Vila Real... eterna "Bila", apesar de já ser cidade!

Uma perspetiva de Vila Real, vista de Nordeste.

"Serões", nº32 - 1908
 

“Feita esta apresentação da gente que vai encontrar, nos dias ou horas que permanecer aqui, é tempo de falar de Vila Real.

Há duas quadras, no riquíssimo cancioneiro popular desta região, que muito nos gratificam. A primeira diz

Das cidades é o Porto,
Das vilas Vila Real,
Das aldeias Santa Comba,
Das quintas o Carrascal.

A outra

Ó Vila Real alegre,
Princesa de Trás-os-Montes,
Nos dias que te não vejo,
Meus olhos são duas fontes.

A primeira quadra hierarquiza as povoações, enumerando as que, em cada categoria administrativa, têm a primazia sobre as demais. E lá está Vila Real, reverenciada como a melhor das vilas de Portugal.

Claro que a quadra é de tempos idos, em que Vila Real não tinha ainda ascendido à categoria de cidade, facto que ocorreu apenas em 1925.

Mas, veja, a novel cidade tinha tanto orgulho no nome com que fora fundada, há setecentos anos, que não renunciou a ele: sendo promovida administrativamente, manteve a designação de «vila», com o sereno brio de quem recorda que, quando ainda apenas vila, já então era a «princesa de Trás-os-Montes» (como a segunda quadra refere) e sua capital.

Hoje, Vila Real mantém essa primazia e tem boas razões para esperar que o rolar do tempo lha confirme cada vez mais. É inevitável.

A segunda quadra, de fundo lírico muito mais evidente, sugere que o poeta chora de saudade (seus olhos transformam-se em fontes - de lágrimas, naturalmente, numa saborosa e fresca metáfora bem ao jeito do povo português) nos dias em que tem Vila Real longe da vista.

E o epíteto «princesa de Trás-os-Montes», ao mesmo tempo que significa a primazia a que acima aludimos, significa também a origem real da cidade, nascida, de um acto de vontade dos reis de Portugal.

Foi em 1289, após uma tentativa frustrada de seu pai D. Afonso III, que D. Dinis (o rei mais culto e sábio - e também o pior marido... - que Portugal teve na primeira dinastia), apostado em povoar este território pouco menos que ermo, onde os sinais da antiga importância de Panóias, cidade e circunscrição romana, se iam sumindo no silêncio e no olvido, deu a segunda carta de foral à sua «pobra» de Vila Real, para fazer dela o centro militar e administrativo da região.

Vai em setecentos anos que isso aconteceu: e ainda hoje Vila Real mantém essa dignidade, ampliada, é evidente, com muitas outras que ao rolar dos séculos foi adquirindo.

É pois esta cidade histórica, de tão antigos pergaminhos, que lhe abre as portas com o costumado «entre quem é».

Já verá que vale a pena obedecer a ordem de comando.”

A.M. Pires Cabral, “Vila Real – itinerário mínimo” (texto editado para permitir uma melhor leitura nos telemóveis)

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