Origem do Monumento a Nossa Senhora de Lourdes de Vila Real
Monumento a Nossa Senhora de Lourdes - Vila Real |
O texto abaixo foi-me gentilmente disponibilizado pelo Rev.mo Senhor Pe Joaquim Gomes, a quem muito agradeço.
"No mês de agosto de 1908, numa tarde
calmosa fui, em companhia de Pe José Luiz Zamith, capelão militar, dar um
passeio para os lados da estação de caminho de ferro. Antes de chegarmos à
ponte de ferro, que liga a Rua de S. João (actual Rua Miguel Bombarda)
com a avenida, começou a nossa conversa sobre as impressões que trazia de
Lourdes, donde viera há pouco.
Eu ouvia-o com bastante interesse e
até mesmo não o deixava mudar de assunto com as minhas continuadas perguntas,
sobre a viagem, sobre milagres, enfim, sobre tudo o que a Lourdes dissesse
respeito, para onde eu também em breve iria na peregrinação bracarense, que
saía a 10 de setembro.
No meio desta conversa tão agradável,
fez-me conhecedor de que trazia em mente um projecto que encontrei grandioso e
me entusiasmou bastante: pensava erigir um Monumento a N. S. de Lourdes. Havia,
no entanto, um obstáculo, a falta de terreno próprio.
Como estávamos em frente do outeiro da
Raposeira, disse-lhe que melhor do que aquele não encontraria, o que ele
aprovou e, até, conformando-se entusiasticamente com a minha opinião.
De volta do nosso passeio, expusemos ao sr. Roberto, sócio do senhor Novais Chaves o projeto da erecção do monumento e a escolha do local.
Este senhor entusiasmou-se por tal
forma que escreveu logo ao sócio, dando-lhe conhecimento dos santos propósitos
do virtuoso padre Zamith que já contava mais dois cooperadores.
Logo que o Sr. Vieira, proprietário do
terreno em evidência, voltou do Porto, e antes de chegar a casa, já era
conhecedor do que se passava. De muito boa vontade, não só cedeu o terreno
aludido, como quis também tomar parte nos trabalhos preparatórios. Eram já 4 os
cooperadores para tão santa obra, que, mais tarde, se juntaram mais o Monsenhor
Jerónimo do Amaral, Morais Chaves, Emílio Pinto da Silva, Pe Manuel Martins Alves Couto.
Gente já havia, faltavam agora os recursos.
A esposa do senhor Vieira ofereceu
logo umas joias de seu uso, que foram vendidas em Lisboa pelo senhor Rua, por
setenta e tal mil reis, e foi também uma grande entusiasta do monumento e, não
obstante o estado melindroso de saúde, não faltou a nenhum dos atos mais
solenes, como o do lançamento da primeira pedra e da inauguração.
O Pe Zamith foi contemplado com um
prémio de 50.000 réis no concurso da venda das casas, aberto pela redação da
Palavra, e desse dinheiro dispôs o fervoroso sacerdote em favor do monumento.
Cheio de fé e confiança na
Providência, mandou logo manipular uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes no
Porto, ao Sr. …………… disposto já a ficar com ela em casa, se não conseguisse
arranjar o dinheiro, e pagá-la ele.
Mas não foi preciso. Era uma obra de
Deus e, portanto, não devia desaparecer.
Começou a comissão a distribuir listas
e pedidos e, dentro em pouco, começou a fluir dinheiro de todas as partes. Não
havia um dia que não entrasse dinheiro em caixa.
As meninas do Colégio de Nossa Senhora
de Lourdes, promoveram um bazar que rendeu mais de 40.000 réis. Organizou-se
uma comissão de senhoras com o fim de obterem prendas para bazares - Graças a
Deus!
Dentro em pouco apareciam prendas em
abundância.
Não nos faltou dinheiro para as obras,
para a Imagem e até para os festejos que, de modestinhos, foram muito lindos,
como resumo adiante.
A SS Virgem foi e é a maior
cooperadora no seu monumento.
A imagem estava encomendada, o
dinheiro vinha correndo, era preciso estudarmos a forma de conseguir que o povo
pudesse visitar Nossa Senhora, procedendo-se a peregrinações, etc. Havia uma
dificuldade muito grande. O Senhor Vieira fazia sacrifício do seu terreno e de
muito boa vontade, mas não queria a sua propriedade devassada.
Pensou-se em obter do Sr. Emílio Biel
a concessão de um terreno para fazermos uma estrada que começava na avenida do
caminho de ferro, junto à extremidade do muro que forma a meia laranja junto à ponte metálica do Corgo; mas este cavalheiro sugestionado
por um seu empregado, compadre e amigo, pediu uma exorbitância pelo terreno,
que, a rigor, não lhe pertence.
Desistimos do terreno do Senhor Vieira
e escolheu-se outro que Monsenhor Jerónimo do Amaral cedeu de muito boa vontade
e que é o que segue toda a margem direita da avenida, indo-se em direção à
estação.
Pôs se de parte, mais tarde, este
terreno, dando-se preferência ao atual, que também não pudemos obter sem dificuldades
a vencer.
O proprietário desse terreno era
devedor a Monsenhor do Amaral de mais de 500.000 réis, perto de 600.000 réis. Monsenhor
Jerónimo do Amaral quis entrar em negociações com os devedores, propondo-lhe a
cedência do terreno mediante 300.000 réis e a remissa da dívida. Queriam por um
terreno que não valia 60.000/100.000 réis, todavia lá cederam a parte que hoje pertence ao monumento só pela dívida. Foi carinho, mas conseguiu-se por um
amor à nossa causa e abnegação santa de Monsenhor Jerónimo do Amaral a quem,
com bastante razão, vão chamando o Apóstolo de Trás-os-Montes e bem merecido.
Vila Real recebeu deste grande benemérito grandes benefícios, mas digamo-lo, aqui, de passagem, tem
correspondido aos seus benefícios com negra ingratidão.
Ponhamos aqui um ponto para não irmos
mais além.
Em virtude das dificuldades que surgiram não pudemos inaugurar o monumento a 29 de Fevereiro para comemorar o quinquagésimo ano das aparições em Lourdes, conseguindo apenas em ….. de ………….. proceder à cerimónia de lançamento da 1ª pedra, debaixo da qual foi colocado uma moeda de 50 reis, do tempo, e um frasco com as listas da subscrição e com as circulares que as acompanhavam no peditório e que levam subscritos os nomes da comissão, então organizada, indo alguns com os nomes assinados pelo próprio punho de alguns membros.
Esqueci-me dizer que a pedra lançada é a que forma o ângulo da base do lado
esquerdo da imagem, mas da frente.
Foi benzida por Monsenhor Jerónimo do
Amaral na presença de muita gente que ali acorreu.
Estava eu presente, o Padre Zamith e quase
toda a comissão.
Quando a primeira pedra foi lançada,
subiram ao ar alguns foguetes, cantando nessa ocasião as meninas do Colégio e
as do Asilo da Infância versos a Nossa Senhora.
(Descrição da autoria do Pe Filipe
Correia de Mesquita Borges)
Nota: Os negritos são da minha responsabilidade