Retábulo da capela-mor da igreja de São Martinho de Mateus (1732)

Est. 5 - Igreja de São Martinho de Mateus. Retábulo da capela-mor (foto de 23/07/2022)


A igreja de São Martinho de Mateus possui alguns dos melhores retábulos de talha barroca da zona de Vila Real, destacando-se pelo primor da execução o retábulo da capela-mor (23), da autoria do «escultor» João António da Silva, natural de Vila Nova de Famalicão e residente, na altura, em Vila Real.

Este retábulo (Est. 5), mandado fazer em 1732 por ordem do reverendo Luís Botelho Mourão (24), cónego da Sé Primaz, fez parte de melhoramentos que este irmão do morgado de Mateus, António José Botelho Mourão, mandou fazer na igreja de São Martinho de Mateus (25).

Igreja de São Martinho de Mateus. Anjo tocheiro
(lado do Evangelho). Pormenor. (*) (foto de 23/07/2022)

(*) Inscrição
Esta / obra / mandou / fazer o Reverendo / conigo Mo / urão cendo / fabriqueiro dasse / de Braga / anno / 1737

Posta a obra em pregão nos lugares habituais pelo reverendo Diogo Alves Mourão, cura da igreja de São Pedro da Torre, da província do Minho, que para isso fôra mandatado pelo irmão, reverendo Luís Botelho Mourão, depois de serem feitos diversos lanços, João António da Silva lançou «no dito retabollo na forma dos apontamentos» 237 000 reis, tendo-a arrematado «per não haver quem mais barato a fizesse».

O mestre entalhador ficava obrigado a fazer o retábulo e «asentallo na dita igreja», no prazo de um ano a contar do dia 30 de Abril, data da assinatura do contrato, dando como garantia todos os seus bens e apresentando Francisco Borges de Queirós, de Vila Real, como seu fiador.

Contudo, «para se continuar na dita obra», o reverendo Luís Botelho Mourão teria de dar ao irmão, reverendo Diogo Alves Mourão, o dinheiro acordado para se efectuarem os pagamentos, já que João António da Silva só daria andamento ao trabalho «conforme o dinheiro que tiver recebido».

Notas:

(23) Em 1714, por ordem do Arcebispo Primaz de Braga, o pedreiro Pedro Domingues, do lugar de Gondomil, comarca de Valença do Minho, executou a obra da capela-mor e sacristia da igreja de São Martinho de Mateus, pela quantia de 260 000 reis. Cf. Natália Marinho Ferreira Alves e Joaquim J. B. Ferreira Alves. Alguns artistas e artífices setecentistas de Entre Douro e Minho em Vila Real e seu termo. Subsídios para um dicionário de artistas e artífices que trabalharam em Trás-os-Montes nos séculos XVII-XVIII (II), sep. «Bracara Augustas, XXXV.
79 (92). Braga, 1981, p. 6.

No ano seguinte (1715), Gregório da Mesquita, carpinteiro natural de Vila Real, arrematou a obra de carpintaria desta capela-mor e sacristia, pela qual recebeu 180000 reis. Idem. Subsídios para um dicionário de artistas e artífices que trabalharam em Trás-os-Montes nos séculos XVI-XVIII (I). no prelo.

(24) Apêndice Documental. Doc. II.

Luís Botelho Mourão era filho de Matias Alvares e de D. Maria Coelho de Barros e Faria. Armando de Matos. A Casa de Mateus, Gaia, 1930. P. 35.

(25) Com efeito, em 1733, o reverendo Luís Botelho Mourão, mandou fazer na igreja de São Martinho de Mateus uma outra obra, esta de pedraria, ao pedreiro Gaspar Molino da Costa, natural de Entre Douro e Minho, que apresentou como fiadores o carpinteiro Manuel Fernandes e sua mulher, sendo testemunha do contrato assinado entre ambas as partes, o carpinteiro Manuel Alves. Cf. Natália Marinho Ferreira Alves e Joaquim J. B. Ferreira Alves. Alguns artistas e artífices setecentistas de Entre Douro e Minho em Vila Real e seu termo. Subsídios para um dicionário de artistas e artífices que trabalharam em Trás-os-Montes nos séculos XVII-XVIII (II). sep. «Bracara Augustas, XXXV. 79 (92), Braga, 1981. pp. 5-6.

Fonte: “Elementos para o estudo da talha setecentista transmontana”, Natália Marinho Ferreira Alves, in Estudos Transmontanos, 1 (1983)

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