A Monarquia do Norte - "Os acontecimentos de Traz-os-Montes"


"Os acontecimentos de Traz-os-Montes"

Novos documentos dos sucessos ocorridos em Vila Real, em fevereiro último [1919], ficam arquivados nas páginas da Ilustração Portugueza, que presta também homenagem à memória de três dedicados republicanos ali barbaramente assassinados pelos realistas. 


Em Vila Real – A rua [Rua Dr. Roque da Silveira, mais conhecida como Rua Direita] onde está situada a habitação do republicano sr. Domingos de Araújo, cujas vidraças foram completamente estilhaçadas a tiros de pistola [informações complementares no final].

Muitos outros, como o sr. Miguel Monteiro, que obsequiosamente nos enviou estes clichés devem a vida ao terem-se ausentado de Vila Real, por haverem sido insistentemente procurados pelos trauliteiros.

A província de Traz-os-Montes foi, pois, uma das mais sacrificadas e que maiores provas de fé republicana manifestou, confirmando assim o adagio: «Áquem do Marão mandam os que cá estão».

Em Vila Real – Um aspeto do interior da habitação do sr. Domingos d’Araújo, onde se vêem alguns dos consideráveis estragos, que se calculam em cerca de 4:000 escudos.

José Braga e José Teixeira Mourão (Coimbra) barbaramente assassinados nas suas residências, em Vila Real, pelos apaniguados de Couceiro, sem que tivessem oferecido resistência alguma. 3 – Padre Joaquim Alvadia, morto a tiro pelos «trauliteiros», em sua casa, nas proximidades de Vila Pouca de Aguiar. Faleceu heroicamente vitoriando a República.

Sr. Domingos José de Carvalho Araújo, um dos republicanos mais procurado pelos realistas, que, não o encontrando, lhe saquearam todos os seus haveres. 2 – Sr. Francisco d’Almeida Guimarães, inspetor ferroviário, que retirou todo o material circulante para Vidago, dificultando assim o avanço realista sobre Chaves.

Assinalado com uma cruz, o Café Club, o melhor da província, que foi assaltado e totalmente destruído pelos trauliteiros, orçando os seus prejuízos numa soma bastante elevada.
À direita da fotografia vê-se o antiquíssimo solar do Marquês de Vila Real, onde existe ainda uma janela de grande valor artístico.

Comboio que conseguiu ainda retirar para Vidago, debaixo do fogo da artilharia, para não cair em poder dos revoltosos e ser-lhes de grande utilidade para a sua marcha sobre Chaves. Ao fundo, indicado por uma cruz, vê-se o quartel de Infantaria 13, que foi alvo de canhoneio.

Fonte: «Ilustração Portugueza" - II Série - nº688, 28 de Abril de 1919 (texto editado e adaptado)

Informações complementares:

Transcrevem-se informações disponibilizadas por familiares do sr. Domingos José de Carvalho Araújo. Os nossos agradecimentos.

Marília Madeira Pinto Borges

Domingos José de Carvalho Araújo e sua esposa foram meus padrinhos. Foi perseguido por motivos políticos e a sua casa na rua Direita foi vandalizada pelos trauliteiros, como se pode ver na foto.

Depois de terem enviado os republicanos para Chaves ele com outros republicanos atravessaram a pé a Serra do Alvão.

Ao passarem por Vila Pouca convidaram o Padre Alvadia para seguir com eles até Chaves convite que foi recusado.

Esteve preso no Aljube tendo mais tarde emigrado para o Brasil. De regresso a Vila Real abriu na rua Direita um negócio de venda de tabaco-estanque-juntamente com um sócio.

Estas informações foram-me transmitidas pela viúva de Domingos Araújo, Adélia Magalhães, minha tia e madrinha com quem convivi durante alguns anos.”

Helena Pinto

O sr. Domingos Araújo era tio da minha sogra, prof. Silvéria e padrinho da filha mais velha, Maria Marília Araújo Madeira Pinto. Tenho conhecimento do ocorrido nesta altura, pela descrição da minha sogra, que emocionada falava do horror vivido.

Domingos José da Costa Carvalho Araújo vivia na Rua Direita. Os trauliteiros invadiram a casa e destruíram o recheio, deitando-o pelas janelas para o "caminho de baixo", hoje Rua do Rossio. A casa actualmente pertence a João Leite Gomes.”

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