A Freguesia de Adoufe vista em 1943


A Freguesia de Adoufe

A freguesia de Adoufe, devido à configuração do terreno, não é muito rica, mas a sua produção agrícola é razoável.

Como todas as aldeias da margem direita do Corgo pertencentes ao concelho de Vila Real, Adoufe e os seus arredores são bastante montanhosos e os contrafortes da Serra do Marão, prolongando-se em quebradas sucessivas e irregulares, pouco terreno plano lhe faculta para a sua lavoura, sendo este, em geral, de natureza argilosa.

É por isso que a sua maior parte é inculta; porém, esses terrenos são muito bons para serem arborizados.

Todavia, os poucos tratos de terreno cultivável que a Natureza lhe deixou, são de relativa fertilidade e neles se cultiva o feijão, a batata, algum vinho, fruta e cereais, entre os quais o milho em maior abundância – base da alimentação dos seus habitantes que à terra vão buscar com que se alimentarem, motivo porque a vida ali é dura.

À freguesia de Adoufe pertencem as seguintes localidades: Couto, Borbelinha, Rebordinho, Minhava, Coêdo, Escariz, Gravelos, Paredes, Testeira e Vila Seca.

A sua população é de 1849 habitantes.

Em 26 de Novembro de 1238, foram doados por D. Sancho II ao arcebispo de Braga e ao seu cabido, várias freguesias e, entre elas, a de Adoufe cuja sede já existia antes da fundação da Monarquia.

Acerca do nome de Coêdo e Gravelos dado às respectivas localidades, a lenda teceu à sua volta uma história que pretende dar-nos a origem desses dois nomes:

- Coêdo, que já se escreveu Conêdo e Comêdo, seria composto das palavras com e medo - pois os assaltantes fugiam com medo dos habitantes da povoação;

- e Gravelos de graves e elos, pois que eles eram graves, honrados e valentes perante o inimigo.

Porém, a pesar da sua vetustez, a freguesia não conservou traço algum que, além da lenda, a ligue ao passado, não possuindo monumento de qualquer espécie, nem mesmo quaisquer ruínas que atestem a sua antiguidade.

O tempo, que tem soterrado civilizações milenárias e obras portentosas da arquitectura antiga, certamente destruiu e fez desaparecer os restos que poderiam ter existido de qualquer monumento erguido em tempos remotos por aquelas paragens outrora habitadas por romanos, godos, visigodos, etc.

Das povoações pertencentes à freguesia de Adoufe, receberam foral, Coêdo e Gravelos.

A primeira recebeu-o, no ano de 1212, de D. Afonso II, e a segunda, de D. Afonso III no de 1253.

A estrada que de Vila Real vai a Chaves, atravessa a freguesia e passa apenas junto às povoações de Gravelos e Escariz.

Dessa estrada parte então caminhos, mas meus caminhos, que a ligam às restantes localidades da mesma freguesia.

Adoufe está mal servida de estradas pois não liga directamente com a de Vila Real senão por caminhos que não são bons e que, com as chuvas, se tornam de trânsito difícil e penoso.

Com quanto o comércio seja, por assim dizer, nulo, a sede da freguesia veria com prazer partir de Adoufe uma estrada camarária que, a exemplo de outras freguesias, a ligasse à sede do concelho, o que esperamos se consiga, atendendo ao interesse que à Camara Municipal merece o problema das ligações no seu concelho, achando-se, até, estudado o traçado e pedida a respectiva comparticipação do Fundo dos serviços rurais.

As estradas de um país são como as artérias de um grande organismo que levam a seiva vivificadora da vida a todos os seus órgãos, por mais distantes que eles estejam uns dos outros.

A este respeito, do muito que estava por fazer, muito se tem feito já, e um dia chegará a vez a Adoufe que decerto
não está esquecida no quadro deste grande empreendimento.

Esta freguesia abunda em caça, especialmente em coelhos, e cria apreciável quantidade de gado vacum e caprino.

Nos seus terrenos crescem muitos carvalhos, alguns castanheiros e bastantes pinheiros.

A instrução não tem sido ali descurada pois possui escolas e alguns postos escolares onde as crianças de hoje se farão os homens de amanhã, não já os analfabetos de ontem, mas valores sociais que enriquecerão, num futuro próximo, a sua terra natal enfileirando-a ao lado das mais prósperas terras transmontanas depois de, com o esforço do seu braço e da sua inteligência, terem sabido tirar o maior proveito de uma terra de muito difícil labor pela sua constituição montanhosa.

Algumas povoações desta freguesia já têm água canalizada, faltando levar este melhoramento às que o não têm, problema em estudo na Repartição competente da Câmara Municipal.

A canalização da água é um benefício que só com muita dificuldade e com muita despesa pode chegar a toda a parte - especialmente nos tempos calamitosos que vão correndo, em que a guerra dificulta cada vez mais a vida e em que qualquer metal é pago quási ao preço do ouro.

A Junta não esquece as necessidades mais prementes dos povos da sua freguesia e trabalhará sempre para, na ocasião oportuna, ver realizados os melhoramentos mais urgentes das suas terras com o auxílio da Camara Municipal.”

In “Concelho de Vila Real” - Julho de 1943, Bandeira de Tóro (texto editado e adaptado)

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