Vila Real, segundo uma descrição feita em 1863
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Vila Real vista da ponte do Corgo, segundo um esboço do sr. Lopes Mendes (1863) |
Vila Real eleva-se em anfiteatro sobre
uma colina triangular, cujos dois lados são formados pelos rios Corgo e Cabril; e a base que a une ao bairro
da Boa-vista apresenta um plano elevado, que se estende até à serra do Amezio
[Mesio?].
Esta vila,
capital da província de Trás-os-Montes,
foi fundada por el-rei D. Dinis em 1289,
em virtude da resolução tomada na cidade da Guarda, pelas Cortes, em que
tiveram acesso, como procuradores da
cidade de Panóias e seus territórios, Pedro
Lourenço Portocarrero, o Abade de
Santa Maria de Sanfins, e o Abade de
S. Salvador de Mouçós, Gil
Constâncio.
Encerradas as
ditas Cortes, veio D. Dinis examinar o sítio da nova vila, que, merecendo a sua
aprovação, lhe concedeu carta foral com doação amplíssima, datada em Lisboa a
24 de Fevereiro de 1321.
Mandou edificar
a igreja de S. Dinis, e cercar a
vila de muros, que foram demolidos por ordem do Conde de Amarante, Francisco
da Silveira Pinto da Fonseca, cujos materiais aplicou à construção do seu
palácio, situado na rua do Jazigo, em 1816.
O terreno de
Vila Real forma-se de uma colina de sensível declive, que se eleva gradualmente
do lado norte, e vai declinando na direção do cemitério público, construído na
Vila Velha, que constitui a ponta do triângulo, entre os dois rios já
mencionados, a acima do nível destes talvez 300 metros.
O ponto
culminante da vila, a partir do vértice do triângulo, é ocupado pela igreja do Senhor Jesus do Calvário.
É neste sítio
que se faz a feira anual, que
principia no dia 13 de junho, e
termina 8 ou 12 dias depois.
A situação de
Vila Real é deliciosa e saudável; os arredores mui férteis, pitorescos e
vistosos.
O interior da
vila causa admiração pelo cuidadoso asseio de seus largos e ruas.
Alguns
edifícios públicos e particulares, colocados em diversos pontos da vila, são
magníficos.
Contam-se na
vila
- 12 edifícios
religiosos, sendo 2 (??) conventos de freiras e 2 de frades; um destes últimos
acha-se em ruínas por causa do incêndio que padeceu no dia 21 de novembro de
1837.
- 8 igrejas e
um grande número de capelas.
- 1 Liceu, 1
Asilo de Infância, um soberbo Hospital, uma livraria pública, um teatro, 2
passeios públicos, diferentes fábricas e oficinas mecânicas.
O cemitério
público, representado na gravura que vai a pág.125, é uma obra majestosa.
Começou a edificar-se no mês de Novembro de 1841, e foi concluído em 1845.
As cordilheiras
que rodeiam Vila Real, e que a assombram com suas massas gigantescas, imprimem
em todo o aspeto da vila um caráter respeitável e severo.
De todos os
pontos da vila se avistam os cumes de soberbas montanhas (das quais as Rodas do Marão formam o ponto
culminante), que no Inverno suspendem grossas camadas de neve.
As próximas
colinas são a miúdo cortadas por torrentes que se despenham em cascatas
espumosas, apresentando um espectáculo digno da contemplação do artista, que procura
objectos de estudo nas belezas da natureza.
Numerosos
regatos banham o território de Vila Real, que sendo alimentados pelas
nascentes, correm rapidamente das alturas, seguindo todos a mesma direção de
norte para sul, a precipitar-se no rio Corgo.
Qualquer que
seja a estrada que se tenha seguido para chegar a Vila Real, ou se entre pela
famosa ponte de Parada, ultimamente
construída, pela de Almodena, e de Lordelo, ou se desça a montanha
ocidental saindo do Marão, ou se atravesse pelo Norte as belas quintas de S. Mamede e de Montezelos, a
capital de Trás-os-Montes apresenta-se aos olhos do viajante como a rainha das
vilas.
Mas nada iguala
à beleza do ponto de vista que dela se goza quando se desce pela estrada de
Bragança até à ponte de Santa Margarida sobre o rio Corgo.
O desenho que
apresentamos mostra este último ponto de vista.
É Vila Real uma
povoação importante; mas parece que a sua dignidade da capital da província de
Trás-os-Montes se acha ameaçada pela crescente prosperidade do Peso da Régua,
situada a 15 quilómetros de distância para o sul, numa posição pitoresca, nas
faldas de uma montanha toda cercada de vinhas e belas casas de campo, na margem
direita do rio Douro, importantíssima pela riqueza e comércio dos vinhos
denominados do Douro ou Porto. (...)"
Fonte: Fonte:
"Archivo Pittoresco", nº16 – 1863 (texto editado e adaptado)