ardente e distinta que se designava então por alta patuleia.

Fez aí a sua vigorosa iniciação na imprensa de combate, sustentando polémica vigorosa com o Times: administrou - em nome da Junta e da Rainha - o distrito de Vila Real, e redigiu o convénio de Gramido.

Gastou imenso; não conhecia, por génio e por educação, outro modo de viver que não fosse o da opulência. (...)

Empobreceu, vendeu o que tinha, viu ir para mão de estranhos a sua casa de Coura [em Bitarães, concelho de Paredes] onde se fizera homem, num viver despreocupado, altivo, na convivência fidalga com a nobreza dos arredores de Penafiel e Felgueiras, restos dos antigos senhores, reduzidos à posse de pequenas casas, mas provincianamente livres e orgulhosos. (...)

Verdade é que a este tempo criava António Augusto outro solar. Era o Porto.

Já liberal sincero, lembrava-se de que tinha nascido no Porto, e que nele nascera também a liberdade pátria. (...)

Quando a necessidade o obrigou a trabalhar, e a expatriar-se, pensou que advogando em Luanda faria fortuna. Prestou ai serviços, e escreveu sobre o tráfico dos escravos.

Voltou pobre como tinha ido, e perseguido, ainda que injustamente. (...)

Uma das grandes qualidades do seu talento é a fácil aplicação dele nas variadas espécies de literatura.

Engenho enciclopédico, deixa três romances que, se não cunham uma reputação, são elegantes e singelamente escritos, e de géneros diferentes, bem que se ressintam todos de uma instrução demasiadamente clássica.

Ensaiou no Prato d'arroz doce, o romance histórico e sobre dar-lhe interesse. Na Ermida de Castromino, foi um escritor romântico. Na Lição ao Mestre teve traços felizes na descrição da vida provinciana, e o tipo de Domingos de Sampaio saiu-lhe correcto.

Conhecia muito aquele meio, lembrava-se dele com saudade, tratara mesmo aqueles personagens, e tal foi o suficiente para escrever cenas cheias de realismo por entre a monotonia da acção.

Quis dar ao povo livros populares e salutarmente bem dirigidos. Alguns publicou que honram o seu nome.

Les Contemporains e as Glórias Portuguesas são obras para estimularem brios e inspirarem virtudes cívicas.

Para o teatro fez duas comédias finamente dialogadas.

Como político, a sua vida pública é leal.

Pode-se afirmar que desde que se fez liberal esteve sempre no mesmo partido.

Era partidário de valor na imprensa e na câmara. Nunca entrou em transações que amesquinhassem o carácter.

Aceitou comissões no estrangeiro que cumpriu com dignidade, e ia no desempenho duma para Estocolmo quando morreu.

Tinha a franqueza de contar o que a sua filosofia lhe permitia aceitar como jornalista: facto vulgar em quase todos os países constitucionais, e em todos os partidos, que mais traduzem uma necessidade de governar do que significam um deslustre.

A anarquia da política do seu tempo releva e autoriza estes meios.

Como deputado não foi talvez um orador brilhante, nem um tribuno eloquente: foi um parlamentar distinto.

O seu último discurso em 1873, sendo relator da resposta ao discurso da coroa, é habilmente feito e a sua réplica engraçadamente combinada.

Mas a sua grande feição é a de jornalista ardente na Estrela do Norte, no tempo da Junta, e articulista vigoroso na Gazeta de Portugal.

No Jornal da Noite, foi cordato, benigno, e quase sempre sensato.

Protegia nas redacções que dirigia todos quantos se aproximassem dele, e guiava-os carinhosamente.

Delicado, galhardamente delicado era António Augusto em todas as suas relações de amizade. Sabia ser amigo como poucos e o seu ânimo não conhecia reservas.

Viveu os últimos anos cheio de distinções literárias e políticas.

Recebia todos com gentileza e sempre que da província chegava um seu primo, um parente, à la mode de la Bretagne, encontrava nele um acolhimento excepcional.

Os acentuados contornos do seu vulto literário deixam, em fim, nas letras e no jornalismo militante um lugar que muito tempo tem de ficar vago.

Vicente de Pindella"

in "Ocidente", nº16 - 1878

(1) "Os Governadores Civis do Distrito de Vila Real", 2002, Fernando de Sousa e Silva Gonçalves

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