Dr. José Ramos Nogueira (Governador Civil de Vila Real | 1892)
Dr. José Ramos Nogueira
O distinto magistrado, falecido em Lisboa no dia 19
do mês findo [Fevereiro], era natural de Góis, onde nascera em 1837, contando
66 anos de idade e ocupando à data do seu passamento o lugar de juiz da Relação
de Lisboa.
Formara-se em 1858, sendo nesse mesmo ano delegado em
Valença, servindo sucessivamente nas comarca de Tondela, Tábua, Fundão, Faial,
e na 4ª vara civil de Lisboa, sendo promovido a juiz de 2ª instância e nomeado
para a Relação dos Açores em 1898.
Um ano depois, em 1899, era elevado à presidência
daquele tribunal superior, cargo que pouco tempo exerceu por ter sido nomeado
para a Relação do Porto, transferência concedida a seu pedido, entrando para a
Relação de Lisboa em Março de 1900.
Exercera também o cargo de governador civil de Vila
Real [7 de Abril a 1 de Dezembro de 1892], onde deu sobejas provas de possuir um carácter recto e um espírito
conciliador.
Como magistrado, durante a sua carreira, conquistou
inúmeras simpatias, sendo, não só respeitado e considerado por todas as
classes, como estimado entre os seus colegas, nos quais contava muitos amigos.
Era um espírito lúcido e um coração bem formado,
deixando em todos uma profunda saudade o seu inesperado passamento.
in "Ocidente", nº871 - 1903
Texto de O Povo do Norte sobre Ramos Nogueira
(1892)
"Foi assinado na quinta-feira última o decreto que exonera do
cargo de governador civil deste distrito o sr. dr. Ramos Nogueira.
Sua exa. assumirá, em breve as funções de juiz de direito, na
comarca para onde foi transferido, ficando interinamente a exercer o cargo de
chefe deste distrito o sr. secretário geral.
Não se funda em dissenções políticas esta demissão que o sr.
Ramos Nogueira solicitou do governo mas unicamente em questão de interesses,
pois que o cargo de juiz de direito é muito mais rendoso e produtivo do que o
de governador civil, obrigando além disso a muito menos despesas de
representação.
Não diremos que a demissão do sr. Ramos Nogueira seja chorada
por ninguém, mas também não é tão vivamente desejada como a de muitos
funcionários da mesma categoria, cuja passagem pela chancelaria do distrito
ficou assinalada entre nós por perseguições odiosas, ou por leviandades que
destoam inteiramente da seriedade de tão alto cargo.
À parte as violências praticadas na Régua por ocasião das
eleições de deputados, violências que, se foram autorizadas por sua exa., foram
determinadas por erradas informações dadas pelos seus agentes da localidade,
mais nenhuma arbitrariedade fica exarada nos fastos do distrito durante a sua
curta gerência.
Hão de muitos taxá-lo de mole, de condescendente, de tímido,
e outros haverá que o classifiquem de leviano, de irreflectido; o que nós,
porém, não podemos deixar de reconhecer-lhe são qualidades conciliadoras, e uma
alma paternalmente bondosa.
Diz-se que para substituir o sr. Ramos Nogueira será nomeado
o sr. Cândido de Figueiredo.
Também se fala no sr. Joaquim de Araújo."
(O Povo do Norte, de 14.12.1892)