Armas da Vila de Villa Real
Pelo que respeita
a Vila Real, a heráldica municipal anda envolta em imprecisões e contada
em histórias mais ou menos fantasiosas.
Podemos dizer que
existe sobretudo uma representação assumida e raramente concedida por quem de
direito.
O primeiro brasão
concedido (que se reproduz na frente [acima]) veio na sequência da reforma manuelina,
com que se procurou pôr alguma ordem na confusão reinante em matéria de
heráldica.
Esse brasão vem
representado no armorial “Thezouro da Nobreza", existente na
Torre do Tombo, de 20 de Março de 1678, do rei-de-armas "Índia”,
Francisco Coelho.
É constituído por
"um braço de homem vestido de azul em campo vermelho empunhando uma
espada".
É óbvio que em
Vila Real já existiam brasões anteriores, sobretudo em chafarizes, mas muito
provavelmente assumidos, não concedidos.
O segundo brasão
concedido (que se reproduz nesta página), que permanece actual, é já do séc.
XX, mais propriamente 1962, na sequência de um pedido feito dois anos antes
pela Câmara Municipal, que deliberara nesse sentido em 18 de Março de 1960.
O pedido
baseia-se num parecer de 1 de Abril de 1925, da Secção de Heráldica da
Associação dos Arqueólogos Portugueses, que, por sua vez, deve ter sido
inspirado numa comunicação que Afonso de Dornelas fez nesse mesmo ano, na sede
da mesma associação.
Este brasão é "de
ouro, com uma coroa de carrascos folhados e frutados da sua cor, enfiada por uma espada de prata, empunhada por uma mão de carnação movente do pé do
escudo; ao centro da coroa a palavra 'Aleu', de vermelho".
Quanto a todas as
outras representações, são assumidas localmente.
Aparecem
um pouco por todo o lado, inclusivamente nos inventários do séc. XIX, como o de
Vilhena Barbosa, que representa "uma coroa de loiro, tendo no meio escrita
a palavra alleo, e ao lado uma espada".
Estes elementos, a coroa de loiro e a palavra "aléu”,
pertenciam ao brasão dos Meneses, sendo assumidos pela vila de que eram
donatários.
Este brasão, com algumas variantes naturais, e ora com a
ponta da espada voltada para cima, ora para baixo (em sinal de punição pela
traição da Casa de Vila Real), vigorou durante longos anos, acontecendo mesmo
que ganhou plena legitimidade identificativa com o liberalismo.
Se por um lado reza a tradição que os elementos referentes
aos marqueses foram retirados do brasão depois da execução do último marquês e seu filho, em 1641, mantendo-se unicamente a espada invertida (que
representava o aléu) sobre um fundo vermelho, noutras representações, como a
acima referida de Vilhena Barbosa, os elementos mantêm-se, embora a espada se
encontre igualmente invertida.
A Câmara Municipal parece ter privilegiado a primeira representação
- isto pelos brasões que conhecemos da primeira metade do séc. XX tendo só em
1962 sido repostos os elementos relativos à Casa dos Marqueses de Vila Real,
embora com nova figuração, nomeadamente a ponta da espada voltada para cima.
Imagem de destaque: Representação das Armas da Vila de Vila
Real no armorial "Thesouro da Nobreza". Lisboa, 20 de Março de 1678.
do rei de armas "India", Francisco Coelho. Col. Instituto dos
Arquivos Nacionais/Torre do Tombo - Museu de Vila Real, 2002