Bernardino Raul Trindade Chagas, vila-realense de coração!
Bernardino
Raul Trindade Chagas, não sendo de Vila Real, é um dos pintores de Vila Real.
Com efeito,
raramente a cidade (ou a vila, em seu tempo) terá merecido tanta atenção e
tanto desvelo - tanta homenagem, no fim de contas - da parte de um artista.
Mesmo da
parte de pintores nativos.
É certo que
ele viveu por aqui 23 anos e teve pois todo o tempo que foi preciso para se
apaixonar pela paisagem urbana e rural, pelas pessoas e pelos costumes - se é que
não foi mesmo amor à primeira vista.
De qualquer
forma, o resultado da paixão aí está: Vila Real feita linhas, volumes e cores.
Feita pintura.
Trindade
Chagas não se limitou a ser, ao longo desses 23 anos, o pintor de Vila Real. A sua intervenção na vida cívica e política local foi igualmente
relevante.
Professor,
autarca, republicano dos quatro costados, membro de comissões culturais - um
homem que esteve sempre na primeira linha dos combates do espírito contra as trevas
e dessa forma marcou mais de duas décadas de vida da comunidade.
Pela positiva,
mesmo quando os seus detratores políticos, que também os teve - e quem os não tem,
políticos ou outros? -, o invejaram e por isso mesmo o insultaram.
Trindade
Chagas viveu em Vila Real entre 1906 e 1929.
Quer isto
dizer que vai fazer setenta anos [em 1998], não tarda, que Vila Real o viu
partir rumo ao Porto, deixando de si um rasto consistente, inúmeros amigos,
alguns familiares.
Mas Vila
Real, que é hoje uma cidade que cultiva e exalta a memória, quis agora
recordá-lo numa exposição em que justamente se privilegiam os temas
vila-realenses.
Um regresso
simbólico do pintor, setenta anos depois, àquela que foi decerto a terra que mais
amou.
Uma exposição que é um ato de justiça, embora tardia - sendo certo que mais vale tarde que nunca. Mas que é também uma maneira de, informalmente, fazer de Bernardino Raul Trindade Chagas cidadão de Vila Real.
A. M. Pires Cabral
Veio para
exercer as funções de único professor da Escola de Desenho Industrial D. Luiz I
e aqui acabou por se fixar sentimentalmente, quer pelos laços familiares que criou,
quer pela relação afectiva que manteve com a paisagem e os costumes da região.
Republicano
convicto, exerceu atividade política autárquica e funções de representação do
Governo em diversas ocasiões.
Participou
ativamente na vida social do concelho e esteve ligado aos grandes movimentos
de natureza cultural levados a cabo em Vila Real nessa época, nomeadamente à
criação de um museu e às comissões para os monumentos a Camilo Castelo Branco e
a Carvalho Araújo.
Finalmente,
como pintor naturalista, capta de forma superior a paisagem e os costumes de Vila Real.
Elísio
Amaral Neves
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Nota complementar: Na Sessão da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Concelho de Vila Real, realizada no dia 18 de Outubro de 1929, foi presente um ofício "de Bernardino Raul Trindade Chagas pedindo o ... de enterramento na sepultura nº1.016. Foi concedido por unanimidade pagando adeantadamente a taxa devida."
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Retrato do Exmo Snr. Dr. António Agarez - 1907 |
O rio Corgo - 1911 |
[Bairro de Vila Real] - 1911 |
A levada do Pe João - 1916 |
Feira dos Pucarinhos |
O rio das lavadeiras (Vila Real ) - 1923 |
[Uma rua de Vila Real] |
O bairro do Jazigo (Vila Real) - 1925 |
Uma fonte do século XVIII - 1927 |
[Vila Real vista da Vila Velha] - 1928 |
Auto-retrato - 1939 |
Fonte: brochura editada por ocasião da realização da exposição “Bernardino Raul Trindade Chagas – Vila Real – atracção fatal!” (12 de Fevereiro a 15 de Março de 1998)