«Pucarinhos» - O que são?

 

«Pucarinhos» - O que são?

«Pucarinhos» O que são?

«De todos os artigos de uso doméstico… fabricam também exemplares em ponto pequeno, como brinquedos de crianças, e, finalmente, umas 50 espécies de peças que não excedem 1 cm de altura e que reproduzem em miniatura as peças grandes ou mesmo outras que ao espírito do oleiro ocorre fabricar como curiosidade.

A técnica da fabricação desta olaria minúscula tem certos pormenores exigidos pelas dimensões reduzidas dos objectos.

Mas é ainda na mesma roda [de oleiro] que elas são executadas; simplesmente, uma pirâmide de barro de menos de um palmo de altura colada no tampo, rigorosamente verticalizada e mantida constantemente humedecida, fornece centenas de peças e dura para uma semana de trabalho aturado.

Com utensílios de madeira de vidoeiro proporcionados às dimensões das peças, ponteiros, fanadoiros, picadeiras, o oleiro vai fazendo sair do vértice da pirâmide de barro os diferentes objectos, maciços, naturalmente, mas de execução perfeita e de uma graciosidade de coisas pequenas, delicadíssima.

É a estes objectos que se dá o nome de pucarinhos, os quais, ligados em grupos de 5 ou 6 por um lacinho de seda, se vendem na feira de S. Pedro em Vila Real (feira dos pucarinhos), e constituem um presente galanteador dos rapazes às raparigas.» (1)

Os pucarinhos de barro feitos em Bisalhães - Vila Real

"Os pucarinhos" (foto de "Marius" - Vila Real)

Em "O Povo do Norte" (nº5, 29/06/1929), jornal fundado por Adelino Samardã, e num texto intitulado "Feira de S. Pedro", pode ler-se o seguinte sobre os «pucarinhos»: 

"Mas o mais curioso desta feira são os productos minusculos que nela aparecem e que imitando louça ordinaria podem comtudo considerar-se biblots, de que alguns frequentadores se utilisam trazendo-os pendentes da botoeira ligados a um laço de sêda. 

Os maiores desses objectos poderão ser o tamanho de uma unha do dedo mínimo, e representam panelas, vasos para agua, potes, canecas, infusas, garrafas, brazeiras, serviço completo de chá e café, pipas, fogões, tudo o que pode fazer-se de barro. 

Esses minusculos objectos são, porém, muito perfeitos tanto no seu conjunto, como nos mais insignificantes detalhes, constituindo por isso coisas muito apreciaveis e valiosas, ainda que a sua materia prima seja vil e quasi em valor nenhum."

(1) Alberto Candeias. A Indústria doméstica de louça preta de Bisalhães, in Revista Lusitana, XXIX (1931), 305-306

Curiosidade:

Na sessão de 4 de Julho de 1942 da Câmara Municipal de Vila Real, "Por proposta do vereador doutor António Feliciano, foi deliberado que à tradicional e característica Feira dos Pucarinhos (São Pedro), que vem realizando-se a vinte e nove de Junho, nas ruas dos Combatentes da Grande Guerra e 31 de Janeiro e parte da rua Avelino Patena não sejam concedidas vendas de produtos que não sejam propriamente regionais, destinando-se oportunamente os locais para os negociantes de fora que venham expôr artigos ou produtos estranhos à região."

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