Estamos a chegar a Vila Real, vindos do Marão!
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Vila Real - vista parcial tirada da Via Rápida (IP4) |
“Você está em
Vila Real. E deixe que lhe diga: ainda bem.
Ainda bem - por
si e por nós.
Por si, que vai
retirar desta estada coisas que jamais imaginou pudessem estar nela, como
adiante verá.
Por nós, porque
gostamos muito de o cá ter, já que, como talvez saiba, a hospitalidade é como
que a nossa segunda pele ou o nosso segundo modo de respirar.
Somos uma terra
do Norte de Portugal. mais exactamente da antiga província de Trás-os-Montes e
Alto Douro, onde corre muito sangue celta e pouco sangue mouro.
E não é ficção
de desdobrável turístico o que se conta de nós: que, quando alguém vindo de
longe bate à porta, não tratamos de saber quem bate, antes gritamos de dentro
uma ordem ancestral, um convite feito de todas as solidariedades e de todas as
franquezas:
- Entre quem é!
A frase é
conhecida de lés-a-lés de Portugal e, contrariamente a muitas outras frases que
não passam de retórica promocional, esta corresponde a uma realidade
genuinamente nossa.
«Entre quem
é» significa «entre, seja quem for».
Isto é: uma inteira
e incondicional hospitalidade de quem sabe escancarar a sua casa, a sua cidade,
a sua alma e coração, a quem vem bater à porta.
E, depois de
escancarar tudo até ao limite em que o gesto se transforma numa oblação,
damos-lhes do nosso pão e do nosso vinho, com a simplicidade de um patriarca
que reparte, na sua tenda, a água do odre com o caminhante do deserto.
«Entre quem é»:
não se esqueça. Sobretudo agora, que já entrou.
E, já que
falámos em legendas que definem, há uma outra que também se usa a nosso
respeito e vale a pena recordar, neste nosso primeiro encontro.
Diz assim: «Para
cá do Marão, mandam os que de cá são».
Repare: tal como a primeira legenda nos definia pela franqueza, esta define-nos pela orgulhosa independência, pelo jeito e gosto de dispor das nossas vidas.”
A.M. Pires Cabral, “Vila Real – itinerário mínimo” (texto editado para permitir uma melhor leitura nos telemóveis)
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