Comandante Carvalho Araújo morreu há 104 anos!
Carvalho de Araújo: “Hei-de morrer como Português!"
Faz hoje, dia
14 de Outubro de 2022, 104 anos que morreu, valorosamente e de forma totalmente
abnegada, o 1º Tenente Carvalho Araújo, comandante do "Augusto de Castilho".
No dia 13 de
Outubro de 1918, quase já no final da Primeira Guerra Mundial, o caça-minas "Augusto de Castilho", recebeu a missão de escoltar o vapor S. Miguel, que ia de
viagem do Funchal (Madeira) para Ponta Delgada (Açores). Tinha partido ao pôr-do-sol.
No dia
seguinte, 14 de Outubro, o submarino alemão U-139 atacou o vapor S. Miguel, que
transportava mais de duzentas pessoas a bordo.
Numa manobra
ousada, o comandante do “Augusto de Castilho”, 1º Tenente Carvalho Araújo,
ordenou que o caça-minas avançasse diretamente sobre o inimigo, atraindo todo o
seu poder de fogo, e de modo a permitir que o “São Miguel” pudesse escapar,
salvando todos os seus tripulantes e passageiros.
Após duas longas
e intensas horas de combate, o caça-minas, sem munições e sem máquinas,
rende-se.
Entre os
mortos estava o seu comandante, Carvalho Araújo. Mas o sacrifício de todos não fora
em vão, pois mais de duzentas vidas tinham sido salvas.
O melhor
testemunho que pode ser dado desse dia vem da boca do comandante do U-139
alemão, Lothar von Arnauld de la Perière,
um dos maiores ases dos submarinos alemães:
"Era uma antiquada e mísera canhoneira, sem
peças capazes de competirem com as nossas, e tinha uma guarnição por metade da
do nosso navio.
Nunca vi luta mais valente do que a
sustentada por aquele velho calhambeque.
Os Portugueses combatiam como diabos,
atirando granadas umas atrás das outras, de umas peças de brincar, enquanto nós
os varríamos de popa à proa.
Catorze dos quarenta homens da guarnição
jaziam mortos no convés, e a maior parte dos restantes encontraram-se feridos
antes que o barco se rendesse."
Sobre o Comandante Carvalho Araújo, escreveu
Bandeira de Toro, na obra “O Concelho de Vila Real” (Julho de 1943):
“A nossa epopeia
marítima é um livro de ouro cujas páginas brilham ao sol da glória.
Carvalho Araújo,
modesto comandante de um pequeno navio, um simples caça-minas armado em barco
de guerra, é um dos heróis que, com a sua acção brilhante e o seu arrojo
indómito, ilustra esse livro eterno, glória de uma nação e sobre o qual os
estrangeiros se curvam para admirar a ciência náutica e a valentia de um povo
que, embora pequeno em seu território, é grande nos seus cometimentos.
Carvalho
Araújo, com o seu feito memorável, personificou essa valentia e exemplificou a
coragem, o desprendimento e a abnegação dos nossos marinheiros combatendo
contra um submarino inimigo que pretendia atacar um barco cheio de passageiros que
Carvalho Araújo escoltava.
A luta era desigual, o alcance do tiro inimigo era superior ao seu.
O herói, porém, não
desanima. Aproxima, a todo o vapor, o seu barco do submarino até o ter ao
alcance do tiro e a luta prossegue, renhida, encarniçada. Carvalho Araújo, cônscio
das responsabilidades que sobre ele impendiam, consegue entreter o inimigo
fazendo evoluções e despejando granadas sobre granadas contra o dorso do
monstro marinho.
Entretanto o
barco de passageiros consegue afastar-se e pôr-se a salvo.
Estava
cumprida a grande missão. Mas o brio militar e a valentia do marinheiro
português não permitiam deixar a luta em meio e fugir perante o inimigo, embora
tão bem armado.
E a luta
prosseguiu até que as ondas deram o grande abraço ao herói e aos seus companheiros
sepultando-os para sempre nesse oceano, testemunha de tantos feitos marítimos e
de tanta glória nacional.
Vila Real não
esqueceu o Herói.
Os transmontanos
vibraram também, e intensamente, com esse feito glorioso, que é uma das páginas
mais brilhantes da nossa modesta marinha de guerra.
Uma subscrição
pública depressa angariou os meios necessários para lhe erigir um monumento e
Vila Real eternizou na pedra e no bronze a memória de Carvalho Araújo inaugurando a sua estátua numa linda
avenida à qual deu o seu nome - o nome de um Herói, de um velho republicano e
de um dos mais lídimos representantes do povo na nossa Assembleia Nacional.”
*****
A pedra utilizada nos alicerces do monumento foi cedida gratuitamente pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vila Real, a pedido da Comissão Executiva do Monumento a Carvalho de Araújo, conforme ofício que se transcreve:
Transcrição do ofício datilografado:
Excelentissimo
Senhor
Presidente da
Comissão Administrativa da Camara Municipal de
VILA REAL
Em nome da
Comissão do monumento ao glorioso Comandante Carvalho Araujo, tenho a honra de
rogar a V. Exª e mais vogais dessa Comissão Administrativa, se dignem autorizar
a cedencia gratuita da pedra destinada aos alicerces do monumento, conforme foi
resolvido por uma Comissão Administrativa dessa Camara Municipal.
Saude e
Fraternidade.
O Secretário,
.... ...... Ribeiro (?)
Em cima, à mão,
o registo:
"Reg.do no lº comp.te f42v(?)
12-3-1930
O am.se
Rebelo da Silva
Despacho, à
esquerda:
"satisfeito em 12-3-1930"
Fonte: Arquivo
Municipal de Vila Real - "Correspondência registada" / Março 1930