A freguesia de Abaças vista em 1943


A freguesia de Abaças, à qual pertencem as povoações de: Fontelo, Vilarinho de Tanha, Bujões e Quinta da Prelada, foi habitada, certamente, pelos árabes porque, pelo seu próprio nome, Abaças parece provir da palavra árabe - Habaxa, que significa: Aldeia Negra, como também por outros povos da antiguidade, a avaliar pelos achados de objectos de uso antigo, constantes de machados de bronze e de ferro, moedas, restos de obras de cerâmica, existindo, ainda, junto ao rio Tanha, restos de um castro romano.

Situada num planalto da margem esquerda do rio Tanha, afluente do Corgo, a linda aldeia de Abaças contém uma população de 1819 habitantes e dista de Vila Real doze quilómetros e meio.

Afastada como está da sede do concelho, não possui ainda estrada que as una, tendo apenas uns caminhos que a ligam a S. Martinho de Anta - caminhos que no inverno se tornam intransitáveis para quem não quiser fazer um percurso maior indo pela Régua.

Está sendo construída uma estrada que, atravessando a freguesia de Andrães, deverá terminar no lugar de «Estrada», depois de passar em Abaças.

Estamos certos que a conclusão desse melhoramento se não fará esperar porque é uma necessidade vital para os povos da freguesia que veriam, assim, encurtada a distância e facilitados os transportes para Vila Real.

A área da freguesia, relativamente grande é limitada a Oeste por Nogueira; a Leste por Guiães; a Nordeste por Andrães e a Sul por Poiares.

O seu sub-solo é, em geral, xistoso e contém minério de ferro e estanho, ainda por explorar.

Levemente ondulado, o terreno produz um vinho de excelente qualidade, incluído na região duriense; produz também, com alguma abundância, azeite muito bom, o qual melhor seria se os respectivos proprietários o fabricassem com maior cuidado.

A sua produção agrícola seria muito maior se houvesse na freguesia gado em quantidade suficiente para o amanho das terras. Todavia, colhe-se batata, milho, centeio e cevada, em quantidades apreciáveis.

Abaças, aldeia antiga e de velha nobreza, recebeu o seu foral do Rei D. Sancho I, em 1200, e foi, em tempos remotos, atravessada por uma estrada romana que, segundo a tradição, foi testemunha da invasão francesa, aquando da entrada das forças de Napoleão em Portugal comandadas por Soult.

Muito pobre em monumentos, apenas conta no seu activo um modesto pelourinho.

Todas as terras pertencentes a esta freguesia têm água potável, canalizada, possuindo a sede Caixa Postal, Casa do Povo e algumas escolas que têm concorrido para diminuir o analfabetismo na região.

Os seus terrenos, constituídos por pequenos montes e vales formam paisagens sempre novas e belas.

Se subirmos ao Alto da Senhora da Guia, a oitocentos metros de altitude, avistaremos um lindo e vasto panorama que abrange povoações pertencentes a uns doze concelhos.

Se formos a Bujões, 14 encontraremos um miradouro do qual se disfruta uma formosa vista.

Mas por mais que procuremos, só não encontraremos um lugar que teve por nome Negielos.

Diz a lenda que foi uma localidade que determinada espécie de formiga invadiu e que, espalhando se pelos campos e pelas casas de habitação, destruiu tudo quanto encontrou na sua passagem, fazendo mais estragos que um devastador furacão! Assim morreu Negielos!

Abaças, que é a povoação mais importante desta freguesia, foi vila por carta-foral de 1238.

Por este facto se pode avaliar da sua relativa importância, pelo menos nos primeiros anos da nossa nacionalidade.

Seriam os azares da guerra, a mudança quási continua de senhores de umas terras para outras, a dificuldade de comunicações que se foi agravando a negligência ou a incúria dos seus antigos habitantes que fez baixar Abaças da sua categoria de vila? Não sabemos.

O certo é que apesar de tudo se manteve sempre como sede da freguesia.

Abaças teve e tem a sua nobreza. Duma família ilustre e de antiga  nobreza, residente em Abaças, morreu, há pouco uma respeitável e veneranda senhora, legitima representante da casa dos Teixeiras Coelhos, com o seu importante solar em cujo brasão se pode ler esta interessante legenda «Os reis descendem de nós e não nós dos reis».

Esta ilustre e nobre casa possuía boas e vastas propriedades, especialmente na província do Minho e na de Trás-os-Montes e tem uma capela privativa no antigo cemitério de Vila Real - a capela de S. Brás, considerada monumento nacional e outra no largo do Pioledo, hoje restaurada, numa propriedade particular da freguesia de Folhadela.

O seu último morgado - José Xavier Teixeira de Barros - pai da ilustre senhora a que acima nos referimos, militou na política miguelista, à qual foi dedicado durante toda a vida a ponto de auxiliar financeiramente a família exilada.

A ermida de Nossa Senhora da Guia, a que atrás nos referimos, de fundação muito remota, foi reconstruída pelo povo da freguesia e pelo de Vilarinho dos Freires, mas pertence à freguesia de Abaças.

A Junta respectiva encontra-se animada das melhores intenções e espera ver em breve terminada a construção da estrada que a ligue a Vila Real.

O excesso dos seus produtos agrícolas, terá, assim, uma mais fácil e rápida colocação e será um incentivo para o comércio da região pela facilidade de transportes.

A Câmara Municipal tem empregado os seus melhores esforços na realização deste melhoramento tão necessário ao povo desta região, esforços que se não limitaram ao início da construção desta estrada pois está em construção uma outra que, partindo de S. Cibrão, vai ter à Senhora da Guia.

Além destes melhoramentos, construiu a Câmara um edifício escolar moderno de duas salas, e ligou também a freguesia, por um ramal, à mesma capela, de modo a ficar totalmente ligada à sede do concelho.

Fonte: “Concelho de Vila Real”, Bandeira de Tóro (Julho de 1943)

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