A freguesia de Vila Marim vista em 1943

 

“Esta freguesia existiu, com título de honra, no tempo de D. Afonso Henriques. Era seu donatário Mem Guedes, homem rico e opulento.

Com 1741 habitantes, é composta pelas povoações de Vila Marim, onde está a sua sede, Agarez, Arnal, Foio, Galegos Marinheira, Muas, Quintela, Ramadas e Refontoira.

Fica sete quilómetros distante da sede do concelho e tem por limites: ao norte, Ermelo e Lamas de Olo; ao sul, Vila Real e Parada de Cunhos; ao nascente, Lordelo e Borbela; ao poente, Mondrões.

O terreno é de natureza granítica, principalmente na encosta ao nascente do Marão.

Em Arnal e Galegos da Serra é bastante rico em volfrâmio, do qual se faz actualmente uma activa exploração.

Uma grande parte dos habitantes desta freguesia dedica-se a uma intensa exploração agrícola, já relativamente desenvolvida nos terrenos mais férteis, embora nem todo ele seja explorado.

E, assim, conseguem colher com uma certa abundância, milho, feijão e, ainda que em menor quantidade, cereais, vinho e batata que eles consomem na sua quási totalidade exportando, porém, algum milho e feijão, excesso do consumo local.

Em Vila Marim, Quintela e Galegos os terrenos são de grande fertilidade, havendo, nas duas primeiras, pouca água para o regadio.

As restantes povoações são bastante pobres embora tenham mais água. Contrassenso ao qual não sabemos que atribuir, se à falta de braços, se à incúria ou falta de conhecimentos agrícolas dos trabalhadores, se à ma qualidade do terreno.

Em compensação, faz-se uma ativa criação de gado em toda a freguesia para o que muito contribui a grande extensão dos terrenos baldios e particulares.

É um trabalho pesado a que os lavradores e proprietários se dedicam com gosto porque lhes compensa os esforços e sacrifícios que fazem nesse sentido pois é dele que muitos auferem os lucros necessários para pagar as suas contribuições ao Estado.

Contudo, é para lastimar que não se faça uma acertada seleção desse gado, principalmente das raças vacum e caprina, não só para melhoramento das espécies, como também para se poderem obter resultados mais remuneradores.

A raça que, entre todas, predomina, é a maronesa, ainda que um tanto ou quanto degenerada.

Em Vila Marim e Quintela existem muitas árvores de fruto, sendo a restante área da freguesia menos arborizada.

Encontram-se ali, contudo, carvalhos em grande número e alguns castanheiros cujo fruto dá um certo rendimento sem que as árvores necessitem de muitos cuidados.

A castanha, seja assada, seja seca, é um grande alimento e até mesmo sem sal se come crua!

Em toda a região abunda a caça, principalmente o coelho, que se abriga no meio da vegetação, nos pontos em que ela é mais densa.

Também por ali existem muitos lobos que, por vezes, dizimam os rebanhos que se encontram nas povoações de maior altitude, tais como Arnal e Galegos.

Umas batidas que se lhes fizessem de vez em quando, vinham muito a propósito porque chegam a fazer estragos que ocasionam sérios prejuízos aos proprietários dos rebanhos:

Devido, talvez, a constantes partilhas, o terreno está muito dividido entre os habitantes da região, entre os quais poucos há absolutamente pobres, pois é um facto encontrar-se ali muito reduzida a mendicidade.

Acerca de instrução pode-se dizer que os resultados obtidos não são nada compensadores apesar da freguesia possuir uma escola mista em Agarez, duas em Vila Marim e um posto escolar em Arnal, pois que nesta última povoação - que conta 150 habitantes - há apenas um que sabe ler.

Na de Muas - com 25 habitantes - ninguém sabe ler.

Cuida-se mais da cultura das terras que propriamente da cultura intelectual.

Desta maneira, tornam-se improfícuos todos os esforços que as respetivas entidades façam no sentido de divulgar a instrução para que a praga do analfabetismo desapareça de vez em Portugal.

Esta região ressente-se da falta de vias de comunicação e o fornecimento de água é muito deficiente.

Existe em Quintela uma torre medieval célebre, situada a quatro quilómetros para poente de Vila Real e que é considerada monumento nacional.

É ela que, muitas vezes, caracteriza em fotografias o concelho de Vila Real.

Pertenceu ao Conde de Vimioso, e agora, sem serventia alguma, tem a aparência duma sentinela a vigiar os terrenos que a envolvem, terrenos planos e de um ameno bucolismo.

Para a ver e admirar, deslocam-se muitas pessoas de longe, embora lutando com a falta de transportes devido ao estado atual das vias de comunicação.

É uma das preciosidades do concelho de Vila Real que atrai os forasteiros que se resolvem dar um passeio até àquelas paragens.

Em Agarez há restos de um velho castelo que, segundo consta, é de origem romana.

Fica situado no lugar denominado Outeiro do Santo. Junto dele ainda existe uma velha cisterna que devia ter pertencido ao castelo naqueles tempos recuados de guerras e de conquistas.

Nestes sítios têm sido encontradas várias moedas antigas com diferentes efigies, o que confirma a antiguidade da povoação.

Como dissemos, as vias de comunicação são muito deficientes. Só a sede da freguesia possui uma estrada que é caminho obrigatório para as fisgas de Ermelo, do concelho de Mondim de Basto.

Na maior parte das aldeias que constituem esta freguesia vive-se razoavelmente.

Em geral, os trabalhadores são ativos e os terrenos pagam-lhes bem o cuidado e o esforço que neles empregam para que produzam.”

In “Concelho de Vila Real” de Bandeira de Tóro - Julho de 1943 (texto editado e adaptado)

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