Vila Real – Roteiro de Gastronomia e Vinhos


Roteiro de Gastronomia e Vinhos

Maronesa DOP

A Carne Maronesa DOP é obtida a partir de bovinos da raça Maronesa, provenientes da área delimitada pelas serras do Marão, Alvão e Padrela.

Trata-se de uma carne de gordura branca a branco-marfim, conforme se trate de vitela ou animal adulto. O músculo possui cor rosa a vermelha-escura, também de acordo com a idade do animal.

A raça Maronesa define-se como uma raça de montanha, primitiva, natural e rústica. Tem como principais particularidades físicas a pelagem castanha-escura a negra e o tufão de cabelo na cabeça, de cor mais clara.

Estes bovinos são responsáveis pelo aroma simples e delicado, extremamente saboroso e suculento da carne Maronesa DOP.

Esta pode apresentar-se como:

- "carne de vitela", quando os animais são abatidos entre os 5 e os 9 meses de idade e peso entre os 75 e 130 kg;

-  "carne de novilho", quando possuem entre 9 a 24 meses, com peso mínimo de 130 kg;

- por último, "carne de vaca", carcaça de animais abatidos entre os 2 e os 4 anos de idade, com peso compreendido entre os 200 e os 300 kg.

Os bovinos são criados em sistema de agricultura tradicional, servindo como meio de fertilização aos solos. O regime de maneio tal como a dieta dependem da idade dos animais.

Assim, as crias são alimentadas exclusivamente de leite materno até aos 2/3 meses. Após este período é adicionado feno, farinha de milho, simples ou misturada com batatas e erva tenra.

Já os animais adultos encontram-se em regime misto de alimentação. Estes são alimentados maioritariamente ao ar livre, mas também em estábulo, quando as condições atmosféricas se
encontram mais adversas à reprodução de pastagens.


Receita

Ingredientes para a base:

- 1 ou várias porções de carne de vitela maronesa

- sal grosso q.b.

Para o molho (opcional):

- 1 dente de alho

- 1 malagueta

- azeite e vinagre q.b.

- sal e louro q.b.

Modo de preparação:

Corte a carne em quatro nacos com uma espessura de 3 a 4 cm, com cerca de 300 g cada.

Coloque a carne na grelha sem tempero nenhum. Tempere depois com sal grosso a gosto.

Quando começarem a surgir pequenas gotas de sangue à superfície, vire a carne, sem a picar, a fim de se manter suculenta.

A carne só deve ser virada uma vez.

Tradicionalmente, a carne é servida mal passada, mas é a gosto de cada um.

Ao virar a carne, o lume deve estar forte, para que se crie uma crosta que impeça a saída dos sucos internos.

Contudo, a crosta não deve ser espessa, para que o calor penetre uniformemente na carne, caso contrário ficaria queimada por fora e mal grelhada por dentro.

Quando a carne estiver pronta, retire-a e coloque-a numa travessa, mantendo-a junto do calor, para que deixe escorrer o molho, que será depois aproveitado.

Para o molho, comece por picar o dente de alho. Mexa bem todos os ingredientes, por fim, acrescente o molho da carne.

Acompanhe a carne com batata cozida com casca e grelos salteados. As batatas são regadas com um pouco de molho usado na carne.



Tripas aos Molhos

Descrição das suas principais caraterísticas: Enrolar pedaços de bucho e tripa de vaca com presunto e um ramo de salsa no meio.

Cozinhar por um par de horas para que fique tenra e saborosa.

Onde nasceram as Tripas aos Molhos?

"O Fernanda, você que tem um tasco, quer levar as tripas e experimentar cozinhá-las?"

A sugestão foi dada por uma cunhada, dona de um talho.

Fernanda aceitou a oferta e experimentou enrolar o bucho e o intestino da vaca, partes que até então não tinham qualquer utilização, com presunto e salsa. Um acaso feliz.

Assim nasceram as famosas Tripas aos Molhos, o prato mais característico do Chaxoila e cuja receita começou a ser replicada por outros restaurantes, tornando-se em pouco tempo uma das maiores especialidades da capital transmontana.

"A tripa era muito bem lavada, com água a ferver e passada muitas vezes por água e limão para apagar qualquer sabor desagradável.

Fazia o mesmo com o bucho (estômago) da vaca.

Depois, cortava o bucho aos quadradinhos e acrescentava a cada quadrado um pedaço de presunto com a grossura de um dedo e um pezinho de salsa.

Enrolava tudo com a tripa fina finalizando com um laço...", conta a Fernanda.


Receita

Ingredientes:

- 1 Kg de bucho de vitela (estômago)

- 150 g de presunto

- 1 dl de azeite

- 3 cebolas grandes

- Tripa fina de vaca

- 35 g de banha (*)

- 1 ramo de salsa

- 2 colheres de sopa de polpa de tomate (*)

- 1 colher de chá bem cheia de colorau

- 1 cálice de aguardente velha

- 2 dl de vinho branco

- 1 folha de louro

- 2 dentes de alho

- piripiri e sal

(*) De acordo com informação fornecida pelo Sr. Pedro Luís R. Simões e de outros leitores do blogue, estes ingredientes não fazem parte da receita original desta iguaria, pelo que sugerimos que não os considerem quando confeccionarem "Tripas aos Molhos", originalmente conhecidas por "molhinhos de tripas".

Modo de preparação:

Limpa-se muito bem o estômago, retirando toda a gordura do interior.

Lava-se bem a tripa de vaca, abre-se ao meio, lava-se em várias águas, raspa-se toda a parte inferior e esfrega-se com sumo de limão e sal.

Corta-se o estômago aos quadrados de cerca de dez centímetros.

Corta-se o presunto às tiras e em cada quadrado coloca-se uma tira do presunto e um raminho de salsa.

Enrola-se e ata-se com a tripa fina bem apertada, com dois ou três nós.

Cobre-se o fundo do tacho com a cebola cortada às rodelas grossas, os dentes de alho picados, a polpa de tomate, o vinho, a aguardente e a folha de louro, por cima colocam-se os molhos e cobrem-se com a restante cebola.

Em seguida, junta-se o azeite, banha, colorau e piripiri.

Tapa-se o tacho e deixa-se estufar em lume brando até ficarem bem cozidas e o molho bastante grosso.

Acompanha-se com arroz de forno.

Covilhetes

Os covilhetes, espécie de empadas de carne, hoje tão divulgadas e representativas da gastronomia vila-realense, devemos nome ao seu formato.

Tinham a sua tradição ligada à Festa e Feira de Santo António, mais tarde também às Festas de Senhor do Calvário e da Senhora da Almodena, ocasiões praticamente únicas em que eram comercializados em barracas montadas para o efeito.

Eram igualmente comidos pelo Carnaval.


Receita

Ingredientes para a massa:

- 400g de farinha

- água e sal

- manteiga

Modo de preparação:

Amasse muito bem a farinha com água e sal, até se poder estender (não deve ficar muito mole).

Estende-se a massa com um rolo até ficar fininha e barra-se com a manteiga derretida (conforme se vai enrolando fica um rolo de massa) com uma faca muito afiada, corta-se o rolo em rodelas com cerca de meio centímetro de largura.

Forra-se a parte inferior das formas com a massa das pontas do rolo, ajeitando a massa com as mãos.

Recheia-se com picado de carne.

Cobre-se com rodelas de massa.

Vão ao forno brando a cozer.

Para o recheio:

- 400g de carne de vaca

- 50g de presunto

- 1 ramo de salsa

- meia cebola pequena

- 3 colheres de sopa de azeite

- 1 colher de chá de farinha

- sal

Modo de preparação:

Cozem-se as carnes, passam-se pela 123.

Faz-se um refogado com a cebola picada o azeite mistura-se a carne e a farinha e se necessário deita-se um bocadinho de água da cozedura da carne para não ficar seco.

Tempera-se com sal e deixa-se apurar.

O picado só se aplica quando estiver completamente frio.




As Cristas de Galo

As Cristas de Galo são um pastel conventual e elaborado de forma artesanal, típico da cidade de Vila Real, cujo formato é exatamente o de uma crista de galo.

A massa é recheada com doce à base de amêndoa e ovos.

Depois da cozedura no forno e prontos, os pastéis são polvilhados com açúcar.

Os pastéis de toucinho, também conhecidos por pastéis de Vila Real e, mais recentemente, por cristas ou cristas de galo, são uma criação das monjas do Convento de Nossa Senhora do Amparo, da Ordem de Santa Clara e certamente uma das especialidades mais representativas da doçaria conventual vila-realense.

Os pastéis de toucinho (às vezes impropriamente chamados de toicinho-do-céu) eram consumidos no convento na 5ª feira gorda (a seguir ao Carnaval) e confecionados igualmente nos momentos em que se distribuíam as «obrigações» que o convento teve e manteve ao longo de toda a sua existência, e estavam consignadas por escrito.

Na véspera da festa de Santa Clara, no Sábado de Ramos e no dia do patriarca da regra de São Domingos (que tinha um convento em Vila Real), saíam as criadas do convento com enormes
tabuleiros, caixas e malgas, a fazer distribuição dos pastéis e outras especialidades pelos elementos do Senado Municipal, pelas justiças, pelos serventuários do convento (médico, sangrador, capelão, acólitos, sacristão, pregador da Quaresma, procurador), pelo prior de São Domingos, pelo boticário, serralheiro, cerieiro, marchante, ouvidor, juiz de fora, vigário gera, síndico e mais justiças que na ocasião se achassem em Vila Real.


Receita

Ingredientes (para 3 dúzias) para a massa:

- farinha (correspondente à atual nº 65)

- manteiga 150g

- 2 ou 3 ovos inteiros (conforme o tamanho)

- sal

- banha para untar e açúcar para polvilhar

Para o recheio:

- 100g de amêndoa

- 8 ovos (6 gemas e 2 inteiros)

- açúcar 250g

- 1 pedaço de toucinho gordo

- canela para polvilhar

- água

Modo de preparação:

Deita-se a farinha numa taça, onde se misturam os ovos previamente batidos e a que se juntou uma pitada de sal.

Em seguida, junta-se a manteiga previamente derretida, sem, no entanto, ferver.

Depois de tudo misturado, deixa-se a massa descansar durante uma hora.

Modo de confecionar o recheio:

Põe-se ao lume o açúcar juntamente com um pouco de água e o toucinho.

Quando atingir o ponto de pérola, junta-se a amêndoa previamente descascada e moída, deixando ferver mais algum tempo.

Em seguida, junta-se os ovos e deixa-se cozer um pouco mais.

Por fim, tira-se o preparado do lume, retira-se dele o toucinho e polvilha-se com canela.

Com a massa fazem-se umas bolas que se tendem ate ficar uma folha muito fina.

Coloca-se o recheio sobre a massa, perfura-se a parte que se vai dobrar, dobra-se, faz-se pressão sobre os bordos para fazer aderir a massa e corta-se em meia-lua com uma carrilha.

Por fim, untam-se os pastéis assim obtidos com banha e polvilham-se com açúcar.

Vão a cozer em tabuleiro untado com manteiga.

Pitos de Santa Luzia

Bolos preparados com massa tenra feita com farinha, açúcar, banha, ovos e sal, tendo 6cm de lado, com cerca de 3 cm de altura.

Os bolos têm mais ou menos a forma de pirâmide quadrangular ou trouxa da lavadeira, já que são feitos a partir de um quadrado de massa cujas pontas são repuxadas para o centro e para cima.

A massa tenra é recheada com doce de abóbora e canela (preparado com abóbora e açúcar, sendo o açúcar metade do peso da abóbora, e condimentado com canela e pimenta).

Conta-se que os pitos de Santa Luzia foram inventados por Ermelinda Correia, que veio a ser mais tarde a Irmã Imaculada de Jesus.

"Esta senhora tinha um defeito: era muito gulosa". Este facto obrigou os seus pais a enclausurarem-na no convento de Santa Clara, na esperança de transformar o pecado em virtude.

A Irmã Imaculada tornou-se devota de Santa Luzia, padroeira dos cegos e das coisas da vista.

Um certo dia, estava a irmã a aplicar os curativos nos seus doentes (feridas, contusões e inchaços nos olhos), com uns pachos de linhaça, que eram uns quadrados de pano cru onde se colocava a papa, dobrando as pontas para o centro para não verter a poção, usados como pensos para os ferimentos, quando de repente teve uma visão.

Correu para a cozinha e fez a massa de farinha e água e cortou-a em pequenos quadrados.

Tinha consigo o cibo do açúcar que Ihe cabia na ração e fez uma compota de abóbora.

À imagem dos pachos dobrou a massa por cima da compota e levou ao forno a cozer.

A seguir despachou-se a escondê-los, pois estava proibida de ser gulosa.

No caminho cruzou-se com a madre superiora que era cega.

A madre perguntou, desconfiada, o que levava no tabuleiro, cheirando o perfume adocicado a Irmã Imaculada apressa-se a responder que são pachos de linhaça para os doentes do dia seguinte.

À noite na cela, a Irmã Imaculada sossegou a alma e nem sequer se sentia culpada, pois sempre ouviu dizer que "do que não se vê, não se peca".

Foi assim que os pitos de Santa Luzia lhe foram consagrados e, como tal, testemunha a festa que ainda nos dias de hoje, a 13 de dezembro, na capela de Vila Nova, às portas da cidade, mantém a tradição.


Receita

Ingredientes para a massa:

- 300g de farinha

- 50 g de açúcar

- 75 g de banha

- leite q.b.

Para o recheio:

- 12 gemas

- 400 g de doce de abóbora

Modo de preparação:

Prepare a massa, misturando a farinha coma a banha, o açúcar e o leite necessário para obter uma massa consistente.

Forme uma bola com a massa, polvilhe-a com a farinha e deixe repousar durante 30 minutos.

Durante o tempo de espera, prepare o recheio, misturando bem o doce de abóbora com as gemas.

Leve o preparado ao lume e deixe apurar até fazer estrada (ao passar a colher no doce, vê-se o fundo da panela).

Reserve e deixe arrefecer completamente.

Estenda a massa com um rolo de cozinha, deixando-a com um pouco de espessura, e corte em quadrados com cerca de 8 cm.

No centro destes, coloque uma colherada de recheio, já frio, e junte as 4 pontas ao centro (formando uma espécie de trouxa).

Vão ao forno num tabuleiro.

Cavacórios

Os Cavacórios apresentam-se em forma côncava, semelhantes a uma taça que, conjuntamente com as Bexigas, fazem parte dos doces típicos das festas em honra de São Lázaro, que é considerado o protetor contra as doenças de pele (varíola, bexigas e outras).


Receita

Ingredientes:

- Ovos

- farinha

- óleo

- uma pitada de sal

Modo de preparação:

Colocam-se, na batedeira, a farinha, o óleo e o sal.

Depois junta-se ovo a ovo, lentamente, até a massa ficar mole e escorrer.

Esta "massa aguada" descansa cerca de uma hora.

Com um saco de pasteleiro, é distribuída pelas formas onde se fazem os pastéis e vai ao forno.

Decorridos aproximadamente 20 minutos, é retirado do forno, apresentando o seu traço diferenciador: a forma côncava.

Deixa-se arrefecer o cavacório e passa-se à fase seguinte: o revestimento com fondant (pasta especial feita de açúcar para cobrir e rechear bolos, sendo açúcar em ponto e água que depois fica com aspeto esbranquiçado).

Por fim, tem-se um bolo seco, rígido e doce.

Um paladar que poderá intensificar-se, seguindo a sugestão de acompanhar o cavacório com
Vinho do Porto.

Ganchas de São Brás

A 3 de Fevereiro de cada ano, faz-se uma festa em honra de São Brás na igreja de São Dinis, em Vila Real, em que os que fazem ou cumprem promessas dão a volta ao cemitério, as arrecuas, "sem abrir a boca ou dizer palavra para não entrar enguiço”.

A esta tradição está ligada a de Santa Luzia quando, a 13 de dezembro, as raparigas compram Pitos para oferecer aos rapazes.

Estes retribuem o presente a 3 de fevereiro, dando Ganchas às raparigas, simbolizando talvez "um gancho para apanhar raparigas com vontade de namorar".


Receita

Ingredientes:

- açúcar

- água

- limão q.b. (opcional)

Preparação:

Deitam-se todos os ingredientes num tacho que se leva ao lume para se obter o ponto de rebuçado.

Deita-se o preparado num tabuleiro untado com manteiga e deixa-se arrefecer um pouquinho.

Com as mãos forma-se então uma gancha.

Depois decore-as com papéis coloridos.

Vinhos de Vila Real

Protegida dos ventos atlânticos pelo maciço montanhoso do Marão, a bacia hidrográfica do Baixo Corgo, formada por vales agrestes e apertados, dispõe de um microclima singular que, aliado à natureza do seu solo xistoso, permite que as vinhas cultivadas por processos tradicionais, produzam uvas de excelente qualidade.

No século XVIII, em 1756, as características únicas da região levam o Marquês de Pombal a instituir a Região Demarcada do Douro, a primeira região do mundo a ser definida e regulamentada com vista a proteger as qualidades inimitáveis dos vinhos aí produzidos.

No entanto, é importante referir que estas características únicas do vinho, só são possíveis graças ao espírito de sacrifício das gentes da região, que, com a sua persistência e à custa de muito sofrimento, têm tido a coragem de domar a geografia difícil do território, sabendo retirar dela o melhor proveito.

Importa ainda mencionar que o concelho de Vila Real dá imagem a vários vinhos cuja qualidade é conhecida e reconhecida internacionalmente.

Exemplo disso é o famoso Mateus Rosé, que desde a sua origem traz no rótulo a célebre Casa de Mateus e, mais recentemente, os vinhos da Adega de Vila Real, distinguida nacional e internacionalmente em diferentes concursos da especialidade.



Fonte: Folheto turístico publicado pela CM de Vila Real

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