A sagração da igreja de S. Domingos, erecta por Pio XI em Sé da Diocese de Vila Real

Sé de Vila Real - Altar mor (c. 1955)

“Um dos primeiros intentos do arcebispo em Vila Real foi realizar a cerimónia da sagração da igreja de S. Domingos, erecta por Pio XI em Sé da Diocese.

Escrevendo aos párocos a 27 de Outubro de 1923, dizia-lhes procurar assim «não só proceder de harmonia com os sagrados cânones e equiparar a nossa catedral às restantes do País, mas ainda unir mais o nosso coração de bispo e de pastor a esta Igreja, cujos cuidados Deus confiou ao mais humilde dos seus ministros».

Como as leis litúrgicas permitiam que, além do titular que já tinha, outro se pudesse juntar no acto da sagração, D. João Evangelista, naquela data e na mesma carta, pedia aos imediatos colaboradores que muito lealmente lhe dessem a sua opinião sobre o nome que lhes parecesse mais próprio, porquanto o prelado muito desejava, «como em tudo o mais, ir de acordo com os sentimentos piedosos do nosso clero e as devotas tradições deste bom povo».

Recolheram-se os votos, que deram a primazia à Santíssima Virgem, no mistério da Imaculada Conceição - 61 votos, num total de 94.

Anunciada oficialmente a 24 de Setembro de 1924 a sagração da catedral realizou-se no dia 24 de Novembro seguinte, com a presença e a participação de D. Agostinho de Jesus e Sousa, bispo auxiliar de Lamego, e Mons. José Manuel Pereira dos Reis, pároco da freguesia dos Anjos, em Lisboa.

Foi esta solenidade precedida de diversos actos litúrgicos e dum tríduo preparatório de práticas, em que se explicou o rito da sagração das igrejas.

Em documento de 31 de Dezembro do mesmo ano, diria Lima Vidal:

«Os primeiros dois pensamentos que Nosso Senhor me inspirou assim que recebi de Roma a comunicação do meu destino para esta Diocese, recentemente criada, foram os que eu vou dizer, ainda que já não possa afirmar agora qual deles foi o primeiro, se é que não me absorveram ambos ao mesmo tempo: a sagração da nova sé e a consagração da minha Igreja ao Santíssimo e Amantíssimo Coração de Jesus.

Estava-me a parecer que, sendo a catedral por assim dizer o centro de toda a vida religiosa da Diocese, o foco donde irradia toda a acção e todo o calor que a deve animar, sendo a catedral a igreja onde o pastor tem a sua sede e levanta o seu báculo, numa palavra, sendo ela a igreja-mãe, o meu primeiro dever, para a levantar aos olhos dos fiéis que até aí a não conheciam nem a tinham visto senão como uma simples e pobríssima igreja paroquial, era consagra-la solenemente ao Senhor, segundo os ritos imponentes e cheios de emoção da liturgia católica.

Já estou descansado por este lado. Não obstante as dificuldades que as circunstâncias e o génio contrariador do mal me fizeram sentir, para quebrar o meu ânimo, a sé catedral de Vila Real foi dedicada no dia 24 de Novembro passado, no meio de um esplendor de ritos e de cerimónias, cuja lembrança ainda se não apagou, nem jamais se apagará na alma da minha esposa. Graças a Deus!

Depois, para não dizer antes, afigurava-se-me que, enquanto a nova Diocese não ajoelhasse piedosamente diante do Sagrado Coração de Jesus, consagrando-lhe em voz alta como a sua acção incipiente, a sua vida que se ia abrir, os seus receios, as suas esperanças, as suas alegrias, as suas tristezas, os seus esforços, os seus triunfos, as suas lágrimas, enquanto ela não dissesse a esse Coração omnipotente e amorável, por uma voz do seu primeiro pastor que se repercutisse com força prodigiosa por todos os vales e por todas as montanhas onde habitam as suas almas, que o aceitava, a esse Coração incomparável, como o seu Deus e como o seu Rei, o seu modelo e como o seu guia — pensava eu que, enquanto este acto de justa vassalagem se não realizasse com o piedoso aparato de que nós somos capazes, haveria de faltar sempre à nova Diocese qualquer coisa que a não deixaria marchar, que a não deixaria subir, como falta a um sangue pobre e adoentado o verdadeiro alimento que unicamente o poderia fazer capaz de fortes entusiasmos e reconfortantes vitórias».

Na parte dispositiva do decreto, o prelado determinava que a consagração da Diocese seria feita na catedral no próprio dia da próxima solenidade do Sagrado Coração de Jesus - 19 de Junho de 1925 - preparada por um tríduo de oração e de pregação; no prazo de um ano após aquele dia, as paróquias fariam a sua consagração.

As famílias cristãs eram também convidadas e dedicarem-se de forma semelhante e a exporem nos seus lares uma estampa ou uma imagem aprovada e benzida.

Na data marcada, no termo do Congresso Catequístico (…) D. João Evangelista, à frente de grande multidão, consagrava oficialmente a Diocese de Vila Real ao Sagrado Coração de Jesus.”

In “Lima Vidal no seu tempo”, João Gonçalves Gaspar, Edição da Junta Distrital de Aveiro, 1974 (texto editado)

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