Exposição para a modificação do Brasão de Vila Real

Publicado em As cidades e villas da Monarquia Portugueza que teem brasão d'armas, de Vilhena Barbosa (Lisboa, 1860/62).
Note-se a inclusão da palavra ALLEO e a espada com a ponta voltada para baixo - castigo em 1641 pela traição da Casa de Vila Real â causa de D. João IV


Exposição para a modificação do Brasão de Vila Real

Pelo senhor Vereador Dr. Correia de Barros, foi apresentada a seguinte proposta, que foi igualmente aprovada por unanimidade:

Os homens, como as coisas, mudam consoante estão em mare de prosperidade ou desgraça. Também o brazão de Vila Real tem sofrido as suas transformações - em número de três - só porque os que deviam velar pela sua honra, ou foram valorosos (D. Pedro de Menezes), ou traidores (marqueses de Vila Real).

Originariamente, conforme cópia que está na Torre do Tombo, compunha-se de escudo de forma ogival com o vertice voltado para baixo, tendo no seu interior em fundo vermelho, um punho humano vestido de azul segurando uma espada com a lâmina de prata em que o punho e cópos são de ouro.

Estava o escudo encimado por uma coroa aberta (corôa real) da maior simplicidade, pois era costume simbolizar a mais alta hierarquia com a maior singeleza, o que já não acontece com as corôas de condes e marqueses que estão cheios de floreados.

O primitivo brazão dado por D. Afonso III durou desde 1272 (época em que concedeu a Vila Real o primeiro foral) até 1414 [sic] com D. Pedro de Menezes, depois da conquista de Ceuta.

Esta vila devia ser pertença da casa real (o que depois se não verificou) e o seu brazão indica ser praça de defesa da coroa. Os feitos de gloria de D. Pedro de Menezes levaram o rei D. João I a acrescentar ao primitivo brazão uma corôa de carvalho com folhagem em vêrde inscrevendo no seu interior de fundo branco a palavra ALLEO em letras de ouro em homenagem ao 1.º Governador de Ceuta, pois ele dissera quando lhe ofereceram esse posto, e em ocasião em que jogava a choca - "com êste ALLEO... "

E assim como dissera o tinha cumprido; e por isso o principe de bôa memória quis então honra-lo para a posteridade.

Mas um dia vem a desgraça com a traição dos Marqueses de Vila Real em 1641 e ao castigo infamante que receberam no patibulo acrescenta-se a transformação do brazão que estava sobre a sua dependencia.

No escudo com a corôa do marquês apenas fica a espada com lâmina de prata e punho dourado, em campo vermelho, com a ponta virada para baixo; e é esse brazão o símbolo actual de Vila Real.

Representa por isso um castigo que os nossos antepassados sofreram.

- Mas nós que aqui vivemos numa época de reabilitação pediamos respeitosamente que êsse passado desonroso fôsse apagado do nosso símbulo e que voltassemos a possuir o brazão do homem mais ilustre desta terra – D. Pedro de Menezes.

Proponho que esta exposição seja enviada ao Ministro do Interior para a modificação do Brazão de Vila Real e outrosim sobre a bandeira da cidade e suas cores.

Da acta da Câmara Municipal de Vila Real, de 10 de Janeiro de 1941

Fonte: brochura editada pelos Serviços de Cultura da Câmara Municipal de Vila Real (Março/96)

(Respeitada a grafia, mas texto editado)

Para saber mais sobre o Aleu, recomenda-se a leitura de Aleo Aleo, Para além do Marão, de Nelson Cardoso.

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