Do Largo do Trem ao Largo Conde de Ferreira

Sítio do Trem e Escola Conde de Ferreira

A Junta Escolar do Concelho de Vila Real, em reunião realizada no dia 13 de Março de 1930, decidiu propor à Câmara Municipal de Vila Real que fosse "dado o nome de - Largo Conde de Ferreira - ao local que com a denominação de "Largo do Trem" existe em frente ao edifício escolar que o referido Conde de Ferreira ali mandou construir". (1)

Esta proposta era feita devido ao facto de no dia 24 de Março ser "o aniversário do grande benemérito Joaquim Ferreira dos Santos (Conde de Ferreira)", e "tendo em consideração a memória do grande benemérito desta cidade e do país." (2)

Mais propôs que fosse mandado colocar um mastro na frontaria da Escola Conde de Ferreira, "a fim de no dia 24 do corrente e em outros dias festivos, conforme ordem de serviço de S. Ex.ª o Sr. Ministro da Instrução, ser hasteada a Bandeira Nacional." (3)

Na sessão do dia 15 de Março de 1939 da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vila Real o pedido foi “deferido por unanimidade, resolvendo-se, também fornecer duas chapas para designação d’aquele Largo.” (4)

 As referidas chapas com os dizeres: "Largo do Conde de Ferreira", e as dimensões 40x20 ou 40x25, foram encomendadas à empresa "Esmaltagem Portuense, Lda". (5)

A 21 de Março, a Inspeção da Região Escolar de Vila Real remeteu ao Presidente da Câmara Municipal de Vila Real cópia do ofício que tinha recebido do Professor da Escola de Conde de Ferreira, João da Fonseca Gaspar, no qual este solicita e agradece a "valiosa interferência" do Inspetor-Chefe da Região Escolar de Vila Real para que seja colocado um mastro na frontaria do edifício escolar.

O mesmo foi colocado antes de 12 de Abril de 1939, data em que, em ata da sessão da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vila Real ficou registada a receção de um “ofício do Director da Escola Conde Ferreira agradecendo ter sido mandado colocar um mastro na dita escola para n’ele ser hasteada a bandeira nacional.” (6)

JP

O Conde de Ferreira

Arquivo Pitoresco, nº19 - 1867

*****

Escola Conde de Ferreira

Em 1866, Portugal era confrontado com um testamento que havia de modificar as condições e a natureza dos locais onde era ministrado o ensino elementar. Trata-se do testamento de Joaquim Ferreira dos Santos (1782-1866), conde de Ferreira.

O testamento foi feito a 15 de Março de 1866, a escassos dias da morte do testador, que ocorreu a 24 do mesmo mês.

Joaquim Ferreira dos Santos nasceu humilde, numa família de lavradores. Emigrou para o Brasil e para a Africa, onde granjeou uma enorme fortuna na atividade comercial. Como não tinha parentes próximos, decidiu aplicar a sua fortuna a obras de natureza pedagógica, cultural e social.

Destaca-se a verba atribuída no referido testamento, de 144 contos de reis (quantia elevadíssima para a época), para a construção de 120 escolas primárias. Estas escolas podiam ser para qualquer dos sexos e deviam ser construídas em cabeças de concelho.

O testamento dá ainda indicações bastante precisas sobre a vontade do testador a esse respeito. Assim, deviam ter uma planta-tipo, onde, mais tarde, era prevista uma sala de aula, uma sala contígua a esta para "recitação, biblioteca e receções", um vestíbulo (ou dois, se fossem duas as salas de aula), instalações sanitárias, residência para o professor e um logradouro de pelo menos 600 metros quadrados.

Estávamos então em pleno período fontista. O Conde de Ferreira, imbuído do espírito do tempo, que apontava para o desenvolvimento e para o progresso, estava persuadido de que a instrução pública era essencial para alcançar esses objetivos.

Até aqui, não havia qualquer regulamentação sobre os locais destinados ao ensino. Eram quase sempre casas arrendadas, que não dispunham de condições pedagógicas mínimas.



O testamento do Conde de Ferreira exigiu da parte da administração central a definição dessas condições e efetivamente em quatro meses é publicada no "Diário de Lisboa" (assim se chamava então a folha oficial do governo), a 23 de Julho de 1866, uma Carta de Lei e Instruções bastante precisas sobre as condições a que deviam passar a obedecer as "casas de escola".

São contemplados aspetos como o pé direito das salas, a relação área/aluno, as dimensões de bancos e carteiras e toda uma série de normas relativas à higiene, conforto, segurança, ventilação e iluminação.

O testamento foi rapidamente posto em execução. Em 22 de Setembro de 1866, os testamenteiros dirigem uma circular aos governadores civis, que por sua vez a remetem as câmaras municipais, com a planta-tipo, perguntando se desejavam aderir ao plano.

A Câmara Municipal de Vila Real era então dirigida por um fontista, António Correia de Almeida Lucena, que prontamente dá andamento ao assunto. 

Após troca de correspondência, em sessão de 3 de Junho de 1867, o executivo delibera solicitar o subsídio relativo à construção de uma escola para o sexo masculino, comprometendo-se a contribuir com o terreno. O subsídio era de um conto e 200 mil-réis.

A escola foi construída no lugar da chamada Casa do Trem. Tratava-se de um local de aprovisionamento tornado necessário pela existência de corpos de natureza militar, como foi o caso de Vila Real, por diversas ocasiões, e em particular durante as Invasões Francesas.

Servia para guarda de viaturas, armamento, mantimentos, bagagens. etc; no caso concreto de Vila Real, serviu também para acomodação de praças e hospital. O local onde se implantava, em Vila Real, recebeu o seu nome.

Da mesma forma o recebeu uma quinta existente no local e a escola de que vimos falando, ainda hoje mais recordada pelo nome de Escola do Trem do que Escola Conde de Ferreira, embora este último tenha dado, mais tarde, o nome ao largo [apenas em 1930, como se referiu acima].

A Casa do Trem foi pois demolida para dar lugar à escola, aproveitando-se grande parte da pedra e das madeiras.



A escola deve ter sido inaugurada no ano letivo de 1870/71.

Muitas gerações de vila-realenses ali estudaram as primeiras letras. Aí se efetuaram também os exames públicos do ensino elementar, até 1884. Em 1885 estes exames foram feitos na Rua do Arco, n° 42; em 1886, na Rua Central; e a partir de 1887 no edifício onde funcionava então o Liceu, no encontro da Rua D. Margarida Chaves com a Rua Avelino Patena (nomes atuais), que pertenceu ao Brigadeiro Mota e Costa, e mais tarde noutras escolas.

O seu primeiro professor deve ter sido José António Baptista, que se jubilou em 1876, sendo substituído nessa altura por Firmino Augusto Martins.

Em 1878 encontramos a lecionar Joaquim Vicente Taveira Sarmento, que estará ainda em funções quando, em 1911, é criado um segundo lugar de professor, ocupado por Guilhermina Augusta Teixeira (nessa altura, o espaço necessário para a nova aula terá feito desaparecer a antiga habitação do professor).

 Para além destes, há também João Gaspar, substituído muito provavelmente por João Pereira Pena; Manuel José Gonçalves Grilo, que será substituído por José António Maduro Roxo. Prestam igualmente ali serviço diversos outros docentes, interinos e também estagiários, com destaque para a Dona Zezinha (Maria José Pereira Martins), que ali iniciou a sua atividade no ano letivo de 1945/46, ano seguinte ao da saída do professor Grilo.

Nos anos 80 do séc. XIX, quando começou a ganhar força a ideia de construir uma nova ponte ligando as duas margens do Corgo, começou a pensar-se na abertura de uma rua que ladeasse a margem direita do rio.

Na segunda década do século imediato, as obras estiveram para arrancar. Mas só nos anos 50 avança a Avenida Marginal, ou seja, a variante de Vila Real da Estrada Nacional n° 2.

Em 1957, a Escola Conde de Ferreira está pois condenada, num processo que envolve também a expropriação da Quinta do Trem e de outros prédios urbanos e rústicos.

É demolida no ano letivo de 1958/59, passando as aulas provisoriamente para a ala nascente do edifício dos Paços do Concelho.


No âmbito das Comemorações do Duplo Centenário (da Fundação e da Restauração), o governo havia iniciado em 1941 a execução de um plano geral da rede escolar, denominado Plano dos Centenários, que se prolongou até final da década de 1950.

Em Vila Real, a Escola dos Quinchosos, integrada nesse plano e construída em terrenos da cerca do Convento de São Domingos, abriria no ano letivo de 1962/63, com os professores João Pena e Maduro Roxo.

Fonte: “História ao Café”, Museu de Vila Real, nº 97 – 25 de Junho de 2002 (texto editado)

Na sessão de 5 de maio de 1928, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vila Real deliberou "Por proposta do mesmo vogal [Carlos Monteiro Baptista de Barros] foi resolvido por unanimidade mandar fazer uma lapide de marmore com o nome de Conde de Ferreira destinada á casa da Escola do Trem." Arquivo Municipal de Vila Real | CT: AMVR/ALL- CMVR/B/A/001/Lv098

Notas:

(1) Correspondência recebida na Câmara Municipal de Vila Real, Arquivo Municipal de Vila Real

(2) idem

(3) idem

(4) Ata da sessão da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vila Real, Arquivo Municipal de Vila Real | CT: AMVR/ALL- CMVR/B/A/001/Lv078

(5) Correspondência recebida na Câmara Municipal de Vila Real, Arquivo Municipal de Vila Real

(6) Ata da sessão da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vila Real, Arquivo Municipal de Vila Real | CT: AMVR/ALL- CMVR/B/A/001/Lv078

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