Para a história do «Liceu Central de Camilo Castelo Branco», até 1937

Aspeto exterior da nova ala do Liceu - Vila Real

"Por decreto de 17 de Novembro de 1836, tinha a cidade de Vila Real direito a possuir um Liceu, pois nesse decreto estabelecia-se a criação dum Liceu Nacional em cada capital de distrito.

Não era fácil, porém, num meio relativamente pequeno, organizar um Liceu nas bases estabelecidas pelo mesmo decreto.

As principais dificuldades para a constituição do Liceu provinham precisamente da falta dos elementos essenciais: edifício apropriado para a sua instalação e pessoal docente com habilitações bastantes para a regência das cadeiras que o citado decreto lhe atribuía.

O decreto de 1836 ficou, pois, letra morta, relativamente a Vila Real, como o ficou para a maioria das capitais de distrito.

Um decreto de 1844 (20 de Setembro) reduziu a seis as cadeiras essenciais (eram dez, pelo decreto de 1836), estabelecendo, também, que haveria em cada Liceu mais uma cadeira, em harmonia com as necessidades da respectiva região.

Apesar desta simplificação, só em 1891 se constituiu definitivamente o Liceu Nacional de Vila Real.

Uma Portaria de 27 de Setembro desse ano, emanada do Conselho Superior de Instrução Pública, ordenava que o Liceu se constituísse definitivamente, dentro das bases definidas no decreto de 1844.

Recreio coberto, na nova ala do Liceu

Assim se fez, tendo-se realizado o primeiro conselho escolar em 6 de Outubro do referido ano, de que existe ainda a respectiva acta.

Assinaram esta acta o Reitor, Rodrigo de Morais Soares, professor de Retórica e História; Dr. Guilhermino Júlio Teixeira de Moura, professor das 5ª e 6ª cadeiras, e o Pe Manuel Lopes de Carvalho Lemos, professor de Gramática Latina e Secretário.

À falta de edifício próprio para a sua instalação, começou o Liceu a funcionar no rés-do-chão do actual Palácio do Governo Civil.

Dali passou para uma casa particular, na rua Avelino Patena, ao tempo propriedade do Dr. Augusto Guilherme de Sousa, que mais tarde foi professor e reitor do mesmo estabelecimento, e desta para outra casa particular, situada na rua do Rossio, conhecida naquele tempo e ainda hoje, pela vulgar designação de Caminho de Baixo.

Por falta de instalações convenientes, o Liceu passou durante cerca de 50 anos, uma vida atribulada, sofrendo na sua constituição as alterações constantes da legislação subsequente à sua criação.

Essa falta de instalações convenientes, para um Liceu suja frequência ia aumentado aumentando, despertou no grande benemérito desta terra Monsenhor Jerónimo Amaral a ideia de mandar construir a expensas suas, um edifício propositadamente para esse fim.

Este edifício, construído segundo as indicações do Dr. Luís Lobato, então reitor do Liceu, compunha-se de 5 salas amplas, destinadas ao funcionamento das aulas, e de duas mais pequenas, para secretaria e gabinete do Reitor.

Era o absolutamente indispensável para poderem funcionar as 5 turmas que então constituíam a lotação do Liceu.

Construído o edifício em 1901, nele se instalou o Liceu em fevereiro do mesmo ano.

Instalações das Ciências Naturais no Liceu

Por um decreto publicado no Diário do Governo, de 20 de Junho de 1911, foi o Liceu elevado a Central.

Como o edifício não tinha instalações suficientes para um liceu desta categoria, as classes dos Cursos Complementares funcionaram numa parte do edifício do antigo colégio, contíguo ao edifício do Liceu, de que era proprietário o mesmo Monsenhor Amaral.

Em 1915, foi este edifício vendido ao Estado para nele ser instalado e Hospital.

Nesta data passaram as classes dos Cursos Complementares a funcionar numas dependências da antiga casa Câmara.

Demolida esta casa em 1916, em consequência da abertura da Avenida Carvalho Araújo, todos os serviços do Liceu tiveram de ser concentrados no seu edifício próprio.

Houve necessidade de multiplicar o número dos aposentos, dividindo-se em duas as salas mais amplas e aproveitando-se a cave do próprio edifício para nela se fazerem umas divisões onde se instalassem as classes dos Cursos Complementares

A elevação do Liceu a Central e o aumento progressiva da população escolar, tornaram absolutamente indispensável a ampliação do edifício.

O primeiro passo a dar para se conseguir essa ampliação, era obter, por parte do Estado, a compra do mesmo edifício, que, como já se disse, era propriedade particular.

Depois de muitíssimas diligências feitas nesse sentido pelo professor Pedro Serra, então reitor do Liceu, conseguiu-se, em fins de 1924, que o Governo adquirisse o edifício onde estava instalado o Liceu, dando para isso, em troca ao seu proprietário, o edifício do antigo Convento de Santa Clara, onde está hoje instalado o Seminário da Diocese.

Contraído o empréstimo para o Ensino Secundário e constituída a respectiva Junta Administrativa em 1928, o reitor Pedro Serra intensificou os seus esforços no sentido de conseguir a ampliação do Liceu.

Como condição sine qua non para se conseguir a ampliação, foi imposta a compra de alguns terrenos adjacentes ao edifício do Liceu, parte dos quais era propriedade do Hospital e constituía a respectiva cerca.

Ao cabo duma luta titânica em que se empenhou o reitor Pedro Serra, foram comprados os referidos terrenos, sendo então encarregado o arquitecto e engenheiro civil Júlio José de Brito, de elaborar o projecto de ampliação do Liceu.

Iniciadas as obras em Setembro de 1932, ficou a construção da ala norte concluída no ano seguinte.

Com a construção desta ala, melhoraram sensivelmente as condições de instalação do Liceu, sem contudo deixarem de subsistir deficiências enormes, que muito convinha remediar.

Pode dizer-se que o Liceu apenas lucrou no que respeita á qualidade das suas dependências, nada tendo lucrado no que respeita ao número delas, pois que, em virtude da ligação da nova ala ao antigo edifício, ficaram inutilizadas 7 salas e gabinetes que até aí eram aproveitados para aulas.

O Liceu Central de Vila Real, a que foi dado, em 1914, por decreto ministerial, o título de «Liceu Central de Camilo Castelo Branco», possui gabinetes de Física, Química e Ciências Histórico-Naturais, que, sem favor, se podem classificar de razoáveis.

A sua Biblioteca, instalada em sala própria, embora a titulo provisório, possui actualmente 2.571 volumes.

Desde 1919 existe neste Liceu a Associação Escolar, que tem prestado relevantes benefícios aos seus associados, auxiliando alunos pobres e distribuindo anualmente importantes subsídios para prémios e excursões escolares.

Por iniciativa do professor Pedro Serra, fundou-se em 1931 um Museu Colonial, que, apesar de estar ainda em via de formação, possui já colecções interessantíssimas de variados produtos das nossas colónias, em geral oferecidas por antigos alunos do Liceu.

Aspeto da Sala Colonial

Outro aspeto da Sala Colonial

O Liceu é frequentado, no ano lectivo corrente, por 366 alunos, sendo 221 do sexo masculino e 145 do sexo feminino.

Vila Real, 12 de Março de 1937

J. ALMEIDA COSTA

Professor e Reitor de Liceu”

In “Portugal Económico Monumental e Artístico" - Fascículo XX (texto editado e adaptado)

Curiosidades:

"LYCEU

A cadeira de litteratura do lyceu d'esta villa foi frequentada este anno por quatro alumnos matriculados e por um ouvinte, ficando todos approvados no exame a que se submetteram.

Não regatearemos louvores a quem os merece com tanta justiça, como o infatigavel professor dr. Henrique Botelho."

"O Povo do Norte" - 1º ANNO - Número 9 - Domingo, 26 de Julho de 1891

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