Manuel Vaz de Carvalho: advocacia na mente, poesia no sangue!
Manuel Vaz de Carvalho "nasceu em
Cerva, concelho de Ribeira de Pena, a 13 de março de 1921, filho único da
família Sousa Magalhães e Vaz de Carvalho.
Desde o
primeiro mês de idade que reside em Vila Real, no lugar da Timpeira, na casa que era do pai e que é habitada pela sua família
até à 7ª geração.
Argumenta que
«é meu projeto que fiquem todos a viver na quinta que era dos meus
antepassados». (...)
Da advocacia
diz ser uma atividade «muito difícil, muito ingrata, muito exposta, não tem
graça nenhuma. (...)»
Tirou o curso de Direito na Universidade de Coimbra, entre 1941 e 1948.
Depois de
acabado, ainda foi Magistrado no
Ministério Público durante algum tempo (pouco), após o que se dedicou de imediato à advocacia.
Entretanto,
andou na vida militar durante quatro
anos, como oficial miliciano, por terras de Póvoa de Varzim e outros
quartéis, no período da última guerra.
Mas falemos das
suas duas paixões: a poesia e a caça.
Contraditório?
Nem por isso,
apesar de a poesia sublimar a vida, enquanto a que a caça a extermina.
Manuel Vaz de Carvalho explica que
«gosto de ir à caça, sobretudo a solitária, só na companhia do cão, porque
gosto muito de andar nos montes, nas serras, mas ultimamente sinto-me muito
penalizado com a morte dos animais».
No que diz
respeito à poesia, brilham-lhe os olhos expressivos, «a poesia é a expressão
máxima artística do homem.(...)
Os primeiros
poemas escreveu-os aos 12/13 anos.
Até à data, Manuel Vaz de Carvalho já viu
publicados inúmeros poemas avulsos, sobretudo em jornais de Vila Real e
revistas... (...).
Os seus poetas
preferidos são o Guerra Junqueiro, António Nobre, Florbela Espanca e Teixeira
de Pascoaes, entre outros. (...)
«Vivo
apaixonado pela minha terra: tem uma das paisagens mais adjetivadas que
conheço: serras, rios, vales, uma agricultura muito variada e um clima
admirável...» (...)
O poema “Alvão" (...) é uma expressão clara
do apego genético à sua terra.
ALVÃO
Ermos povos da
serra, ao longe, deserdados,
Eu conheço-Vos bem, eu sou um vosso irmão
Eu amo, como Vós, os montes desolados
Envoltos de neblina e assombro e solidão!
Por vós acorda
em mim essa tragédia antiga
Do HOMEM semi-nú lutando por viver
Sob um céu impiedoso e na terra inimiga
Na arrancada da VIDA à exaltação do SER!
Eu fui um desertor,
bem sei, do vosso bando,
Mas hei-de regressar à vossa lei cantando
Os salmos da montanha às nuvens redimida...
Quero voltar à
paz edénica das leivas,
Ao bafo dos currais e à luxúria das seivas
Aonde, como Vós, irmãos, Suguei a VIDA!
Extratos
retirados da "Revista Municipal de Vila Real", nº2 – 1997 (texto:
Carla Fonseca e Silva | fotos: Victor Ferreira)