Brasões de Vila Real - texto do Dr. Júlio Teixeira
São inúmeros os
brasões em Vila Real, para que se
possam assim tratar num simples artigo.
Para
curiosidade, porém, de muitas pessoas que nunca visitaram esta cidade, vou
procurar localizá-los e descrevê-los o mais sucintamente possível e indicar os
nomes principais dos seus possuidores.
O Palácio da Torre, que foi pertença dos Marqueses de Vila Real, Senhores Donatários e Capitães-Mor de Ceuta,
possui, em vez de brasão, na frontaria do palácio, uma coroa de louros, no meio
da qual está gravada a palavra ALEEO,
como símbolo de toda a nobre família Meneses, de Vila Real.
Muito se tem
dito sobre o significado desta palavra, que, com todas as probabilidades
filológicas, significa pau, cacete, cajado, etc., porque foi com um cacete que D. Pedro de Menezes, 1º Donatário de Ceuta,
conseguiu, sozinho, manter em respeito a moirama que investia aquela cidade,
cacete que é conservado em Ceuta ao lado de Nª Sª de África, na capela do mesmo
nome. [Não passa de uma lenda!]
Como os Marqueses de Vila Real eram senhores
desta antiga vila desde o fim do século XIV até 1641, as armas do Município
tinham, também, além da espada empunhada por um braço, a palavra «Aleeo» cercada por uma coroa de louros.
Eram, pois, as armas dos Marqueses de Vila Real, uma coroa de louros cercando a
palavra «Aleeo».
São estas armas
as que estão no Palácio que aqueles Marqueses possuíam em Leiria, onde eram
Capitães-Mor.
O Palácio do Governo Civil, antigo solar
dos Condes de Amarante, possuía
outrora uma pedra de armas que foi apeada em 1840, quando aquele edifício foi
comprado pelo Estado para nele serem instaladas várias repartições públicas.
Esta pedra de
armas está hoje guardada no Jardim da Carreira.
Nela se leem os nomes Taveiras, Pimentel, Fonseca e Teixeira. Encontra-se este
brasão repetido na fachada do solar que os Marqueses de Castelo Melhor possuíam
em Guiães, povoação deste concelho.
Na casa onde
hoje está instalada a «Pensão Coutinho», há uma pedra de armas, que pertenceu
aos Morgados de Celeirós (entre os
quais houve vários varões ilustres).
Neste brasão
lêem-se os nomes Mourão, Guedes, Teixeira e Magalhães.
Foi um dos mais
proeminentes membros desta família, o Tenente-General Gaspar Teixeira de
Magalhães e Lacerda, 1º Visconde do Peso da Régua, que foi o comandante das
forças miguelistas durante o célebre cerco do Porto.
Na capela de S.
Brás, sede do vínculo do mesmo nome, há uma pedra de armas, encimando uma
sepultura com uma inscrição dedicada a João
Teixeira de Macedo, conquistador de Vilvestre aos mouros, que era o
primitivo brasão dos Morgados de S. Brás
e de Santa Maria da Feira de Constantim.
Este brasão
encontra-se repetido na casa que aqueles morgados possuíam na Rua Central, onde hoje está instalada a
Associação Comercial.
Depois de
várias ligações matrimoniais estes morgados possuíam em Vila Real vários edifícios
brasonados, segundo a sua origem.
Estes dois
citados pertenciam aos Teixeiras de Macedo.
O brasão com os
nomes Teixeira e Coelho, que está no
supedâneo de um dos altares da Igreja de
Constantim e ainda no portão de entrada do adro, veio para a família
daqueles morgados dos descendentes de Egas
Moniz, senhores de Cergude e Fermedo.
O que está,
também, na Rua Central, na casa onde
está instalado o Bazar dos Três Vinténs, pertenceu aos Morgados de Abaças, ligados, por casamento, à Casa de S. Brás.
Neste brasão se
leem os nomes Pereira, Pinto, Correia e Mesquita.
A pedra de
armas da Capela do Espírito Santo,
capela do antigo Hospital-Albergaria de
Gonçalo Cristóvão, hoje trasladada e reconstituída na Quinta de Prados, tem gravados os principais nomes dos quatro ramos
da família de S. Brás.
No primeiro
quadrante, a cruz dos Teixeiras, dos Senhores da Teixeira e morgados de S.
Brás; no segundo, os Coelhos, Senhores de Fermedo e Cergude, Comendadores de
Telões e de Vieira e Morgados de Santa Maria da Feira de Constantim; no
terceiro, os Pintos, dos Correias da Mesquita Pinto, Morgados de Abaças e
Senhores dos vínculos de Prados e Mata-Cristos e no quarto os Mellos, dos
Noronhas e Melos, Fidalgos do Bonjardim e Senhores da Quinta da Prelada, no
Porto.
A capela de S. Brás é, ainda hoje, jazigo
dos descendentes dessa nobre família.
No átrio do
Governo Civil, existe uma pedra de armas, dos Guedes, que foi apeada dum
edifício demolido quando da construção dum dos pavilhões do Hospital da Misericórdia.
Pertenceu aos
Morgados de Vila Cova, cujos descendentes vivem hoje em Elvas e Lisboa.
Estes morgados
eram senhores riquíssimos, possuindo, por instituição vincular, anexa à sua
residência, uma colegiada, a Colegiada
de Sant'Ana, com cinco padres colados e um capelão, sustentados pelos
rendimentos do Morgadio.
A capela é hoje
privativa do Hospital da Misericórdia.
A casa do Arco,
na Rua António de Azevedo, ainda
ostenta hoje as armas dos Morgados do Arco, Senhores do Património de Mouçós.
Neste brasão se
leem os nomes dos Pereiras, Fonsecas ou Coutinhos (dos Morgados de Alcongosta),
Lagos (de Braga) e Pintos (dos Senhores de Balsemão).
Outras casas
brasonadas se encontram em Vila Real dignas de nota
As casas da Rua Nova, uma dos Amorins, que
desapareceram desta cidade com as lutas miguelistas; e outra dos Pereiras
Pintos, ramo dos Pintos de Balsemão.
Numa casa do Caminho de Baixo e num dos seus salões,
existe um belo brasão em talha, que foi do Arcebispo
da Baía e Primaz das Américas, D. Luiz Alves de Figueiredo, grande
protector do Convento de Santa Clara,
desta cidade.
Na Rua das Pedrinhas, contam-se hoje três
pedras de armas: uma, dos Morgados de Ferreiros, que pertence agora à família
dos Viscondes de Almeida Garrett; outra, dos Lacerdas de Murça, e uma outra dos
Pereiras Pintos de Azevedo, de que é presentemente representante o sr. D. José
de Lencastre, de Sanhoane.
Muitos outros
brasões de alguma importância há dentro da cidade e no concelho, que mereciam
descrição; mas o espaço aqui reservado, para esse fim, é exíguo demais.
Consola-nos,
porém, a esperança de o podermos fazer um dia, em publicação especial.
Como nota
interessante, salientemos, por último, que são ainda em número de 72 as casas
brasonadas de Vila Real, o que constitui um belo símbolo da antiga nobreza
desta vila.
Júlio Teixeira