Uma janela em Vila Real de Trás-os-Montes | Palácio dos Marqueses
Uma janela em Vila Real de Trás-os-Montes
“Há dois anos,
demorando eu em Vila Real, a Câmara Municipal do concelho acordou com o
proprietário da «Casa do Arco» na demolição deste antigo paço senhorial,
já muito deteriorado para a abertura duma rua.
Pedi, então, ao
meu amigo, fotógrafo amador, Lopes Martins, o favor de fotografar a janela
principal da casa.
Esta fotografia
foi depois, já em Lisboa, reproduzida em desenho de pena, ampliado do original,
por outro meu amigo, o tenente Diogo, da Companhia de Alunos da Escola do
Exército, que neste género de desenhos, hoje raro, tão boas provas deixou no
«Branco e Negro».
O palacete em
que abre esta formosa janela era o solar dos marqueses de Vila Real, dos
quais o último foi justiçado em 1641, julgado réu na conspiração contra a vida
de D. João IV.
A casa passou
então ao Infantado. Derradeiramente, estava incluída na propriedade da família Malafaia.
O velho solar
era (não sei se já foi arrasado) uma das curiosidades históricas da antiga
vila, a que D. Dinis deu honras de real.
Erguia-se a um
dos lados da Praça principal, mais conhecida ainda hoje pelo seu antigo nome de
Tabolado, e fronteiro ao convento de S. Francisco [lapso do autor
do texto, pois o edifício que lhe ficava, e ainda fica, em frente, é o do
antigo Convento de S. Domingos].
Era solidamente
construído de cubos graníticos, que pela vetustez, e pelo dentado em ameias na
linha superior, lhe davam um aspecto afortalezado. «Forte e feio».
Palácio dos Marqueses de Vila Real, c. de 1900(ao centro da foto, as janelas a que se refere o texto) |
As janelas eram
geminadas, cortadas ao meio por um colunelo fino e airoso.
As
reconstruções, porém, estragaram, em muito, o tipo primitivo.
A janela grande
(a da nossa estampa), de maiores dimensões e mais trabalhada do que as outras,
deve ser da traça primitiva, e correspondendo ao salão nobre.
No alto lá está
o brasão de armas dos marqueses, que fora picado em virtude da sentença por
tentativa de regicídio.
Como se vê, a
linha decorativa é toda e simplesmente espiral. Supomos ser trabalho do séc. de
quinhentos.
Ultimamente, e
como se conhece da estampa, não tinha a fechá-la nem a rótula antiga em a
vidraça moderna.
A actual
família que possui o título nobiliárquico de Vila Real nada tem, como é sabido,
com aquela outra. O solar desta é em Mateus, subúrbios da vila.”
Henrique das
Neves
Fonte: "Occidente", nº 713 - 20 de Outubro de 1898
Sugestões:
- Uma curiosa «adufa» | Vila Real: ontem, hoje e amanhã?
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