A nova linha de Vila Real às Pedras Salgadas – aspetos pitorescos
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Vista de Vila Real, tirada da estação do caminho de ferro |
A série de
fotografias, que inserimos hoje, reproduzindo alguns graciosos trechos da nova
linha férrea das Pedras Salgadas [desde
Vila Real, e inaugurada a 14 de Julho de 1907], e que foram tiradas pelo
enviado especial da Illustração Portugueza, não poderão deixar de confirmar o que
já dissemos a respeito desta linha, por ocasião da sua recente inauguração.
Apesar de lhe
faltarem obras de arte, o ramal de Vila
Real às Pedras Salgadas não pode deixar de ser considerado um dos mais
interessantes e pitorescos do caminho-de-ferro do Douro, pela beleza
característica da sua paisagem agreste e alcantilada.
A paisagem
transmontana é essencialmente diferente da minhota.
Enquanto uma
aparece gentil e amável, com toda a graça radiosa de um verdadeiro jardim, a
outra é severa, imponente, muitas vezes áspera e rude, sem que, por isso, deixe
também de ser bela.
Simplesmente
tem a sua formosura especial e própria.
As serras da região
que a nova linha férrea atravessa são ramificações da do Marão e da Sanábria, na Castela Velha, e, como elas, formadas de
duras paredes de granito.
Mas, das suas
íngremes encostas despenham-se, por vezes, cataratas admiráveis, que a vista
sente um prazer e encantos indefiníveis em contemplar.
Em Vila Pouca de Aguiar, onde o caminho-de-ferro
começa a descer para as Pedras Salgadas,
cai de grande altura da montanha um regato, que forma no Inverno a famosa cascata da Regedoura, por exemplo, e
seguindo depois para o norte passa nas Pedras
Salgadas, com o nome de ribeira de
Avelanes, indo desaguar finalmente na margem esquerda do Tâmega.
É para
aproveitar as águas que brotam tão abundantemente dos seus flancos, que os
montes transmontanos têm as suas encostas cobertas de moinhos, cujas rodas
cantam alegremente nos píncaros onde se alcandoram.
Além disso, no
sopé dessas serras, às vezes cravados entre duas delas, como acontece com Vila Pouca, situada no meio das da Falperra e de Sandonho, encontram-se lindos e engraçados vales com uma vegetação
luxuriante, extensos campos de maravilhoso matiz, vinhedos e quintas.
Os rios de Trás-os-Montes, e entre eles o Corgo, que acompanha em grande parte a
nova linha férrea, serpeando em ziguezagues, ora aproximando-se, ora
desviando-se um pouco mais, não são em nada menos de ser vistos do que o Cávado
ou o Zêzere, por exemplo.
Algumas das
nossas fotografias [ver abaixo] representam aspetos das margens do Corgo e de povoações que
ele banha.
São magníficos
quadros de paisagem, que fatalmente hão-de prender o espírito e enlevar a vista
de quem os contemplar, e basta a ideia sugestiva que a fotografia nos dá deles
para até aqueles não têm a fortuna de conhecer de viso a pujante natureza
transmontana experimentarem uma deliciosa impressão de encanto, uma espontânea
sensação de admirativo prazer.
Vale a pena,
pois, visitar a província, para apreciar a beleza própria da sua paisagem, que,
como acabamos de dizer, não é nada despicienda; e agora, que o caminho-de-ferro
vai já até ao coração de Trás-os-Montes,
não há nenhum motivo para que não se faça essa linda e agradável digressão.
Além disso,
cumpre não esquecer que uma grande parte do que se chama ainda hoje o «país vinhateiro do Douro», isto é, o
solar do grande vinho de Portugal, fica exactamente na região feracíssima do Corgo, o que não pode deixar de
acrescer o seu interesse, e aumentar, para o visitante, a curiosidade que
oferecem aquelas preciosas terras de Portugal.
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Partida do comboio real de Vila Real. El-Rei, na plataforma, tem à sua direita o sr. Conde de S. Lourenço, e à esquerda o governador civil, sr. dr. Luiz Viega |
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Albacino do Corgo [Alvações do Corgo] |
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Margens do Corgo |
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Outro aspecto das margens do Corgo |
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Na Samardã a primeira máquina |
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A ponte do Cigarro...(?) |
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Sítio de S. Paio do Corgo |
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Da esquerda para a direita: José Pinto dos Santos, D. António de Noronha (Paraty), Sua Majestade El-Rei, D. Tomás de Melo Breyner, Conde de S. Lourenço, António Pinto Bastos |
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Um grupo de aquistas: D. Bernardo da Costa (Mesquitela), Francisco Figueira Freire e Esposa, Eduardo Pinto Bastos e esposa |
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Mulheres transmontanas |
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Uma junta de bons e pacíficos bois transmontanos |
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À caça das codornizes no vale de Vila Pouca de Aguiar |
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Conselheiro Henrique Maia, médico e administrador das águas das Pedras Salgadas |
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Mulher transporta garrafas de águas das Pedras Salgadas |
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Um grupo de hóspedes do hotel das Pedras Salgadas |
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Sítio de Tourencinho |
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A recta de Tourencinho |
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Vista das Pedras Salgadas (do lado da nova estação) |
Fonte:
"Ilustração Portuguesa", nº76 - 1907 | Imagens: Clichés do amador A.
Lopes Martins, de Vila Real, e de Benoliel
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Imagens da inauguração da
linha de comboio de ferro de Vila Real a Pedras Salgadas 14 de Julho de 1907
"Coincidindo com a
viagem d'El-Rei às Pedras Salgadas, para a sua cura de águas deste ano, o governo autorizou a
abertura à exploração provisória do novo troço da linha férrea do Douro, que fica ligando Vila Real com aquela afamada estância minero-medicinal.”